“É um momento muito importante para a história dos Açores, muito pouco divulgado, e até conhecido, não havendo nenhum romance que verse a visita régia aos Açores. Por isso recuperei esta memória para a reintegrar novamente na nossa cultura açoriana”, declarou à agência Lusa o romancista.

O escritor lançou esta semana o seu novo livro, “Segredo da visita régia aos Açores”, numa sessão online.

Henrique Levy recorda que, com a instauração da República, “perde-se a autonomia dos Açores, sendo revogado o seu decreto com o Estado Novo, e só em 1976 é que os Açores voltam a ter autonomia no arquipélago”.

Para o romancista, a monarquia “estava atenta aos aspetos da vida insular, que mais tarde a República descurou”, salvaguardando-se que “esquece-se a autonomia outorgada em 1895 pelas cortes, pelo parlamento de então, pela monarquia constitucional”.

O escritor afirma que o “segredo” do romance não é histórico, mas sim ficcionado por si, recordando que a visita régia começou pelo Porto Santo e Madeira, para depois abranger nos Açores as ilhas do Faial, Terceira e São Miguel.

A protagonista do romance, que é a narradora da história, “não segue viagem com os reis para as restantes ilhas do arquipélago”, ficando-se por São Miguel, sendo que “o segredo do livro gira à volta da grande mudança que o século XX trouxe a Portugal, deixando de ser um país monárquico e implantando-se a República”.

O escritor entende que a deslocação dos reis aos Açores serviu para “outorgar o regime autonómico que havia sido votado nas cortes em 1895”, recordando que “nem todos nos Açores estavam de acordo com a autonomia, havendo muitos açorianos que defendiam o centralismo e achavam que a autonomia não iria beneficiar a região”.

De acordo com os registos da imprensa da altura, a visita dos monarcas aos Açores foi bem acolhida pela população e, no banquete servido no Governo Civil de Ponta Delgada, o rei Carlos declarou que “nunca no seu reinado o seu coração de rei e de homem fora mais vivamente tocado", salvaguardando que "aos sentimentos de amizade e lealdade do povo de São Miguel saberia corresponder com gratidão imorredoura”.

Nascido em Lisboa, o romancista, que habita em São Miguel, viveu em diversos países da Europa, Ásia, África e América, sendo autor de quatro romances: "Cisne de África" (2009), "Praia Lisboa" (2010), "Maria Bettencourt, diários de uma mulher singular" (2019) e o novo "Segredo da visita régia aos Açores".

Já editou também seis livros de poesia: "Mãos navegadas" (1999), "Intensidades" (2001), “O silêncio das almas" (2015), "Noivos do mar" (2017), "O Rapaz do lilás (2018)" e "Sensinatos" (2019).

Com pós-graduação em Linguística Portuguesa e mestrado em Estudos Portugueses, Levy iniciou a sua carreira profissional em Macau, onde foi professor.

Lecionou Língua e Cultura Portuguesa na Faculdade de Letras de Lisboa, tendo sido leitor convidado pela Universidade de Turim para lecionar Língua e Cultura Portuguesa, entre várias outras funções.