Todos nós conhecemos bem o cheiro que emana dos mares, a fragrância salgada que paira no ar e se infiltra pelas nossas narinas. Todos nós sabemos reconhecer um peixe: a cauda, as escamas, as guelras. Mas muitos não sabem o que é um peixe : avião.

Os peixe : avião não cheiram a maresia e não respiram por guelras, mas isso não os impediu de estarem presentes no CCB (doravante, Centro Cultural de Belém), em Lisboa, onde nos presentearam com um concerto de outro mundo (que não o aquático).

Para começar, a banda de Braga teve o apoio de um outro grupo de rapazes, quatro para sermos mais exatos, e com uma aspiração bastante gelada ao se intitularem de Long Way to Alaska.

Os rapazes juntaram-se em 2009 e fizeram a primeira parte do concerto no CCBeat, naquela que parecia ser uma entrada bastante monótona e sem hipóteses para quebrar o gelo que se mantinha dentro do pequeno auditório do CCB - com uma plateia que não preenchia o total da lotação e apenas se aglomerava nas bancadas centrais, deixando as laterais completamente despidas.

As palavras eram poucas, ouvindo-se apenas um "obrigado" de cada vez que findava os acordes que nos faziam recordar uma mistura de alguns artistas country. Contudo, o degelo teve lugar aquando da apresentação de "Air", em que todo o público correspondeu às palmas que eram pedidas por Gonçalo, Gil, Nuno e Lucas.

Dai em seguida, o ambiente mudou e os rapazes começaram a sentir-se mais descontraídos, brincando com as situações em que se enganavam ou ironizavam sobre a sua falta de reconhecimento: "Vamos agora tocar a música do nosso novo EP. Aposto que já ouviram!".

Por fim, podemos rematar dizendo que, apesar do jogo de luzes bastante monótono e algo saturante ao longo dos quase 40 minutos de espetáculo que os Long Way to Alaska nos deram, terminando com um: "É um prazer estar em Lisboa. É um prazer estar no CCB!".

Despedidas feitas, pausa passada e palco montado (de novo), os peixe : avião subiam para as luzes da ribalta, ao passo que os nossos amigos do Alasca se misturavam com o público, naquele que parecia ser um ambiente bastante intimo e, decididamente, romântico, entre um dos elementos da banda e a sua companheira.

As luzes monótonas foram substituídas por um esquema psicadélico, onde o fumo de palco era tanto que a visão ficava turva perante a atuação dos bracarenses que, tal como os seus antecessores, tiveram um arranque bastante tímido e de poucas palavras. Depois, admitindo serem da "província de Braga", embora o vocalista tenha nascido em terra de alfacinhas, a banda procedeu aos seus primeiros agradecimentos ao seu "público altamente".

Os temas do seu novo álbum, homónimo, foram intercalados com alguns dos seus temas antigos e de sucesso, sendo que, ainda assim, a banda não conseguiu arrecadar uma reação tão positiva quanto a anterior.

As faixas seguiam-se umas às outras num rodopio musical em que poucas eram as palavras deixadas ao público e onde um rápido encore se fez sentir sem darmos pelo tempo passar.

"Fomos só fazer um xixi", brincou um dos elementos do grupo quando os mesmos surgiam da sua mísera pausa de segundos, voltando a encher-nos de música num ritmo alucinante que seria desaconselhável a epiléticos.

"Deixam-nos o coração cheio, deixam-nos a barriga vazia, e a alma... qualquer coisa", foi o discurso final do vocalista e líder do grupo que a todos deixou estáticos com um zumbido incessante apenas dissipado com o regresso das luzes, anunciando assim o fim do espetáculo, independentemente dos apelos daqueles mais empenhados em congratular o grupo de Braga.

Fotografias: Rita Sousa Vieira