“Vampires in Space”, com curadoria de Luís Silva e João Mourão, que estará em exposição no Pavilhão de Portugal durante a 59.ª Bienal de Arte de Veneza, que decorre entre 23 de abril e 27 deste ano naquela cidade do Norte de Itália, foi hoje apresentado em Lisboa.

Durante a conferência de imprensa, que decorreu no Teatro Thalia, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, revelou que, “após o encerramento da Bienal de Arte de Veneza, ‘Vampires in Space’ será apresentado em Portugal, na Alemanha e no Brasil, espraiando-se por novas geografias e públicos”.

Momentos antes, o curador João Mourão tinha referido que “a ideia é que o projeto tenha itinerância”, estando já garantida a apresentação no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, atualmente encerrado para obras, e estando a decorrer “negociações com o Pivô em São Paulo”.

A exposição no CAM, referiu, “será para final de 2023, início de 2024”.

Luís Silva explicou que “o que chegar a Lisboa será muito diferente” do que vai ser apresentado em Veneza, visto que o projeto “terá sempre que ser adaptado ao espaço” que o recebe.

Pedro Neves Marques descreveu “Vampires in Space” como “uma grande instalação, à escala do Palazzo Franchetti”, edifício nas margens do Grande Canal de Veneza que acolhe o Pavilhão de Portugal.

“O pavilhão é desafiante, porque sendo bastante grande é um espaço partido, com muitas salas. Não é um espaço de chegar e instalar umas obras, é um espaço nobre com uma série de especificidades”, disse.

O projeto, contou, “tem uma componente fílmica muito forte, que ocupa o salão central e duas salas adjacentes do pavilhão”.

“O filme, que ainda estamos a finalizar, tem cerca de uma hora de duração, sem princípio e fim”, referiu, revelando tratar-se de uma “viagem no espaço entre dois planetas gémeos, a Terra e um hexoplaneta semelhante”. “O que me interessa é a viagem, o que acontece entre [um planeta e o outro]”, disse.

“Vampires in Space” inclui também “cinco longos poemas”, da autoria de Pedro Neves Marques. “Começou com um primeiro poema que escrevi, que me foi apresentando as personagens [do filme], com quem fui dialogando”, partilhou.

Além do filme e dos poemas, o projeto inclui também elementos escultóricos.

“Há uma dinâmica de tudo isto, e também com o próprio palácio”, referiu.

Pedro Neves Marques assume “Vampires in Space” como “um projeto muito ‘queer’”, "atravessado de modo muito explicito por questões de género, transgénero, mas também de idade e de família”.

“Há um espaço de empatia e de capacidade de diálogo que espero que se cumpra”, afirmou.

Para um “projeto tão grande”, foi preciso “reunir muitos apoios e muita gente”, destacou o curador João Mourão.

Entre as várias pessoas envolvidas contam-se a escritora e curadora Filipa Ramos, atual diretora do Departamento de Arte Contemporânea do Município do Porto, que desenvolve o Programa Público, a autora e artista Renata Catambas, responsável pela publicação referente ao projeto, que terá distribuição nacional e internacional, e o arquiteto Diogo Passarinho, que se encarregou da arquitetura do espaço.

Para realizarem o projeto “Vampires in Space”, os dois curadores receberam 346 mil euros da Direção-Geral das Artes e promoveram uma angariação de fundos. “Conseguimos juntar mais cem mil euros”, revelou João Mourão.

A este valor, juntam-se os 300 mil euros por ano que, de acordo com a ministra da Cultura, à margem da conferência de imprensa, a DGArtes paga pelo arrendamento do Palazzo Franchetti, garantido por três anos, renováveis.

Graça Fonseca recordou, durante a conferência de imprensa, que “as reivindicações identitárias e a crítica sociopolítica estão na ordem do dia quando se atenta em inúmeras propostas artísticas contemporâneas, atingindo mesmo, nos últimos tempos, uma presença, mediatismo e transversalidade muito assinaláveis”.

“Este projeto de Pedro Neves Marques está amplamente comprometido com essa atualidade questionadora, convocando temáticas como a identidade de género, a sexualidade, as modalidades de família não nuclear e o impacto da biotecnologia no processo reprodutivo”, disse.

Para a ministra, “é fundamental que os organismos e instituições da área da cultura continuem a primar por uma atitude de abertura democrática que acolha perspetivas, conceções e práticas artísticas diversificadas, plurais e heterogéneas, os quais permitam que os públicos possam aceder à maior multiplicidade possível de visões do mundo”.

Graça Fonseca salientou que a representação nacional na Bienal de Arte de Veneza “funciona como um significante passaporte para a efetiva promoção da arte contemporânea portuguesa”, recordando que esta tem sido “uma área em que o governo português tem apostado vincadamente, com várias medidas estruturais e ambiciosas adotadas nos últimos dois anos”.

A ministra deu como exemplos “a revitalização da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, a produção de legislação que regula a inclusão de criações artísticas em obras públicas, o reforço do apoio financeiro ao campo das artes visuais ou a recente criação da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea”.

A seleção da representação portuguesa para a 59.ª Bienal de Arte de Veneza, através de um concurso promovido pela Direção-Geral das Artes, ficou marcada pela polémica, depois de o curador Bruno Leitão, que apresentou o projeto “A Ferida”, da artista Grada Kilomba, ter contestado o processo de seleção e os critérios de avaliação do júri, com a apresentação de um recurso hierárquico ao Ministério da Cultura.