Este brasileiro, que vive há 20 anos em Portugal, é o autor de um romance inspirado na sua infância, passada numa das zonas mais pobres e perigosas do Rio de Janeiro, e que é o substrato de o “Último da Fila”, da Editorial Planeta.

Em declarações à agência Lusa, contou que o “'apartheid' social” que vive quem mora no gueto faz com que a violência só assuma a sua verdadeira dimensão quando confrontada com outra realidade - no caso de Marlon Queiroz, a sua vinda para Portugal.

Da sua infância neste meio de violência, onde a morte era um cenário comum e até motivo de passatempo, recorda a fome como a mais aterradora das experiências e capaz de transformar uma pessoa.

Mas só quando chegou a Portugal é que se apercebeu da violência por que passara, embora vivesse a poucos quilómetros de zonas com qualidade de vida, como o Leblon.

“A baixa fluminense e o Leblon não são países diferentes, mas sim planetas diferentes. Mas o que ia eu fazer ao Leblon? Quem é do gueto é do gueto e quer ficar no gueto. Fora do gueto, sente-se nu”, contou.

At least 13 dead in a shooting at a favela in Rio de Janeiro

E por isso sempre houve crianças para quem o mundo se limitou à favela.

Em Portugal, adiantou, também há crianças e jovens que vivem em bairros e que desconhecem que existem outras realidades.

“Há crianças da Cova da Moura que não conhecem Cascais”, disse, ressalvando as diferenças: “O 'apartheid' social, o muro que separa as crianças que vivem no gueto [em Portugal] das outras é mais baixo”.

A esse propósito, enalteceu o acesso à educação que em Portugal permite que crianças de realidades diferentes possam estudar pelo mesmo livro, no mesmo edifício, na mesma escola.

“A formação é mais democrática em Portugal. As universidades públicas têm alunos de várias classes. No Brasil, as universidades públicas não têm alunos de escolas secundárias públicas”, declarou.

Sobre a atual situação do Brasil, país onde ainda vive a sua mãe, outros familiares e amigos, o autor de o “Último da Fila” disse que é um país “com muita fome” e o Rio de Janeiro uma cidade que “já não é violenta, mas antes uma cidade em guerra”.

“Há dias em que existem 13 tiroteios ao mesmo tempo. Até já há uma aplicação que dá conta dos lugares onde os tiroteios estão a decorrer”, relatou.

E acrescentou: “Combater o crime com bala não vai diminuir a pobreza e a pobreza é a causa da violência”.

Questionado sobre o risco desta violência chegar a Portugal, uma vez que os acordos entre os dois países permitem uma entrada sem vistos, Marlon Queiroz disse que a dimensão portuguesa não é atrativa para o grande crime organizado.

“A demanda [em Portugal] não interessa. É um país pequeno”, disse, ressalvando que “pode vir muito joio nesse trigo”, ao qual as autoridades parecem estar atentas, tendo em conta o número de brasileiros barrados à entrada, na ordem dos 3.000.

O “Último da Fila” é o segundo livro de Marlon Queiroz, que é também autor de “Máfias da Noite”, um livro de não ficção baseado na sua experiência como segurança em espaços de diversão noturna.

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