Com vários filmes na corrida aos Óscares este domingo, 25 de abril, a Netflix impõe a sua marca em todo o mundo e, juntamente com a Disney, é um dos poucos grupos de entretenimento capazes de criar referências culturais mundiais.

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"Cobra Kai" e "Gambito de Dama", duas produções da Netflix, que tem mais de 200 milhões de subscrições (mais de dois terços fora da América do Norte).

Na Índia, outra série da plataforma, "La Casa de Papel", lidera, assim como na Nigéria, enquanto no Egipto ocupa o quinto lugar.

No Brasil, segundo o site especializado Omelete, a exibição da terceira temporada de "Cobra Kai" no início de janeiro provocou um aumento de 75% nas pesquisas por escolas de karaté. No Iraque, opositores do governo gravaram e transmitiram um vídeo vestidos com os macacões vermelhos e as máscaras popularizados por "La Casa de Papel".

Em todos os quatro cantos do planeta, "a Netflix tornou-se o destino número um para quem procura um novo título de sucesso no mundo", escreveu recentemente Oliver Skinner, chefe de marketing da empresa de dobragens Voices.

Capaz de exibir ao mesmo tempo uma série traduzida para dezenas de idiomas, algo inédito, nos últimos meses a Netflix conseguiu várias vezes orientar a conversa dominante nas redes sociais sobre o seu conteúdo, seja através da série de documentários "Tiger King" ou "Lupin".

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No entanto, existe uma lacuna entre as séries da plataforma e os seus filmes. Apesar das 37 nomeações para os Óscares, nenhum deles (nem "Ma Rainey: A Mãe dos Blues", nem "Mank" ou "Os 7 de Chicago") teve grande impacto popular.

Num universo televisivo teoricamente mais fragmentado do que nunca, "algumas séries da Netflix [...] têm a mesma influência cultural dos três principais canais americanas" (ABC, CBS e NBC) até aos anos 1980, estima Gabriel Rossman, professor de sociologia com especialização na indústria do entretenimento na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).

"Happy Days" (1974-1984) ou "Dallas" (1978-1991) deram a volta ao mundo e marcaram uma geração de telespectadores, numa época em que as séries eram mais impostas do que escolhidas.

"Folclorização"?

Lupin

A Netflix, que cresceu antes dos seus concorrentes, mantém uma grande vantagem graças aos dados sobre os hábitos de consumo dos seus 207 milhões de subscrições, diz Aswin Punathambekar, professor da Universidade da Virgínia.

"Isto permite que entenda as tendências além da demografia e decida quais as séries a pedir", explica.

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"Isto equivale a perguntar se a influência cultural da Netflix é mais forte do que a da Disney. Não tenho certeza se esse é o caso neste momento", pondera Louis Wiart, professor do Departamento de Ciências da Informação e Comunicação da Universidade Livre de Bruxelas.

"O que se confirma é que estes novos mercados emergentes na Ásia e na América Latina são uma prioridade para a Netflix" devido ao surgimento de uma classe média "que tem acesso a novos modos de consumo digital e cultural" e que tem uma "forte afinidade com esta plataforma", ressalta.

Para melhorar a sua penetração no exterior e também atender à legislação local, a Netflix produz cada vez mais conteúdo local e, pela primeira vez, conseguiu fazer uma série espanhola ("La Casa de Papel") e uma série francesa ("Lupin") tornarem-se sucessos mundiais.

"A Netflix produz conteúdos locais, mas para o mercado global [...] que podem ser exportados para todo o mundo", aponta Wiart.

"Isso implica um risco de padronização [...], mas também um risco de 'folclorização' dos conteúdos, ou seja, da procura de obras que valorizam aspetos típicos do território", acrescenta.

"Estes conteúdos da Netflix têm um sotaque 'hollywoodiano' muito forte. [A série de ficção sobrenatural que reimagina a Revolução Francesa] 'La Révolution', por exemplo,  faz-nos pensar num blockbuster, e há muitos casos como este", aponta.

Para Gabriel Rossman, a Netflix atingiu o seu auge. A plataforma deve agora enfrentar a ascensão da concorrência do Disney+ ou Amazon Prime, que querem limitar a sua hegemonia usando a mesma estratégia, com uma base de programas em inglês e séries produzidas a nível local.

A Netflix divulgou na terça-feira resultados que dão os primeiros sinais de desaceleração e espera ganhar apenas um milhão de subscrições no segundo trimestre, contra 10 milhões no mesmo período de 2020.

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