Duas semanas depois de ter sido afastada da apresentação do «Jornal Nacional» das sextas-feiras da TVI, Manuela Moura Guedes parece cansada e deprimida. Numa conversa com SapoTV, a jornalista deu voz às suas mágoas...
O stress das últimas semanas afecta a sua saúde?
Afecta-me fisicamente, sim. Tenho um psicossomático muito complicado. A minha cabeça está de tal forma que isso se reflecte em manifestações físicas, dores de estômago, vómitos. Mas controlo as coisas com medicamentos, para me acalmar. Mas isto não é de agora - acontece há muitos anos, mesmo antes de entrar para o estúdio. Pensava: «Deus queira que ninguém me veja, porque isto é uma vergonha. Eram os nervos!»
Combate isso com anti-depressivos?
Bem, eu não quero falar disso mas às vezes tenho que tomar qualquer coisa. É raro, mas por vezes tomo ansiolíticos. Nada de muito forte, se não fico a dormir e não convém. Mas já me habituei...
Como reage quando as pessoas agora vêm ter consigo, numa atitude de solidariedade?
Recebo essas manifestações com muita satisfação. Tenho tido o carinho de muitos anónimos. Pessoas que estavam habituadas a ver o meu jornal às sextas-feiras e que agora querem mostrar o seu desânimo e o seu descontentamento por já não terem o jornal.
Neste momento sente que está sozinha na Redacção do Jornal Nacional da TVI?
Não quero falar sobre isso, aliás não posso falar sobre isso. Esta é para mim uma situação muito complicada.
Qual é a sua vontade a nível profissional?
A única coisa que eu sempre gostei foi de ser jornalista...
Gosta de ser jornalista, mas também gosta de cantar...
Isso é um hobby. Não posso levar isso à séria porque não tenho talento suficiente para cantar.
O Portugal de hoje é diferente quando comparado com esses anos em que cantava?
Os anos passam e as pessoas estão muito viradas para coisas que não interessam verdadeiramente. Estão mais viradas para coisas materiais e isso não é o mais importante. Chegam ao final da vida e o que é que fizeram? Essa cultura faz com que as pessoas percam o interesse e deixem de dar atenção às coisas que interessam.
Sente que perdeu parte da sua vida na TVI, é isso que quer dizer?
Não sou só eu. A maior parte das pessoas, hoje em dia, passam a maior parte do tempo a tentar corresponder àquilo que lhes é pedido no trabalho. Somos todos assim. A sociedade é cada vez mais exigente, cada vez mais a competição é maior e as pessoas têm muito pouco tempo para dar aos outros, à família e aos amigos.
Isso aconteceu com a sua própria família?
Quando era mais nova sim, e arrependo-me disso. O desejo era o de provar qualquer coisa e mostrar que era capaz. Hoje em dia estou-me nas tintas. Os meus filhos também vão passar por isso e será normal se eles quiserem provar qualquer coisa. Mas falo dos valores de toda uma sociedade, que nos obriga a viver permanentemente assim.
A Manuela ainda tem que provar mais alguma coisa?
Não me interessa provar coisa nenhuma. Aquilo que faço é com gosto e sinto que tenho um papel, como todos nós, jornalistas. Não quero ser pretensiosa ao dizer que temos uma missão, mas servimos para alguma coisa e se não cumprirmos esse papel então é porque estamos a fazer mal aquilo que devemos fazer. Quero mostrar a realidade tal e qual como ela é. Não quero recompensa nenhuma. Fiz o que tive que fazer, mas as injustiças são outra coisa...
(Texto: Joana Côrte-Real)
(Fotos: Bruno Raposo)
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