O Supremo Tribunal dos Estados Unidos rejeitou esta segunda-feira o apelo de um dos protagonistas de "Making a Murderer", uma série documental de sucesso que ilustra as falhas do sistema penal do país.

A alta instância recusou examinar o caso sem dar conta dos motivos da sua decisão, confirmando a condenação a prisão perpétua por assassinato de Brendan Dassey, que milhões de americanos acreditam ser inocente.

O Supremo Tribunal "perdeu a grande oportunidade de melhorar a justiça, principalmente para os menores", disse Jerome Buting, um advogado envolvido no caso. Dassey tinha 16 anos na época do crime.

Desde 2015, milhões de pessoas no mundo apaixonaram-se por esta saga judicial transmitida pela Netflix sobre as humilhações sofridas por uma família de um meio social desfavorecido do estado de Wisconsin.

Tribunal impede libertação de protagonista de "Making a Murderer"
Tribunal impede libertação de protagonista de "Making a Murderer"
Ver artigo

As opiniões dividem-se sobre a culpa do personagem principal da história, Steven Avery, condenado em 2007 à prisão perpétua pelo assassinato de uma fotógrafa de 25 anos, Teresa Halbach.

Mas o que mais estremeceu os espectadores foi o destino do sobrinho de Avery, Brendan Dassey, condenado à mesma pena por este assassinato que ocorreu quando ele tinha 16 anos.

A acusação baseia-se num interrogatório policial extremamente controverso feito com o adolescente, que tem um nível intelectual limitado.

Ao longo desse interrogatório, filmado durante horas e sem a presença de um advogado, os investigadores usaram meios questionáveis para pressionar Brendan a fornecer elementos que incriminassem tanto ele como o seu tio.

Segundo os defensores, o adolescente foi influenciado pelo poder de sugestão dos policiais e pressionado a fazer uma confissão baseada em factos imaginários.

"Os interrogadores aproveitaram-se da juventude e deficiência mental de Dassey para convencê-lo de que estavam do lado dele. Não tiveram em conta a sua incapacidade clara de responder corretamente às muitas perguntas sobre o crime, puseram palavras na sua boca, as palavras que queriam ouvir, e lhe prometeram que se dissesse isso seria libertado", denunciou Seth Waxman, advogado do detido.

É raro que o Supremo Tribunal aceitar um pedido de retificação isolado de um suposto erro judicial.

Mas, segundo argumentou um grupo de procuradores, "milhões de americanos assistiram ao vídeo do interrogatório de Dassey no documentário 'Making a Murderer', o que gerou indignação pela visível falha do sistema".

Dassey tem atualmente 28 anos. Teve um julgamento em primeira instância e depois um de apelo que concluiu que as suas declarações foram forçadas pela polícia.

Mas o tribunal de recurso de Chicago tinha dado razão ao estado de Wisconsin, que luta contra a libertação do prisioneiro.