Mais um de muitos dias deste Misty Fest 2013, e desta vez com um tributo, por diversas vozes, a Roberta Joan Anderson - ou para o comum dos mortais, a mítica Joni Mitchell. A cantora, poetisa e artista plástica foi homenageada no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (doravante CCB), nesta quinta-feira, em todas as vertentes da sua carreira artística que ascendeu ao sucesso na década de 1970.

Uma sala particularmente cuidada sentia os seus visitantes chegar, um a um, como que a conta gotas, até ficar com lotação quase esgotada. Mas não arrancou logo, já que por cá quase nenhum espetáculo começa a horas e terminar à hora marcada parece ser um desafio, ainda que a distância dos ponteiros do relógio não tenha sido assim muita (15 minutos para cada lado, apontámos nós).

O pano não caiu, mas o cenário era bastante clássico, tendo o seu começo com o apagar das luzes e o despertar da tela gigante que iluminava o palco com a imagem projetada da cantora. Um retrato tão conhecido que rapidamente se dissipou num exemplo de algum tipo de arte abstrata que se via surgir perante o olhar atento da plateia. Contudo, o arranque mostrou-se tímido, com as vozes do tributo à cantora a revelarem-se bastante poderosas, mas comedidas perante o público. Nem um "olá" ou "obrigada", um aceno servia.
Para aumentar o inicial desinteresse, a tela de imagens projetadas, que rapidamente se transformavam em arte em movimento, tornou-se tão inquietante e perturbadora que nos fazia desviar constantemente o olhar. Chegava a parecer que estávamos numa exposição de arte com música de fundo ao vivo, apesar do pequeno erro de apresentação quando a barra do Paint (sim, o programa de pintura que qualquer um de nós tem no computador) se fez mostrar por engano de António Jorge Gonçalves, responsável pelas ilustrações.

Num primeiro comunicado, a faixa "Answer Me My Love" foi-nos apresentada como uma das favoritas da artista, apesar de não ser da sua autoria (a única da noite), deixando-nos embalar pelo ritmo e tom melodiosos que rapidamente cessaram e deram as boas vindas à rainha da conversa do tributo, a nossa Luisa Sobral.
"Quase ninguém fala, mas eu não consigo!", foi o primeiro protesto da jovem cantora aquando da sua atuação, sendo que a lisboeta interpretou a faixa "California", de Joni, uma melodia com a qual se identifica pela necessidade que sentiu de regressar - não à Califórnia, mas a Lisboa. A cantora foi também a primeira a atingir uma maior proximidade da canadiana, tendo pegado na sua guitarra acústica enquanto interpretava o tema com o seu timbre tão distinto e espetacular, sem nunca deixar escapar os dedos por uma corda.

Pouco tardou até que o último elemento artístico da cantora homenageada fosse exposto, tendo sido exibido na tela um dos poemas das letras de Joni na faixa "Marcie":
"Marcie in a coat of flowers,
Steps inside a candy store.
Reds are sweet and greens are sour,
Still no letter at her door".

Ainda assim, rapidamente passámos de flores à mecânica, com a interpretação de Mafalda Veiga da faixa "Big Yellow Taxi" a ser seguida pela divertida e extremamente aplaudida Sara Tavares: "Tão bom! Comer uma caixa de Joni Mitchell foi tão bom para mim. Aí vem uma Joni Mitchell mais ritmada e despenteada", informou a cantora que interpretou, no seu estilo, mais um dos sucessos da estrela canadiana.

Amélia Muge, Aline Frazão, Ana Bacalhau, Cati Freitas, Elisa Rodrigues, Manuela Azevedoe Mária foram outras das belas vozes que se fizeram ouvir no CCB, mas que se mantiveram algo mais recatadas perante o olhar curioso da plateia lisboeta que incessantemente batia palmas a cada fim de música, cada troca de artista, simplesmente a cada oportunidade, mostrando assim a sua amabilidade e respeito para com as cantoras em palco.

No fim, todas as artistas se juntaram em palco para cantar uma última faixa de tributo a Joni, sendo que o culminar de uma bela noite foi o momento em que todos os artistas regressaram, num curto encore, e onde todas as vozes femininas serviram de coro à verdadeira voz da noite: a própria e única Joni Mitchell.

Fotografias: Débora Lino