Iniciativa da atriz Sara Carinhas, este ciclo de cinco leituras encenadas começa no dia 22 de setembro, às 19:00, com a leitura do texto “A Fox and a Woman Go Into a Bar”, de Sónia Baptista, feita pela própria Sara Carinhas, e vai estender-se até janeiro de 2021.

A segunda sessão acontece no dia 20 outubro, com o texto de Ana Luísa Amaral intitulado “A Minha Filha Partiu uma Tigela”, lido pelas atrizes Alexandra Lencastre, Ana Nave, Rita Loureiro e Sofia de Portugal.

Segue-se “Não, Não Iria Haver Luar”, de Lídia Jorge, que será interpretado no dia 3 de novembro por Bárbara Branco, Isabél Zuaa e Tânia Alves, e “Numa Jarra Vermelha / Uma Rosa Vermelha”, de Ana Hatherly, a ser lido por Ana Cloe, Filipa Mata e Joana Santos, no dia 10 do mesmo mês.

A última sessão deste ciclo terá lugar a 19 de janeiro de 2021, com as atrizes Ana Valentim, Madalena Almeida, Margarida Vila-Nova e Rosinda Costa a encenarem o texto “Principais Razões para a Inevitável Queda da Lua”, de Patrícia Portela.

Esta não é a primeira vez que Sara Carinhas se aventura na experiência da encenação de textos escritos por autores portugueses, tendo preparado um primeiro ciclo de leituras em 2016, sendo contudo a primeira vez que o faz exclusivamente com mulheres.

No primeiro ciclo, foi possível ouvir excertos de obras de Herberto Helder, José Tolentino Mendonça, Luísa Costa Gomes, Maria Velho da Costa e Matilde Campilho.

“As leituras encenadas são uma desculpa extraordinária para conhecer atores com quem gostava de trabalhar e ainda não consegui”, explica Sara Carinhas, numa entrevista dada ao teatro, acrescentando, que não se trata apenas de ler: “a presença da música, a relação dos atores com ela, a ligação com o som das palavras, tudo se encaixa”.

Segundo a atriz, também a sonoplastia, assim como a cenografia e os figurinos foram realizados por mulheres, pois a ideia foi mesmo montar um espetáculo em que toda a equipa é feminina.

A opção de fazer um ciclo só com mulheres é explicado pela necessidade de dar mais espaço à escrita no feminino, mas também como um pretexto de Sara Carinhas para conhecer atrizes que gostava de conhecer e “misturá-las, fazer encontros entre pessoas que nunca se encontraram, quer seja pela geração, quer seja pelo trabalho que fazem”.

O título do ciclo surgiu de uma outra das “obsessões” da organizadora, a escritora "Virginia Woolf, que escreveu esse texto ['Um quarto que seja seu'] como uma reivindicação: se não pudermos nós, mulheres, ir à escola, se não pudermos ter espaço para escrever e ler, não existimos, não temos oportunidades, não nos podemos inscrever no mundo”, explicou.

“Ainda hoje descobrimos mulheres artistas que não sabíamos que existiram. Aqui nas leituras acho que vai ser extraordinário, porque é de uma imensa força, juntar tantas mulheres – mulheres a lerem mulheres”, sublinhou Sara Carinhas.

Sobre as escritoras escolhidas, a atriz diz que são muito diferentes umas das outras, mas “têm todas um humor extraordinário”, “são extremamente observadoras” e são “muito acutilantes no olhar sobre as coisas”.

Quanto aos textos, Sara Carinhas deu prioridade aos que a tocam enquanto mulher, mas sobretudo enquanto pessoa.

Como exemplo, refere a escrita da Ana Luísa Amaral, que convoca “uma questão muito bonita” que é: “Vejo a realidade e interfiro nela ou vejo-a e escrevo sobre ela? Daí o título que escolhi para essa leitura, 'A Minha Filha Partiu uma Tijela'. Sou mãe e sou poeta. Tenho de ir lá apanhar os cacos, mas antes disso, poderei escrever sobre eles?”.

Sara Carinhas confessa mesmo ter já um “namoro antigo” com Ana Luísa Amaral, de quem conhecia bem os textos e entre os quais tinha preferidos, ao contrário das outras escritoras, que se revelaram mais desafiantes, na altura de escolher.

Lídia Jorge escreveu muitíssimo e mais géneros do que pensava à partida. Ana Hatherly foi uma escritora plástica, “uma pintora de palavras”, o que implica um exercício mais estético do que de leitura fácil. Patrícia Portela foi uma surpresa, pois desconhecia a “quantidade de coisas que já tinha escrito”, e Sónia Baptista tem um trabalho “muito particular”, porque escreve para ela, textos que “não são necessariamente 'passáveis' a outras pessoas”.

Não há textos escritos especificamente para este ciclo, mas há textos inéditos muito recentes, diz Sara Carinhas, avançando que Ana Luísa Amaral, quando questionada sobre escrita nova, terá respondido à atriz que, com a pandemia, andava a escrever muito mal.

“‘Agora só escrevo sobre as formigas que passam na minha varanda…’ disse-me ela. Acredito que essa ideia vai estar presente ao longo do ciclo de alguma forma, o termos sido obrigados a ficar fechados, e o silêncio intranquilo”, revelou Sara Carinhas.

Os espetáculos vão ter lugar na Sala Bernardo Sassetti, e destinam-se a maiores de 12 anos.

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