Os sete presos recém-chegados são voluntários e inocentes, e tanto os guardas da prisão como os outros reclusos ignoram a sua presença.

A série "60 Days In", do canal A&E, de 12 episódios, tem como cenário a prisão do condado de Clark em Jeffersonville, Indiana. Foi o xerife local, Jamey Noel, quem teve a ideia.

O objetivo? Utilizar os sete inocentes, três mulheres e quatro homens, como delatores para "limpar" a prisão, cujos habitantes cumprem sentenças por diferentes delitos, desde pequenas infrações até homicídio.

"A única forma de saber realmente o que está a acontecer na prisão é colocar os participantes inocentes no sistema para obter informação de primeira mão e imparcial", justificou o xerife.

"Os voluntários têm-nos ajudado a identificar problemas graves dentro do nosso sistema que agentes policiais infiltrados não conseguiriam encontrar", diz, "porque poderiam ter receio de denunciar os colegas corruptos".

Entre os voluntários está a mais velha dos nove filhos do pugilista Muhammad Alí, Maryum, uma assistente social especializada na prevenção de gangues que teve de mudar de nome para não ser reconhecida pela internas da ala feminina da prisão.

"Náuseas" a partir da cela

Cada participante tem as suas próprias razões para se arriscar na aventura durante 60 dias, longe das suas famílias.

Alguns estão convencidos de que a estadia na prisão é cómoda e que os detidos têm uma vida cor de rosa, como Robert, um professor.

Os infiltrados memorizaram uma história falsa, que deverão contar aos seus companheiros de cela caso façam perguntas.

Os outros internos sabem que um programa está em preparação, mas acreditam que a equipa de televisão está ali para seguir os "novos" durante sua primeira experiência na prisão.

Somente alguns funcionários estão a par do verdadeiro conceito da série.

Um deles, um homem de estatura imponente, advertiu os concorrentes pouco antes da sua entrada: mantenham-se discretos, mas não muito; não digam nada de pessoal aos demais internos; evitem as drogas e a violência; e principalmente permaneçam fiéis à sua identidade falsa.

Robert, talvez com muita confiança, quebra imediatamente todas as regras. Recém-chegado, pede a um homem que coloque na televisão comum no canal especializado em futebol americano. Atrapalha-se quando conta porque chegou ali, mistura os detalhes e semeia a dúvida entre os internos.

Os presos suspeitam rapidamente que se trata de um policial infiltrado, pelo seu corte de cabelo e gestos, que se parecem com os dos agentes acostumados a levar uma arma no cinto.

As câmaras gravam os homens a discutir  sobre a verdadeira identidade de Robert. Ouve-se cochichar, planear um contrabando de cigarros e até uma violação.

Em geral os críticos televisivos elogiaram o programa, com algumas exceções.

"No subgénero da sobrevivência, na televisão-realidade, o interior de uma prisão representa uma das últimas fronteiras, a versão claustrofóbica da ilha deserta ou das grandes extensões do Alasca", escreveu Brian Lowry, crítico de televisão da revista Variety.

Mas o programa deu-lhe "náuseas", especialmente pelas dúvidas sobre as intenções reais do xerife Jamey Noel.

"O exercício pode ter sido bom para as autoridades, mas não podemos deixar de pensar que, como na maioria dos reality shows, '60 Days Inn' é o primeiro a conseguir seus 15 minutos de fama", diz.