Em meados dos anos 1980, os Simple Minds rivalizavam com os gigantes U2 ou Depeche Mode nas vendas de álbuns. Dos seus sintetizadores e guitarras entrelaçados saía um som próprio e uma série de sucessos como "Don't You (Forget About Me)", "Mandela Day" ou "Alive and Kicking".
Mas embora a banda escocesa com mais de 60 milhões de discos vendidos em todo o mundo já não estivesse no topo das tabelas na viragem do milénio, continuou o seu percurso. E tem beneficiado há algum tempo de um regresso aos holofotes, em parte devido ao revivalismo dos anos 1980.
"A verdade é que com este álbum sentimo-nos em forma", disse o vocalista, Jim Kerr, à AFP durante uma entrevista em Paris.
"'Big Music', o nosso disco precedente, foi muito bem recebido e eu queria manter essa energia positiva. Por isso, em vez de descansar, propus que começássemos imediatamente a trabalhar outra vez num novo álbum".
Foi preciso esperar um pouco mais de três anos para ver a chegada de "Walk Between Worlds", intercalados com um disco acústico e uma mini-digressão.
"Este intervalo permitiu-nos abrir novos caminhos. Contratámos novos músicos e Charlie [Burchill, o outro membro original da banda] nunca tocou guitarra tão bem. Demos-lhe mais espaço", esclarece.
Bowie e a máfia
Os fãs podem ficar descansados: os teclados continuam dominantes em várias canções. O resultado assume a forma de oito faixas vintage, com uma produção apurada. Jim Kerr também cultiva uma certa nostalgia.
"'Magic' fala sobre mim quando tinha 18 anos e queria mostrar ao mundo o que valia. Tinha raiva e fé ao mesmo tempo", diz quem que se lembra "como se fosse ontem" da primeira vez que os Simple Minds atuaram em Paris.
"Foi em 1980 no Pavillon Baltard, também estava lá a banda Mardquis de Sade, e lembro-me da conversa com o seu mentor, Philippe Pascal".
Em "Sense of Discovery", um homem idoso transmite a sua sabedoria a uma pessoa mais nova. Jim Kerr canta como David Bowie, um dos seus ídolos cujo tema "The Jean Genie" deu o nome à sua banda, através da estrofe "He's so simple minded, he can't drive his module".
"Nunca tive a oportunidade de conhecer Bowie pessoalmente", conta Jim Kerr.
"Conversei com ele uma vez por telefone, ele estava a ligar da parte do seu agente que também era o meu. 'Ouve, há um promotor italiano com quem trabalhas que quer trabalhar comigo. Mas aparentemente, ele é da máfia'. Eu respondi: 'Sim, é verdade. Mas isso não é problema, ele tornou-se nosso amigo. O que ele faz por fora não nos diz respeito'. Bowie esperou uns segundos: 'Ele paga sem problemas? Bom... Está tudo bem para mim'. E desligou".
"Entretanto eles tornaram-se muito amigos", conclui o cantor, "mas isso não me ajudou a conhecer Bowie".
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