Patente no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a partir de sábado, “Evidence” foi criada originalmente para o Centro Pompidou, em Paris, e reformulada para o MAC/CCB.

Hoje, numa visita para os jornalistas a “Evidence”, a artista norte-americana Patti Smith e o artista francês Stephan Crasneanscki, fundador do Soundwalk Collective, recordaram que a mostra sucede ao triplo álbum “Perfect Vision”, editado em 2022, inspirado em escritos de viagens dos poetas franceses Antonin Artaud (1896-1948), Arthur Rimbaud (1854-1891) e René Daumal (1908-1944).

O álbum junta gravações na Sierra Tarahumara, no México, na Abissínia, na Etiópia, e nos Himalaias, na Ásia, onde Stephan Crasneanscki reconstituiu os passos dos poetas, à voz de Patti Smith.

Patti Smith

Dos três locais, além dos sons e vídeos, Stephan Crasneanscki trouxe também materiais, que se veem na exposição, entre os quais fragmentos da cordilheira, madeira da Etiópia e terra vermelha e peiote do México.

Em “Evidence”, é também partilhada a “viagem mental” de Patti Smith ao “ouvir as gravações e tocar nos objetos”, explicou a própria aos jornalistas.

“Todas estas coisas funcionam juntas para dar uma ideia das viagens destes três escritores, das viagens do Stephan e das minhas viagens mentais, ao ouvir as gravações que ele fez e olhar e sentir estes materiais. Tocar uma montanha que nunca vou ver, mas pude sentir”, resumiu a artista.

Para entrar em todas estas viagens, o visitante é convidado a colocar uns ‘headphones’, através dos quais vai ouvindo sons e palavras diferentes à medida que se desloca na sala e se vai aproximando de vários núcleos de materiais.

“Sempre que te moves crias o teu escape de som. Esqueces-te de tudo e estás presente”, referiu Stephan Crasneanscki.

Em duas das paredes são projetadas imagens captadas nas viagens, e numa outra foi criada uma ‘parede de investigação’, pensada pelos dois no chão do estúdio de Stephan Crasneanscki, em Nova Iorque, e na qual o cofundador do Soundwalk Collective e Patti Smith foram colocando poemas, desenhos, fotografias, objetos e documentos.

“É um mapa do nosso processo”, referiu Patti Smith, revelando que naquela parede estão “meses, anos de material” que retratam “alguma da beleza e caos dos três” poetas.

No canto esquerdo da parede, foi recriado o ateliê de Patti Smith, onde a artista fez alguns dos desenhos expostos.

Patti Smith

A secretária ali colocada, uma secretária de viagem, pertenceu ao poeta e pintor português Mário Cesariny.

Os artistas tinham pensado na hipótese de ter uma secretária na exposição e o MAC/CCB propôs a secretária de viagem de Cesariny.

Patti Smith partilhou que quando a viu apaixonou-se logo: “Podes sentir o poeta lá sentado, vê-lo depois a arrumar tudo e a seguir para outra viagem”.

No final da conversa com os jornalistas, Patti Smith regressou à exposição e esteve a desenhar, sentada à secretária.

Numa viagem que se quer contemplativa, há locais onde o visitante se pode sentar para absorver o que está à volta.

Um dos curadores da exposição, Jean-Max Colard, falou numa “experiência espiritual”, que começa numa antessala, onde, já com os ‘headphones’ postos, o visitante pode ler conversas de Stephan Crasneanscki e Patti Smith sobre os poetas.

De acordo com a outra curadora da exposição, Chloé Ciganos, o catálogo da mostra inclui as conversas originais, bem como o processo da ‘parede da investigação’.

“Evidence: Soundwalk Collective & Patti Smith”, que estará patente até 15 de setembro, integra o novo festival Belém Soundcheck, que acontece entre quinta-feira e domingo no CCB.

Este festival, que será bienal, tem uma programação apontada para vários públicos, com quatro dias de concertos que vão "do fado à música erudita, do jazz à eletrónica, das músicas do mundo às sonoridades exploratórias", como descreve o CCB.

No mesmo dia em que “Evidence” é inaugurada, Patti Smith atua com os Soundwalk Collective no Grande Auditório, num espetáculo já esgotado e que se vai repetir no Theatro Circo, em Braga, no domingo.

De acordo com Patti Smith, “a performance não está ligada com a exposição”.

“É o nosso trabalho futuro. Queremos dar um espetro alargado do que estamos a fazer, e que toca em muita coisa”, disse.

A artista revelou que uma parte da performance de sábado “é um monólogo”, durante o qual serão mostradas imagens do filme “Medeia”, de Pier Paolo Pasolini e protagonizado por Maria Callas.