"O que é que a baiana tem? Tem torso de seda, tem. Tem brinco de ouro, tem. Corrente de ouro, tem. Tem pano da Costa, tem (tem). Tem bata rendada, tem. Pulseira de ouro, tem. E tem saia engomada, tem. Tem sandália enfeitada, tem. E tem graça como ninguém". E teve Hollywood a seus pés.

Nascida em Marco de Canaveses a 9 de fevereiro 1909, Carmen Miranda deixou Portugal em bebé e chegou ao Rio de Janeiro aos 10 meses de vida. A artista morreu a 5 de agosto de 1955, com apenas 46 anos.

Mais de 100 anos depois, a vida e carreira da "pequena notável" continua a inspirar os mais atentos. Em Marco de Canaveses, Cristina Mendes é uma das maiores divulgadoras da história de Carmen Miranda - do carro pintado com a imagem da artista ao guarda-roupa, a marcoense é uma das maiores fãs.

Um carro personalizado e admiração total: uma das maiores fãs de Carmen Miranda, a
Carro personalizado de Cristina Mendes, fã de Carmen Miranda.

A partir da cidade do distrito do Porto, em conversa com o SAPO Mag, Cristina Mendes recorda que começou a explorar o mundo de Carmen Miranda quando saiu do concelho para ir estudar. "As pessoas perguntavam-me de onde era. E dizia que era de Marco de Canaveses, que era da terra de uma grande mulher. Comecei a falar da Carmen Miranda", recorda. "Começou como uma brincadeira, até gozavam comigo, mas comecei a ser a rapriga da terra da Carmen Miranda", conta.

A brincadeira começou a tornar-se mais séria à medida que a marcoense foi descobrindo histórias sobre a artista que conquistou Hollywood. "Comecei a procurar mais e mais, mas rapidamente percebi que não havia muita informação - também não existia o ‘doutor Google’ para ajudar", graceja.

"À medida que vou descobrindo mais a história da Carmen Miranda, mais me apaixono e percebo o quão inspiradora ela foi e é. Tenho muitas conversas com mulheres sobre isso e sobre as dificuldades que continuamos a sentir atualmente. A Carmen viveu entre 1909 e 1955, uma época muito difícil (...) Nessa era, era ainda mais difícil ser mulher no mundo do espetáculo e ela conseguiu ultrapassar todas as dificuldades", sublinha Cristina Mendes, acrescentando que a artista reinventou-se e conseguiu “impor-se num mundo dominado por homens".

"Além da música e do cinema, ela criou modas. Ainda hoje usamos saltos compensados. Ela decidiu colocar adereços na cabeça para prolongar a silhueta. São só alguns exemplos que demonstram a persistência dela",  frisa.

"Era uma mulher inspiradora e nunca desistiu. Ultrapassou as dificuldades gigantescas e ainda transmitiu alegria, cor e entusiasmo. É um exemplo - ela tornou-se muito rapidamente na mulher mais bem paga do mundo; tem a sua estrela no Passeio da Fama; chegou ao topo artisticamente”, lembra Cristina Mendes, acrescentando que a artista também passou por períodos conturbados na vida, nomeadamente a nível pessoal.

Carro personalizado de Cristina Mendes, fã de Carmen Miranda.
Cristina Mendes vestida de Carmen Miranda

Para a marcoense, Carmen Miranda "não é valorizada em Portugal", mas a nível local o "trabalho que se tem feito começa a ser interessante”. “Acho interessante o trabalho que está a ser feito nas escolas, mas ainda falta muito. Mas temos de contar a história desta mulher inspiradora e valorizar”, frisa.

Em Marco de Canaveses, poderá visitar o Museu Carmen Miranda e conhecer a história de vida e carreira da artista que conquistou Hollywood.

A pequena notável

Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu no dia 9 de fevereiro de 1909 em Várzea de Ovelha e Aliviada, no concelho do Marco de Canaveses. Aos 10 meses, a artista deixou Portugal e atravessou o Atlântico até ao Rio de Janeiro, onde ainda hoje, 66 anos após a sua morte, é símbolo internacional do panorama artístico e cultural.

A música sempre foi a grande paixão de Carmen Miranda, que começou a mostrar o seu talento num rádio local. Pouco tempo depois, no final da década dos anos 1920, já era uma estrela no Brasil. Depois da música, a artista abraçou mais uma paixão, o cinema.

A estreia no grande ecrã deu-se em 1933, no documentário "A Voz do Carnaval". Dois anos depois, chegou o seu primeiro sucesso no cinema, o filme "Alô, Alô, Brasil". Depois, nunca mais parou.

Aos 30 anos, em 1939, Carmen Miranda deu o grande salto da sua carreira, ao mudar-se de malas e bagagens para Nova Iorque. A marcoense chegou à Broadway no mesmo ano, com "The Streets os Paris". O sucesso do musical chamou a atenção e, meses depois, a cantora cantou na Casa Branca para o presidente Roosevelt.

Carmen Miranda

Carmen Miranda participou em mais de uma dezena de filmes nos Estados Unidos e protagonizou outros tantos no Brasil, entre eles “Alô, Alô Carnaval” (1936) “Uma Noite no Rio” (1941), “Aconteceu em Havana” (1941), “Minha Secretária Brasileira” (1942) e “Serenata Boémia” (1947).

A pequena Notável, com apenas 1,52 m de altura, tornou-se uma das maiores estrelas de Hollywood. Em 1941, Carmen Miranda recebeu uma estrela no Passeio da Fama, tornando-se na primeira portuguesa a receber a distinção.

Carmen Miranda morreu de ataque cardíaco em 1955, na sua casa em Beverly Hills, nos Estados Unidos. Segundo a imprensa brasileira, mais de 500 mil pessoas juntaram-se ao cortejo fúnebre, no Rio de Janeiro. No adeus, a multidão cantou "Taí".

Carmen Miranda nos dias de hoje

Ainda hoje, mais de 60 anos após a sua morte, Carmen Miranda é um símbolo internacional da cultura brasileira. "A rapidez na fala ficou da herança do sotaque do Porto que ela ouvia em casa, onde começou a cantar marchinhas. Mas as outras características de Carmen Miranda são essencialmente brasileiras", afirmou à Lusa o diretor do museu que tem o nome da cantora, no Rio de Janeiro, César Balbi, na ocasião do 108º aniversário da artista.

Balbi realçou que a cantora nunca voltou a Portugal após deixar o país, nem mesmo quando esteve na Europa. Carmen Miranda morreu a 5 de agosto de 1955, em Bervely Hills, na Califórnia, após sofrer um enfarte.

O interesse do público brasileiro em geral pela artista cresceu apenas após 2005, com a publicação de sua biografia mais famosa, feita pelo escritor Ruy Castro. "Carmen tem um público dos cinco aos 100 anos, desde os que conviveram com ela até aqueles que tiveram influências transmitidas pelos pais. Uns veem-na como um ícone da moda, outros pela maquilhagem, outros, principalmente as crianças, pela caricatura, e, os mas antigos, pela voz", disse Balbi, que realçou que a cantora foi pioneira na Música Popular Brasileira.

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