A fotografia escolhida para a capa do disco – “uma fadista a dar um beijo a um rapaz consideravelmente mais novo” – é a imagem “que explica isto tudo”. E tudo é “Bairro da Ponte”, o novo álbum de Stereossauro (Tiago Norte), onde “a tradição está enrolada com a modernidade e vice-versa”, em 19 temas, e com um elenco de convidados de luxo, de Camané, Carlos do Carmo, Ana Moura e Gisela João a Slow J, NBC, Capicua e Ace.

“O briefing para o fotógrafo era uma imagem, simples, poderosa e que transmitisse a ideia instantaneamente. E a ideia é a ligação entre a tradição e a modernidade e disco chama-se ‘Bairro da Ponte’ por isso mesmo”, afirmou o DJ e produtor em entrevista à Lusa.

A palavra bairro é, para Stereossauro “muito associada ao fado e ao hip-hop, mas é também uma palavra que significa pertença”. “É a nossa identidade, o nosso lugar, o nosso bairro e a ponte é um elemento de ligação entre duas margens, entre o antigo e o novo, o acústico e o digital”, justificou.

O disco começou a ser preparado há cerca de dois anos, mas o ponto de partida “foi um pouco antes, se calhar oito anos antes”, quando o DJ começou a “experimentar manipular ‘samples’ de fado nas produções de eletrónica e hip-hop”.

“Durante esse período, todos os anos, pontualmente, experimentava essa sonoridade e sempre com ótimos resultados, de público e da minha satisfação pessoal”, contou à Lusa.

Ao longo desse tempo juntou “um repertório, digamos assim, de remisturas de fado”. Para poder “fazer algo mais sério”, Stereossauro pediu acesso aos temas à Valentim de Carvalho, passando a ter à disposição ‘masters’ originais de temas popularizados pela fadista Amália Rodrigues e do guitarrista Carlos Paredes, entre outros.

Para o DJ e produtor, cada um dos 19 temas, “à sua maneira, representa muito bem o disco”.

Mas, “Flor de Maracujá” é, “se calhar a que reúne todos, ou quase todos os elementos que caracterizam ‘Bairro da Ponte’: tem ‘samples’ da Amália, tem uma componente eletrónica muito presente, sintetizadores, a letra foi escrita pela Capicua, uma artista de hip-hop, tem o único, o Camané, a cantar”.

“Reúne muito bem todos os aspetos do conceito do disco”, referiu.

Quando questionado sobre se “Bairro da Ponte” é o culminar dos últimos oito anos de trabalho, Stereossauro responde que é antes o “começar de algo mais sério”.

“Senti que ainda estou só a arranhar a superfície do que quero fazer com este trabalho”, afirmou, partilhando que ‘samplar’ temas de fado e juntá-los com eletrónica é algo que lhe dá “imenso gozo e prazer estar a fazer”.

Embora não consiga dizer que “o próximo disco será na mesma linha”, porque seria, “como se costuma dizer, pôr a carroça à frente dos bois”, Stereossauro sabe que “certamente” irá “continuar a trabalhar neste sentido”.

“Isto foi tudo muito pensado e repensado e houve muita coisa que ficou de fora”, contou à Lusa.

“Bairro da Ponte” é apresentado ao vivo a 28 de fevereiro no Lux, em Lisboa. Nesse dia, o DJ e produtor vai tentar “ter o máximo possível de convidados” em palco, “mas é muita gente e conciliar as agendas todas é um pesadelo logístico, é muito difícil”.

Além de Camané, Carlos do Carmo, Ana Moura, Gisela João, NBC, Slow J, Dino D’Santiago e Ace, “Bairro da Ponte” conta ainda com Ricardo Gordo, Papillon, Plutónio, Capicua, The Legendary Tigerman, Dino D’Santiago, Rui Reininho, Nerve, Paulo de Carvalho, Razat, Holly, Sr. Preto e DJ Ride (com quem, desde 2003, Stereossauro forma a dupla Beatbombers) como convidados.

DJ Ride será uma das três pessoas que estarão de certeza com Stereossauro no concerto do Lux. “O formato da banda são quatro pessoas: eu e o DJ Ride nos gira-discos e eletrónica, ‘samplers’, com um baterista e um baixista, que se divide entre baixo e teclas”, adiantou.

O concerto terá “também uma componente de vídeo muito forte”. “Produzimos um vídeo especial para cada um dos temas, que funciona em tempo real com música”, referiu o DJ e produtor, garantido estar a trabalhar “para fazer o melhor espetáculo possível”.

“Bairro da Ponte” deverá ser depois apresentado noutras cidades, “mas é muito cedo para dar já outras datas”.