Esta é, para já, uma das principais novidades da participação de Portugal como país convidado de honra da Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara, no México, para a qual ainda não há programação, disse à Lusa a comissária da participação portuguesa no certame, Manuela Júdice, que iniciou funções no dia 15 de setembro.

O programa especial de apoio à tradução, à ilustração e à edição, criado pelo Instituto Camões e pela Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), vai contemplar editores mexicanos primeiro e a América Latina a seguir, para a tradução e edição em espanhol de obras de escritores de língua portuguesa, com exceção do Brasil, que já foi país convidado.

Dez anos depois do primeiro convite, o Governo português aceitou este ano participar, “na base de que isto não é apenas mais uma feira do livro, é um projeto nacional”, a partir do qual se pretende “promover a economia portuguesa, as exportações portuguesas, o país, o turismo, além da cultura, e muito concretamente além do livro”, explicou a comissária, secretária-geral da Casa da América Latina.

A feira decorre de uma decisão da Universidade de Jalisco e é condição que o país convidado tenha também uma participação científica.

“Há uma grande aposta em mostrar o que há de novo, o que há de importante na universidade portuguesa, os investigadores, professores, cientistas que Portugal tem e que são muito desconhecidos daquele lado do mundo”, disse.

Não havendo projeto concreto, as bases programáticas são, em primeiro lugar, o texto, a presença de um certo número de escritores, de editores, de cientistas e uma série de espetáculos, tudo isto com um orçamento de 2,5 milhões de euros, “que é um esforço grande a nível nacional, mas que, em relação ao projeto, não é famoso”.

Outros dados que Manuela Júdice já tem, à partida, são que terá de organizar um espetáculo para 12 mil pessoas, pelo que terá de ser um espetáculo musical. Garantido tem também que não haverá um espaço infantil no pavilhão de Portugal, porque Guadalajara tem a FIL Niños, que já convidou os ilustradores André Letria, André da Loba e Afonso Cruz.

Haverá também ‘workshops’ de edição, em que as editoras participantes são pequenas e escolhidas por concurso, sendo que, para 2018, foi escolhida a Orfeu Negro.

Quanto a escritores portugueses participantes, ainda não há nomes.

Manuela Júdice está a fazer o levantamento do que já está publicado no México, quer com apoio português, quer sem apoio, como é o caso de José Saramago, António Lobo Antunes, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa, escritores que os editores sabem à partida que têm vendas garantidas e, por isso, “lançam-se na sua publicação, sem pedir apoios ao Estado português”.

Entre as obras editadas com apoio do Governo português, contam-se as de autores como José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Nuno Júdice, Mia Couto e José Eduardo Agualusa, entre outros.

Afirmando que o grosso dos pedidos das editoras “se concentra numa dezena de escritores”, Manuela Júdice confessa que gostaria de alargar o leque – “porque a literatura portuguesa é das mais pujantes” – a nomes como David Mourão-Ferreira ou Vergílio Ferreira, que não têm expressão na América Latina.

No sentido contrário, tirando os escritores mexicanos Otávio Paz, relativamente conhecido em Portugal pela divulgação que fez de Fernando Pessoa, e Carlos Fuentes, Manuela Júdice sublinha que há nomes que mereciam maior divulgação, nomeadamente na área da poesia.

“Não há uma boa antologia da poesia mexicana publicada em Portugal, é pena. Existe uma boa antologia da poesia colombina, não existe isso em relação ao México”, afirma, destacando que, inclusivamente, há autores mexicanos “muito interessados na poesia portuguesa”.

É o caso de Blanca Luz Pulido, que tem traduzido Ana Luísa Amaral, Nuno Júdice e Fiama Hasse Pais Brandão, ou de Marco António Campos, “grande poeta mexicano que também tem feito muito pela divulgação da poesia portuguesa no México”.

Em relação à América Latina, no geral, a aposta da responsável vai para escritores como Juan Manuel Roca e Juan Gabriel Vasquez, Eduardo Galeano ou os 'clássicos' como Mário Benedetti, Álvaro Mutis e Mempo Giardinelli.

Até lá, todos os encontros literários, como o Festival Internacional Literário de Óbidos (Folio), que se realiza na segunda quinzena de outubro, ou a feira de Frankfurt, a decorrer na Alemanha esta semana, serão oportunidades para estabelecer contacto com escritores e editores, com vista a Guadalajara.

Manuela Júdice está decidida a trabalhar para a “perfeição” e confessa que gostaria que Portugal deixasse em Guadalajara uma marca: “País ‘increíble’, com pontos de exclamação à espanhola”.