“Foi bom ver a nossa cidade e o nosso país pelos olhos dele, pelos vossos olhos”, disse Bono, na antestreia mundial do documentário no Orpheum Theatre, em Los Angeles. “E ver-nos a nós próprios a chegar à idade adulta”, gracejou.
“Bono e The Edge: A Sort of Homecoming com Dave Letterman” foi realizado por Morgan Neville e é uma viagem ao passado dos U2. Estreia-se no Dia de São Patrício, padroeiro da Irlanda, o mesmo dia em que a banda lança “Songs of Surrender”, uma coleção de 40 canções icónicas que foram reimaginadas e regravadas.
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O documentário mostra a ideia por detrás da reinvenção destas canções e a génese do questionamento que assombrou os artistas, que formaram os U2 em 1976.
“Se as canções são boas, elas chegam às pessoas que mais precisam delas. Esta foi a parte egoísta deste projeto, querermos ouvir as nossas canções novamente quase como se fosse a primeira vez”, disse Bono. “Tínhamos a questão de saber se elas poderiam sobreviver sem a potência de uma banda de rock em toda a sua força. Não o sabíamos”.
A reinvenção de sons icónicos da banda foi mais longe nalgumas canções, com alterações nas letras. Foi o que aconteceu, por exemplo, com “Every Breaking Wave” e, mais notoriamente, com “Sunday Bloody Sunday”. “Sentia-me embaraçado com algumas partes da letra, e neste projeto consegui acabá-la”, revelou o vocalista.
Com o baterista Larry Mullen a recuperar de uma intervenção cirúrgica e o baixista Adam Clayton a organizar uma exposição artística, Bono e The Edge convidaram estudantes de música e talentos da folk irlandesa para tocarem com eles num concerto intimista no Ambassador Theatre, em Dublin.
“Qualquer canção duradoura acaba por se tornar numa canção folk, se prestarmos atenção. Mas só percebermos isso quando as desmontamos”, disse Bono. “Este projeto devolveu-nos as nossas canções”.
O documentário mostra várias partes dessa atuação, que se entrelaçam com as entrevistas e histórias do passado. Na estreia, em Los Angeles, o público que estava a ver o filme aplaudiu como se estivesse no concerto. David Letterman achou isso notável.
“A estrela deste filme é a música”, afirmou. “Ao vermos o filme e vermos a música a ser interpretada, ouvimos a audiência no filme a aplaudir. E a música é a estrela de tal forma que as pessoas neste teatro a verem também aplaudiram”, sublinhou.
Letterman nunca tinha estado em Dublin e o convite para viajar até à Irlanda e conversar com Bono e The Edge sobre a sua música, a sua carreira e a relação íntima entre a arte e a cidade foi “uma dádiva”.
“Estou tão satisfeito e orgulhoso, não sei como ou porquê isto aconteceu”, disse Letterman. “Não se esbarra muitas vezes com pessoas assim. Eles são artistas muito inteligentes e estar na sua presença foi um despertar delicioso”.
Durante as gravações do documentário, Bono e The Edge acabaram por escrever uma música sobre o próprio Letterman, “Forty Foot Man”, depois de o apresentador ter visitado o famoso promontório Forty Foot no sul da baía de Dublin. Na antestreia, Bono cantarolou partes da canção ao vivo e disse que o apresentador “trouxe comédia à tragédia”.
“Quando estávamos na biblioteca e isto me foi apresentado fiquei estupefacto”, contou Letterman. “Nem consigo dizer o quão encantador foi esse gesto, como foi uma dádiva para mim”.
A relação profunda entre Bono e The Edge também é examinada neste documentário, que inclui passagens por pubs e mergulhos em águas geladas. The Edge disse que foi um processo muito alegre.
“A coisa engraçada deste projeto é que ninguém sabia dele e ninguém o esperava”, afirmou o músico. “Quando começámos estávamos livres para simplesmente desfrutar do processo”, continuou. “Penso que sem pressão ou expectativa podemos perder-nos. Voltar a entrar em contacto com estas canções foi incrível”.
“Bono e The Edge: A Sort of Homecoming com Dave Letterman”, com produção da Imagine Documentaries de Ron Howard e Brian Grazer, Tremolo Productions e Worldwide Pants, estreia-se no Disney+ Portugal a 17 de março.
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