A 24 de outubro, "A Nossa Tarde", programa da RTP1, dedicou uma reportagem sobre a família de Nuno Cláudio Cerejeira, um pai de trigémeos. Esta semana, a SOS Racismo lembrou que o convidado esteve envolvido "nos episódios de agressões raciais que, em 1995, provocaram dezenas de feridos e que levariam à morte de Alcindo Monteiro".

Nas redes sociais, Tânia Ribas de Oliveira reagiu à polémica. "Quem me conhece sabe que sou uma pessoa de palavras mas, mais importante ainda, de palavra (...) Sinto que devo também, em nome pessoal, pedir desculpa pelo nosso erro enquanto equipa", começa por escrever a apresentadora do programa da RTP1.

"Assumimos a nossa ingenuidade e até a nossa ignorância. Assumimos a nossa responsabilidade, a nossa tristeza e pedimos desculpa. Mas não poderemos nunca identificar-nos com qualquer comentário que nos relacione com quaisquer ideais que não sejam os da Igualdade, da Tolerância e do Amor. Isso, não. Como cidadã, como mulher e como mãe, abraço agora a família e amigos de Alcino Monteiro", frisa.

Leia o post da apresentadora:

Depois do comunicado do SOS Racismo, a produção do programa da RTP1 reagiu à polémica. "No passado mês de outubro foi-nos sugerida pela Fundação Ronald McDonald, da qual a Tânia Ribas de Oliveira é uma das embaixadoras, a história do casal Cláudia e Cláudio, que depois vários anos a tentarem ser pais, tinham conseguido, sem qualquer tratamento, ter trigémeos", começa por explicar a equipa do talk show.

"No dia 24 de outubro o casal veio ao nosso programa, acompanhado da diretora da Casa Ronald Macdonald Ana Patacho, falar exclusivamente da experiência da paternidade a triplicar. A coordenação do programa 'A Nossa Tarde' não teve nenhum conhecimento sobre os antecedentes criminais do pai, nem tão pouco das suas convicções políticas. Nunca o teríamos recebido, se soubéssemos", frisa a coordenação.

Em comunicado, o programa lamenta o sucedido: "Lamentamos muito o sucedido e pedimos desculpa a todos quantos se tenham sentido ofendidos".

Na nota enviada à imprensa, "o SOS Racismo não só condena a normalização da imagem de um individuo racista e que perfilha assumidamente a ideologia fascista, como exige esclarecimento e tomada de posição pela Tutela da televisão pública, pelo conselho de administração e direção editorial da RTP".

"O referido indivíduo, além de condenado a prisão efetiva por crimes de ofensas corporais e pelo seu envolvimento nesses atos de violência extrema é, também, um atual e persistente militante da causa neonazi. Como é do conhecimento público, é um dos elementos dos Hammerskins em Portugal, organização internacional criminosa e neonazi, proprietário do Club 38, local conhecido como uma 'skinhouse', frequentado por neonazis, e membro da Luz Branca, outra associação racista cujo propósito era prestar solidariedade apenas a 'crianças brancas'. No seu cardápio inclui-se ainda condenações em tribunal por crimes de roubo, sequestro, coacção e posse ilegal de armas", explica o SOS Racismo em comunicado.

"Não podemos ignorar que, numa altura em que os discursos de ódio vão ganhando espaço e legitimidade institucional um pouco por toda a Europa, a televisão pública em Portugal eleja por modelos familiares propagandistas da causa neonazi", frisam.