“Exponho-me muito mais, por opção, cheguei a uma fase da minha vida em que tenho de assumir o que sou, como sou, o que gosto, que tipo de temas gosto de cantar, com que mensagens me identifico”, disse o fadista em entrevista à agência Lusa.

“Não tenho que me preocupar com mais nada do que com a minha própria coerência e ser honesto para com a minha identidade”, sublinhou.

Para o intérprete, esta atitude de honestidade para consigo mesmo "é que é o fado". “O fado tem que ser honestidade, algo muito íntimo, quase uma confissão, uma espécie de catarse, de expulsarmos os nossos próprios demónios”.

Neste álbum, Costa Félix assume-se como autor, assinando metade das 12 letras que canta. Os outros autores são Tiago Torres da Silva com três poemas, José Fialho Gouveia, Vasco Gato e António Aires Mateus.

Os compositores incluem autores de fados tradicionais, casos de Joaquim Campos (Fado Castanheira), Amadeu Ramin (Fado Zeca) ou Fernando de Freitas (Fado Noquinhas), e composições inéditas de Pedro Jóia, Luiz Caracol, Tiago Machado ou Valter Rolo.

Sobre a decisão de cantar poemas seus, o fadista disse que há muitos anos que escreve.

“Nunca tive confiança suficiente naquilo que escrevia para me afirmar como letrista, pois sempre fui muito, muito exigente”, explicou.

Costa Félix assina, entre outras, a letra de “Enganos”, que canta no Fado Castanheira, “Redondilha”, no Fado Isabel, de José Fontes Rocha, e a de “Vieste Tarde”, que gravou no Fado Noquinhas.

À Lusa revelou que quando escreve um poema tem sempre "uma música qualquer na cabeça". “Pode ser até um fado tradicional que ouvi cantar, e que gostei e que não ouvia há muito tempo”, contou.

“Gosto de escrever com métrica regular e quase sempre encaixa num fado tradicional”, referiu.

“Sempre fui muito exigente, porque gosto muito de poesia, e o meu repertório foi sempre pautado por essa exigência a nível poético”, acrescentou.

Autor de “Mais do Que Tu”, que gravou no Fado Maria Rita, de Armando Machado, Rodrigo Costa Félix referiu: “Aquilo que eu escrevo é se calhar aquilo que melhor me define, como pessoa e como artista, e pensei, embora lá, vamos assumir”.

Rodrigo assina ainda “Não Digas Nada”, que canta no Fado Zeca, e “Sem Fim”, com uma composição de Rogério Charraz.

Tiago Torres da Silva, o segundo autor mais cantado, assina “A Sangue Frio”, com música de Pedro Jóia, “P’ra lá do Beijo”, com música de Valter Rolo, e “Tempo”, no Fado Ivan, de Ivan Dias,

O músico é acompanhado por músicos com quem atua regularmente, e se identifica, são eles: Henrique Leitão, na guitarra portuguesa, Miguel Ramos, na viola, e Paulo Paz, no contrabaixo, e participações de Pedro Jóia, na viola, em “A Sangue Frio”, de Tiago Machado, ao piano, em “Obscura Sina”, e de Jon Luz, no cavaquinho, em “Lisboa é Assim”.

Para o fadista, “há hoje falta de espontaneidade no fado, que vive dessa espontaneidade”.

“O fado vive muito da vibração e da troca de energias entre músicos e fadista, nas cumplicidades”, sustentou, declarando: “Para mim o fado é o instante”.

O fadista faz parte do elenco do Clube de Fado, em Lisboa, e para si cantar numa casa de fados “é uma necessidade, é como ser católico e ir à missa, é essencial manter o contacto com a casa de fados, ir lá cantar”.

A primeira apresentação do disco, que contou com apoios financeiros do Museu do Fado e da Sociedade Portuguesa de Autores, é em Santarém, nos claustros da Casa do Campino, no dia 19 de março.

O álbum “Tempo” sucede a “Fados de Amor”, saído em finais de 2012, para o fadista o título reflete o tempo que “precisamente o tempo necessário de amadurecimento”.