Este é, segundo a editora, o livro de poesia mais vendido nos EUA na segunda metade do século XX e “uma crítica sã a uma América transformada em grotesco parque de diversões, num horizonte de ‘pradarias sedadas, subúrbios de supermercados e catedrais protestatárias’”.
“Uma Coney Island da Mente” (original de 1958) é uma “metáfora e alegoria da vida moderna”, pelo autor da ‘Beat Generation’, que ousou editar os seus contemporâneos e fundar a casa livreira City Lights, em São Francisco.
A obra está dividida em três partes, a primeira das quais reúne o conjunto de poemas que dá título ao livro, “A Coney Island of the Mind” (no original), retirado de um conto de Henry Miller.
Como explica o autor, numa pequena nota introdutória, o título do livro é retirado do conto “Into the Night Life”, de Henry Miller, e é usado fora do contexto, mas expressa o modo como se sentia em relação a estes poemas quando os escreveu: “como se, em conjunto, formassem uma espécie de Coney Island da mente, uma espécie de circo da alma”.
A segunda parte, “Mensagens Orais”, foi escrita para ser ouvida ao som de jazz, e inclui poemas como “Estou à Espera”, “Obbligato do Sucateiro” e “Cão”.
“Estes sete poemas foram concebidos especificamente para serem acompanhados com jazz, devendo assim ser considerados ‘mensagens orais’ espontaneamente proferidas, em vez de poemas escritos para a página impressa”, escreve Lawrence Ferlinghetti.
O autor refere ainda que os poemas “Autobiografia” e “Obbligato do Sucateiro” se encontram na gravação em LP n.º 7002 da discográfica Fantasy, “Poetry Readings in the Cellar”, que fez com o poeta e tradutor Kenneth Rexroth (1905-1982) e com o Cellar Jazz Quintet de São Francisco.
A terceira parte do livro é uma seleção de poemas retirados do seu primeiro livro, “Pictures of the Gone World”, publicado em 1955, na coleção Pocket Poets.
“Refletindo sobre o ofício do poeta, acrobata ‘sempre a arriscar o absurdo’, numa sociedade massificada que lhe torceu ‘o arame da invenção’, este volume destila uma liberdade e irreverência que o convertem num clássico da poesia contemporânea”, considera a editora.
Considerado o patrono anarquista dos poetas norte-americanos, Lawrence Ferlinghetti (1919-2021) tornou-se pacifista depois de testemunhar a destruição de Nagasaki, postura que cultivaria toda a vida, a par de uma salutar desconfiança dos poderes instituídos.
Em 1953, fundou a Livraria City Lights, em São Francisco, palco da contracultura beat e de leituras acompanhadas de jazz e álcool pela noite adentro, onde figuras como Jack Kerouac e William S. Burroughs marcaram presença.
Editor de Charles Bukowski e de Paul Bowles, publicou “Uivo” (1956), de Allen Ginsberg, que o levaria à barra do tribunal num processo histórico pela liberdade de expressão nos Estados Unidos.
Autor de mais de quarenta obras, Ferlinghetti quis – nas palavras da editora – libertar a poesia do mofo da academia e dar voz a autores necessários.
Por isso, afirmava: “Não me dei conta de que era poeta, dei-me conta de que tinha algo a dizer”.
Além deste livro que agora se publica, estão editados em Portugal “A boca da verdade” (1986), numa edição do autor e do tradutor, “Como eu costumava dizer” (1972), pela Dom Quixote, “A poesia como arte insurgente” (2016), pela Relógio d'Água, e “Rapazinho” (2019), pela Quetzal.
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