"Aquilo que sobreveio da pandemia, alguns dos comportamentos, algumas das contendas, a maneira como houve fratura mais do que união em alguns assuntos, sobre isso havia prenúncios que estavam presentes quando eu escrevi", afirma o músico. Ainda assim, disse: "Não esperava uma pandemia como aconteceu".
"Canções do pós-guerra", que sai na sexta-feira, está "intimamente ligado" ao EP "Marcha atroz", que Samuel Úria lançou no outono de 2018, sobretudo pelo processo de trabalho em estúdio.
"Foi um trabalho muito diferente com o meu produtor, com o Miguel Ferreira. Eu levava canções só voz e guitarra e depois em estúdio íamos ouvir os rascunhos e íamos perceber o que se poderia acrescentar ali que não mascarasse a ideia original. Andámos ao sabor das canções", explicou.
Para as nove canções do novo álbum, Samuel Úria convocou as suas raízes do rock e da folk, convidou amigos para uma entrada coral em "Aos pós", contou com a cantora Catarina Falcão num dueto em "Cedo", e teve o músico Miguel Araújo a tocar na 'retro-rock' "As traves".
No novo registo, Samuel Úria, 41 anos, reconhece a "exorcização de uma juventude" que já não lhe interessa e sublinha a "amplitude de significância" associada ao tema da guerra.
"Não tem que ser a guerra literal. Para além de haver conflitos armados a decorrer a que, de alguma forma, estamos a sobreviver, há também as guerras, as contendas pessoais", disse à Lusa.
No álbum, há ainda uma ideia de rescaldo: "O mais sensato que há a fazer é estarmos preparados para sobreviver a outra - a melhor lição que podemos tirar desta guerra é que vai acontecer outra guerra e temos que estar preparados para ela. O pós-guerra e o epicentro de uma guerra não distam assim tanto".
Com quatro concertos marcados à boleia do novo álbum, Samuel Úria admite que tem "fome de palco", depois de meses fechado em casa, mas "a incerteza é muito grande".
"Vou querer promover este disco tanto quanto quis promover os anteriores, mas sei que existem limitações, até das próprias salas, com lugares reduzidos, e em termos económicos. Pesa em termos de formações com as quais vou andar. Depois vai haver limitações económicas de quem programa e compra bilhetes. Tenho vivido na expectativa", constatou.
Samuel Úria recorda que durante o período de confinamento não quis escrever canções novas, sabendo que tinha o novo álbum prestes a sair e porque estar em casa - num apartamento em Lisboa - lhe pareceu um colete de forças.
"Muitas vezes quando estou 'entalado' numa canção, o que faço é sair pela porta e andar a caminhar pela rua. E saber que não o podia fazer ia deixar-me muito frustrado. A antevisão dessa frustração pode ter forçado a não criar", explicou.
Apesar da incerteza, de saber que terá menos concertos, menos direitos de autor, Samuel Úria diz-se "muito feliz por ter esta profissão".
"Ainda não há esmorecimento que me obrigue a pensar em alternativas", disse.
Samuel Úria apresentará "Canções do pós-guerra" no sábado, no Cubo Mágico, em Viseu, a 6 de outubro no Teatro Tivoli, em Lisboa, no dia seguinte na Casa da Música, no Porto, e, no dia 24 de outubro, no Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima.
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