"Fizemos um abaixo-assinado em abril e nunca houve uma resposta por parte da direção. Submeteram-se ao silêncio e este silêncio desrespeitoso foi bastante sintomático daquilo que representamos para eles. Esta vigília silenciosa nasce precisamente desse silêncio", afirmou hoje Hugo Veludo, assistente de sala da Casa da Música há mais de dois anos e meio.

Em declarações à Lusa, Hugo Veludo afirmou que, apesar de a Casa da Música reabrir hoje, continuam por "cumprir os pagamentos aos trabalhadores precários" e que da administração do equipamento cultural apenas receberam um email a indicar que em junho "voltariam a precisar dos serviços".

"Enviaram-nos um email como se nada se tivesse passado. Vamos voltar a trabalhar, em moldes diferentes. Vão existir duas equipas diferentes de assistentes de sala que vão trabalhar alternadamente, isto é, semana sim, semana não. Só isso, já vai reduzir a nossa possibilidade de rendimento a 50%", referiu.

Hugo Veludo disse também que, uma vez que o número de eventos vai ser "muito inferior", o rendimento dos 44 assistentes de sala a recibos verdes "vai cair cerca de 75%".

Na vigília silenciosa agendada para hoje, às 19h00, vão estar, entre assistentes de sala, técnicos e guias, trabalhadores da Casa da Música, mas também alguns educadores da Fundação de Serralves.

"Depois do comentário infeliz da ministra da Cultura a dizer que eles são muito poucos, lançámos o repto de estarem connosco e mostrarmos que juntos não somos assim tão poucos", frisou.

À Lusa, Inês Soares, educadora na Fundação de Serralves, afirmou que apesar de não representarem a "mesma casa", representam a "mesma causa": o combate à precariedade.

"Aderimos à iniciativa para mostrarmos que estamos juntos nesta luta. Muitos de nós ainda nos encontramos com as vidas em suspenso sem qualquer perspetiva de quando voltar ao trabalho e se haverá também algum trabalho", disse Inês Soares, que há cinco anos começou por exercer funções como assistente de sala e há dois anos que integra a equipa do serviço educativo.

Segundo Inês Soares, até ao momento, oito educadores da Fundação de Serralves já confirmaram que vão participar nesta vigília silenciosa, alguns dos quais a trabalharem na instituição há "10 e 20 anos".

Contactada pela Lusa, a Fundação Casa da Música não quis comentar a situação.

No dia 28 de abril, dezenas de trabalhadores da Casa da Música pediram, através de um abaixo-assinado, à fundação que gere este equipamento cultural do Porto que "cumpra compromissos" e "assuma" a sua "responsabilidade social", considerando que as "soluções" propostas são "indignas".

No total foram 92 os signatários de uma carta enviada ao diretor-geral da Fundação Casa da Música, entre os quais 28 trabalhadores com contrato e 64 prestadores de serviços a recibo verde, nomeadamente assistentes de sala, guias, músicos, técnicos e formadores.