Em cena até domingo, a peça reúne em palco 12 atores para um espetáculo de cerca de duas horas, explicando Marcos Barbosa, sobre a encenação com dramaturgia de Jacinto Lucas Pires, que optou por ela “por achar que é uma peça muito injustiçada, muito pouco querida pelas pessoas do teatro, pelos académicos e pelos estudiosos do [seu autor, William] Shakespeare”.
“É uma peça que pega numa figura histórica, o rei João, que não é muito querida pelos ingleses, […] que representa tudo o que um líder não deve ser”, acrescentou o também ator, que a caracterizou como “muito próxima” da realidade atual, quando se está perante “lideranças fracas e débeis, quando acontecem pandemias, guerras e as coisas vão ficando tristemente na mesma”.
Escrita entre 1594 e 1596, “A Vida e Morte do Rei João”, no título original, é uma peça histórica que dramatiza o turbulento reinado de João Sem Terra (1199-1216). Tendo as vicissitudes da guerra entre França e Inglaterra como nó central, o drama levanta um conjunto de questões que, ontem como hoje, permitem avaliar o estado da nação, lê-se na informação distribuída aos jornalistas.
Antecipando tratar-se de uma peça com “muito humor pelo meio”, mas onde se assiste a “uma crítica fortíssima feita pelo Shakespeare ao papel do Vaticano”, o texto surge, por isso, como “uma espécie de espelho da realidade”.
“É uma espécie de apelo, dizendo que estas histórias têm a ver connosco e o coro que aqui está é uma espécie de espelho do público. Estamos a ouvir esta história para na vida respondermos e o teatro tem de ser um motor de transformação”, reiterou Marcos Barbosa.
Sublinhando que a ideia não é fazer com que as pessoas saíam do teatro e “façam um tumulto”, mas sim que depois “venha a contracena” algo que “obrigue a agir e que não se tolerem chefias fracas” e que se “exija mais dos líderes”.
A peça começa com uma aparição da máscara de Mark Zuckerberg (presidente da Meta, dona de Facebook e Instagram), intervenção que o encenador classificou de “um piscar de olho ao presente”, onde há “empresas que estão acima dos estados, que se recusam a seguir as indicações desses estados no cumprimento da lei, os macropoderes que de repente surgem e que tem influência direta na vida das pessoas”.
Concluindo haver, neste contexto, “uma certa passividade […] que pode ser alterada”, Marcos Barbosa disse que o seu “Rei João” faz “um apelo à participação cidadã”.
“Esta peça faz parte do processo da Escola do Largo para chegar ao ‘Hamlet’ e usa recursos das três peças anteriores: ‘Aqui somos todos Lázaros’, ‘Coveiros’ e ‘Hamlet vírgula Macbeth’”, contou.
“O Rei João” pode ser visto quarta-feira, quinta-feira e sábado, às 19h00, sexta-feira, às 21h00, e domingo às 16h00. Os bilhetes custam 10 euros.
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