"Aquilo que mais valorizamos além da diversidade é congratularmo-nos por valorizarmos a diversidade", brincou Jimmy Kimmel, o anfitrião do evento no Microsoft Theatre, em Los Angeles, num dos momentos iniciais da edição de 2016 dos Emmy Awards. E a piada fez sentido quando, ao longo de três horas, a cerimónia celebrou de facto a crescente visibilidade de várias minorias no panorama televisivo atual.

Nas categorias de Melhor Série não houve surpresas. Depois de ter triunfado na edição de 2015, "A Guerra dos Tronos" voltou a ganhar na categoria de Drama, arrecadando ainda os Emmys de Melhor Argumento e Melhor Realização - ambos pelo muito popular episódio "A Batalha dos Bastardos". No total, a produção épica da HBO somou 12 estatuetas nesta edição, o que foi suficiente para bater o recorde de série de ficção mais premiada de sempre dos "Óscares da televisão norte-americana" ao longo dos anos - conseguindo 38 vitórias e destronando "Frasier", que contou 37. Ainda assim, o recorde em todas as categorias, incluindo programas de não ficção, continua a pertencer a "Saturday Night Live", com 45 estatuetas.

A vencedora da Melhor Série Cómica também foi outra repetente. "Veep" conquistou o galardão depois de ter tido a primeira vitória nessa categoria na edição do ano passado. Mas Julia Louis-Dreyfus, que interpreta a protagonista, amealha já mais distinções, tendo ganho o Emmy de Melhor Atriz pela quinta vez consecutiva.

"Acho que 'Veep' quebrou a barreira entre comédia e política", assinalou a atriz no discurso de agradecimento. "A nossa série começou como sátira política, mas agora parece mais um documentário", contrastou, depois de pedir desculpa pela situação política dos EUA.

Press Room - 68th Primetime Emmy Awards

TV, a nova terra das oportunidades?

Mas se o panorama político é conturbado - e não faltaram alusões a Donald Trump ao longo da cerimónia -, a noite sugeriu que a produção televisiva pode ajudar a trazer alguns ventos de mudança - e de forma mais espontânea do que muitos destacados na corrida aos Óscares. O pequeno ecrã como nova terra das oportunidades? A segunda vitória de Jeffrey Tambor na categoria de Melhor Ator Cómico, por "Transparent", apontou nesse sentido. Até porque o ator deixou um apelo à indústria: "Por favor deem uma hipótese às pessoas transgénero. Deem-lhes audições. Deem-lhes histórias".

A criadora da série, Jill Soloway, reforçou esse direito à diferença ao dirigir-se ao fundador da Amazon, plataforma que apostou na história de uma matriarca transexual: "Convidaste-me para fazer isto a que as pessoas chamam de televisão. Mas eu chamo-lhe uma revolução. Sempre quis fazer parte de um movimento: o movimento dos direitos civis, o movimento feminista".

Mesmo assim, talvez não haja série mais feminista entre as nomeadas do que "Orphan Black", que abriu portas para a consagração de Tatiana Maslany, a Melhor Atriz numa Série Dramática deste ano. Era uma categoria com uma competição particularmente renhida - com a concorrência das mais experientes Claire Danes, Viola Davis, Taraji P. Henson, Keri Russell e Robin Wright -, mas a jovem canadiana arrecadou o prémio à segunda nomeação consecutiva, depois de ter sido uma das grandes surpresas na lista do ano passado.

Na série de ficção científica, Maslany interpreta várias personagens (as irmãs, ou "sestras", determinantes para o carisma da saga) e essa versatilidade fez dela uma das atrizes mais elogiadas do momento. Mas poucos apostariam na vitória. "Sinto-me tão lisonjeada por fazer parte de uma série que coloca as mulheres no centro", confessou no discurso de agradecimento, visivelmente emocionada.

Lugar aos novos

Outro momento de emoções tão ou mais fortes foi a aclamação de mais um novo talento, também ele um vencedor relativamente inesperado: Rami Malek, grande responsável por "Mr. Robot" se ter tornado num fenómeno de culto desde a estreia discreta no verão do ano passado. O norte-americano de ascendência egípcia que dá corpo a um hacker paranóico ganhou o Emmy de Melhor Ator numa Série Dramática, e pareceu tão surpreendido como os fãs. "Também estão a ver isto?", perguntou ao público, numa das tiradas da noite - pelo menos para quem acompanha a série. Mas Malek tinha mais a dizer. "Interpreto um jovem que é, como muitos de nós, profundamente alienado", sublinhou. "Quero honrar todos os Elliots. Há um bocadinho de Elliot em todos nós, não há?", deixou no ar.

Rami Malek

Mais uma surpresa nas categorias interpretativas, Ben Mendelsohn quebrou consideravelmente os ânimos dos adeptos de "A Guerra dos Tronos" ao ser distinguido como Melhor Ator Secundário numa Série Dramática pelo seu papel em "Bloodline", derrotando assim Peter Dinklage e Kit Harington. Mas as mulheres de Westeros também ficaram sem estatuetas, já que Lena Headey, Emilia Clarke e Maisie Williams perderam para Maggie Smith, Melhor Atriz Secundária numa Série Dramática pelo seu desempenho em Downton Abbey.

A vitória também não chegou a "House of Cards" nem a "Silicon Valley", apesar das 13 e 11 nomeações, respetivamente. "Fargo" conquistou apenas duas das 18 para as quais estava indicada e "The Americans", finalmente a chegar às principais categorias depois de muitos elogios da crítica durante quatro temporadas, não consumou nenhum triunfo.

Entre as perdedoras da noite conta-se ainda Beyoncé, cujo álbum visual "Lemonade" não venceu em nenhuma das quatro categorias para as quais estava nomeado.

Por outro lado, "Master of None", a série da Netflix protagonizada por Aziz Ansari, ganhou o seu primeiro Emmy, na categoria de Melhor Argumento de Série Cómica. Alan Yang, o argumentista, agradeceu mas lembrou que "ainda há um longo caminho a percorrer" na representação da comunidade asiática nos EUA. E deixou um pedido aos pais asiáticos: "Se pudessem oferece câmaras em vez de violinos aos vossos filhos, era bom".

No campeonato das minisséries e telefilmes, "The People v. O.J. Simpson: American Crime Story" foi o caso da noite, ao sair da cerimónia com cinco Emmys, incluindo o da muito celebrada vitória de Sarah Paulson. A atriz fez-se acompanhar na gala da verdadeira Marcia Clark, advogada a que dá corpo na produção de Ryan Murphy. E não se esqueceu dela no discurso de agradecimento. "A responsabilidade de interpretar uma pessoa real é enorme. Queremos fazê-lo bem não por nós mas por ela. Tal como o resto do mundo, tinha sido superficial e descuidada no meu julgamento, e estou feliz por estar aqui à frente de todos para pedir desculpa", disse. Depois da trama, o trono - este ano, quase democraticamente partilhado, ou pelo menos a tentar arranjar espaço para mais alguns.

Lista de vencedores:

Melhor Série Dramática: “A Guerra dos Tronos”
“The Americans”
“Better Call Saul”
“Downton Abbey”
“Homeland”
“House of Cards”
“Mr. Robot”

Melhor Série Cómica: “Veep”
“Black-ish”
“Master of None”
“Silicon Valley”
“Transparent”
“Uma Família Muito Moderna”
“Unbreakable Kimmy Schmidt”

Melhor Ator numa Série Dramática: Rami Malek, “Mr. Robot”
Kyle Chandler, “Bloodline”
Bob Odenkirk, “Better Call Saul”
Matthew Rhys, “The Americans”
Liev Schreiber, “Ray Donovan”
Kevin Spacey, “House of Cards”

Melhor Atriz numa Série Dramática: Tatiana Maslany, “Orphan Black”
Claire Danes, “Homeland”
Viola Davis, “Como Defender um Assassino”
Taraji P. Henson, “Empire”
Keri Russell, “The Americans”
Robin Wright, “House of Cards”

Melhor Ator numa Série Cómica: Jeffrey Tambor, “Transparent”
Anthony Anderson, “Black-ish”
Aziz Ansari, “Master of None”
Will Forte, “The Last Man on Earth”
William H. Macy, “Shameless”
Thomas Middleditch. “Silicon Valley”

Melhor Atriz numa Série Cómica: Julia Louis-Dreyfus, “Veep”
Ellie Kemper, “Unbreakable Kimmy Schmidt”
Laurie Metcalf, “Getting On”
Traces Ellis Ross, “Black-ish”
Amy Schemer, “Inside Amy Schemer”
Lily Tomlin, “Grace and Frankie”

Melhor Ator Secundário numa Série Dramática: Ben Mendelsohn, “Bloodline”
Jonathan Banks, “Better Call Saul”
Peter Dinklage, “A Guerra dos Tronos”
Kit Harington, “A Guerra dos Tronos”
Michael Kelly, “House Of Cards”
Jon Voight, “Ray Donovan”

Melhor Ator Secundário numa Série Cómica: Louie Anderson, “Baskets”
Andre Braugher, “Brooklyn Nine-Nine”
Keegan-Michael Key, “Key & Peele”
Ty Burrell, “Uma Família Muito Moderna”
Tituss Burgess, “Unbreakable Kimmy Schmidt”
Tony Hale, “Veep”
Matt Walsh, “Veep”

Melhor Atriz Secundária numa Série Dramática: Maggie Smith, “Downton Abbey”
Maura Tierney, “The Affair”
Lena Headey, “A Guerra dos Tronos”
Emilia Clarke, “A Guerra dos Tronos”
Maisie Williams, “A Guerra dos Tronos”
Constance Zimmer, “UnREAL”

Melhor Atriz Secundária numa Série Cómica: Kate McKinnon, “Saturday Night Live”
Niecy Nash, “Getting On”
Allison Janney, “Mom”
Judith Light, “Transparent”
Gaby Hoffmann, “Transparent”
Anna Chlumsky, “Veep”

Melhor Minissérie: “The People v. O.J. Simpson: American Crime Story”
“American Crime”
“Fargo”
“O Gerente da Noite”
“Roots”

Melhor Ator numa Minissérie ou Filme: Courtney B. Vance, “The People v. O.J. Simpson”
Bryan Cranston, “All The Way”
Benedict Cumberbatch, “Sherlock: The Abominable Bride”
Idris Elba, “Luther”
Cuba Gooding Jr., “The People v. O.J. Simpson”
Tom Hiddleston, “O Gerente da Noite”

Melhor Atriz numa Minissérie ou Filme: Sarah Paulson, “The People vs. O.J. Simpson: American Crime Story”
Kirsten Dunst, “Fargo”
Felicity Huffman, “American Crime”
Audra McDonald, “Lady Day at Emerson’s Bar & Grille”
Lili Taylor, “American Crime”
Kerry Washington, “Confirmation”

Melhor Reality Show/Concurso: “The Voice”
“The Amazing Race”
“American Ninja Warrior”
“Dancing with the Stars”
“Project Runway”
“Top Chef”

Melhor Programa de Variedades/Talk show: “Last Week Tonight with John Oliver”
“Comedians in Cars Getting Coffee”
“Jimmy Kimmel Live”
“The Late, Late Show with James Corden”
“Real Time with Bill Maher”
“The Tonight Show Starring Jimmy Fallon”

Melhor Telefilme: “Sherlock: The Abominable Bride”
“A Very Murray Christmas”
“All The Way”
“Confirmation”
“Luther”

Veja a lista completa no site oficial dos Emmys