“Qualquer português que esteja neste momento em Portugal continental ou nas ilhas é um espectador potencial do Teatro D. Maria II”, disse Tiago Rodrigues, em entrevista à agência Lusa.

O Nacional D. Maria II não é uma casa que o diretor artístico queira confinar à praça D. Pedro IV, o Rossio, em Lisboa, pretendendo antes abri-la a públicos que ainda não têm hábitos de teatro sem, contudo, baixar a qualidade dos espetáculos.

“Se no primeiro mandato queríamos alterar um pouco a perceção que existia na sociedade portuguesa de que o teatro nacional era um museu e um pouco solene, que era um preconceito muitas vezes injusto, agora queremos abri-lo a toda a gente”, sublinhou Tiago Rodrigues.

Na véspera de partir para França, onde apresentará a peça “By Heart”, Tiago Rodrigues sublinhou a importância de acabar com a perceção “injusta” de que o D. Maria tinha uma “dimensão museológica”, defendendo que, para tal, é necessário “abri-lo de forma transgeracional”.

Tal não significa, porém, que aquela sala não deixe de prestar serviço público e continuar a apostar no teatro de qualidade, seja em textos de grandes clássicos, seja em textos contemporâneos, indicou.

“Por um lado, é necessário continuar a oferecer ao nosso público, aos cem mil que nos visitam anualmente, aquilo que essas pessoas procuram e, por outro, queremos que os outros 500 mil ou 600 mil, que não se entendem ainda como público de teatro, entrem nesta casa”, frisou.

Daí que, para este mandato, para o qual foi reconduzido, Tiago Rodrigues tem por objetivo que o D. Maria se torne acessível ao maior número de espetadores.

Para tal é fundamental haver verbas. Sem sobrevalorizar o facto de ainda não ter sido assinado o contrato plurianual para o novo mandato, acrescentando que nunca foi obrigado a ‘desprogramar’ coisas por as verbas serem inferiores ao esperado, Tiago Rodrigues reconhece, porém, que o facto de saberem atempadamente qual o orçamento com que contam lhe facilita o trabalho de programação.

Tal como daria mais segurança programar coproduções com companhias de teatro que já sabiam com que subsídios contam.

Todavia, para Tiago Rodrigues, o mais grave é o facto de o teatro em Portugal continuar subfinanciado.

“O D. Maria II está subfinanciado para o trabalho que faz hoje, naquilo que é a sua estrutura. Precisava de ser mais financiado para melhorar condições, modernizando equipamento, atualizando remunerações da equipa, que há muitos anos não são repensadas”, sublinhou o responsável artístico.

Questionado sobre se o D. Maria II já tem resolvida a questão de centro de documentação e arquivo, Tiago Rodrigues admite tratar-se de uma questão para a qual é necessário encontrar uma solução rápida.

“É necessário encontrar solução para salvaguardar muitos figurismo, muitos cartazes. É uma solução que tem de ser encontrada (…), ou no quadro do armazém de que o teatro dispõe, ou até em conjunto com outros teatros”, observou.

Sobre a atual temporada, Tiago Rodrigues afirmou que continua a pautar-se pelas ideias fortes do que deve ser a missão do D. Maria.

A temporada em curso é marcada pelas ideias fortes daquilo que é a missão do Teatro Nacional D. Maria: por um lado, tornar acessível, através de encenações e de linguagens cénicas do nosso tempo, aquilo que é a grande biblioteca universal do teatro e, portanto, os grandes textos clássicos e os clássicos contemporâneos, e, por outro lado, promover a dramaturgia portuguesa.

“Nesta temporada apresentamos cerca de 35 espetáculos diferentes, dos quais metade são textos inéditos em português”, sublinhou Tiago Rodrigues, acrescentando tratar-se de um trabalho que é complementado por outras ações, entre as quais a publicação de livros sobre teatro.

Outra das apostas para o próximo mandato, é o trabalho com o público adolescente, uma vez que, para Tiago Rodrigues, era uma área onde “se perdiam”.

Na senda do que no primeiro trabalho foi a aposta na infância, e que vai continuar, Tiago Rodrigues quer agora abrir também o teatro aos adolescentes, não apenas para assistirem a teatro, mas para que também o façam.

Um trabalho iniciado com “Montanha-russa”, peça que teve a última récita na terça-feira, e que teve uma procura “em massa” por parte de adolescentes, com salas esgotadas.

“Montanha-russa”, de Inês Barahona, com encenação de Miguel Fragata, música de Helder Gonçalves e Manuela Azevedo, dos Clã, em palco, será representada em abril, em França, e depois partirá em digressão pelas salas da rede Eunice (Portimão, Sardoal, Vila Real, Funchal), e ainda por Torres Novas e Porto (Teatro Nacional de S. João).

No próximo ano, fará nova digressão em Portugal e deverá voltar ao palco do D. Maria II, "face à procura estrondosa que teve”, revelou Tiago Rodrigues à Lusa.