A posição da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em relação à agressão de Will Smith a Chris Rock na cerimónia dos Óscares continua a evoluir e depressa: segundo a revista The Hollywood Reporter (THR), o caso vai ser debatido internamente já esta quarta-feira.

Normalmente, o encontro para dissecar o que aconteceu na última cerimónia realiza-se um mês mais tarde.

Duas horas após o fim da cerimónia, a organização fez uma primeira declaração a dizer que "não tolera qualquer tipo de violência" e tinha "o prazer de celebrar os nossos vencedores dos 94.º Óscares, que merecem este momento de reconhecimento dos seus colegas e amantes do cinema em todo o mundo".

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Esta segunda-feira, a organização foi mais clara na sua posição num comunicado oficial: "A Academia condena as ações do senhor Smith no evento de ontem à noite", disse a organização num comunicado enviado à comunicação social.

"Iniciámos oficialmente uma revisão formal do incidente e estudaremos outras ações e consequências em concordância com os nossos estatutos de conduta e a lei da Califórnia", acrescentou.

Segundo a THR, esta nova posição pública foi tomada após uma reunião de emergência por telefone de membros do Conselho de Governadores, que representa todos os ramos da Academia, incluindo o presidente David Rubin e a CEO Dawn Hudson.

Algumas horas depois, Will Smith pediu desculpas públicas a Chris Rock pela sua agressão, em contraste com as imagens de festa e despreocupação vistas no domingo à noite na festa pós-Óscares da revista Vanity Fair, onde chegou com a família e uma grande equipa e disse que estava tudo bem.

Will Smith com a família à entrada da festa da revista Variety

Medidas concretas contra o ator podem surgir ainda esta semana: foi marcada uma reunião com todos os 55 membros do Conselho para esta quarta-feira e espera-se que a agressão seja o tema principal.

Houve apelos para que a Academia retirasse o Óscar que ganhou nessa noite por "King Richard: Para Além do Jogo", mas a atriz Whoopi Goldberg, que faz parte do Conselho, afastou essa possibilidade.

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"Haverá consequências, tenho a certeza, mas não acho que isso seja que farão. Especialmente porque o Chris [Rock] disse que não apresentará queixa", disse Whoopi Goldberg na manhã de segunda-feira no programa de TV "The View", emitido no mesmo canal que transmitiu os Óscares.

Will Smith corre o risco de sofrer sanções disciplinares, que podem ir, segundo o código de conduta da Academia, de uma simples admoestação até à expulsão, passando pela suspensão.

O escândalo foi provocado por uma brincadeira de Chris Rock sobre a cabeça rapada de Jada Pinkett Smith, esposa de Will Smith, que sofre de alopecia, o nome médico para a perda de cabelo.

Apesar de ter inicialmente rido, o ator de 53 anos levantou-se, subiu a palco, deu uma bofetada ao comediante e regressou ao lugar, de onde gritou duas vezes: "Mantenha o nome da minha mulher fora da sua 'fucking mouth'".

Os palavrões foram cortados na emissão nos EUA aproveitando os sete segundos de 'delay', mas não a nível internacional e rapidamente o momento se tornou viral.

Veja o momento no vídeo abaixo:

Numa cerimónia em que tudo é planeado ao detalhe, os presentes no local e quem assistia em casa começaram por achar tratar-se de uma brincadeira encenada, mas rapidamente ficou claro que o momento tinha sido genuíno e tinha mesmo sido uma espécie de rixa e não uma rábula.

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Chris Rock continuou com a sua apresentação dos nomeados para Melhor Documentário de forma muito profissional, mas debaixo de uma evidente tensão após dizer "Uau, o Will Smith acabou de me bater" e "Esta foi... a maior noite na história da televisão".

A THR revelou os principais responsáveis da Academia (Dawn Hudson e David Rubin), acompanhados do porta-voz da organização, correram para os bastidores com "o ar mais sério que se pode ter" assim que chegou o intervalo e entraram apressadamente numa sala privada com Meredith O’Sullivan Wasson, a publicista do ator.

Hudson e Rubin nunca regressaram aos seus lugares e a publicista passou os intervalos seguintes a deslocar-se entre os bastidores e o lugar do ator.

Também os atores Denzel Washington e Bradley Cooper, assim como o realizador Tyler Perry, terão falado com Will Smith durante a pausa na cerimónia.

Ao receber mais tarde a estatueta de Melhor Ator por "King Richard: Para Além do Jogo", este referiu indiretamente o momento de tensão com Chris Rock por algumas vezes no seu discurso.

O ator começou o discurso dizendo "o Richard Williams era um defensor feroz da sua família", numa aparente alusão ao incidente.

"Neste momento da minha vida, estou dominado pelo que Deus me destina a fazer no mundo", disse ainda. "Nesta indústria temos de estar habituados a ter pessoas a desrespeitarem-te e sorrir perante isso", acrescentou.

Smith mencionou igualmente o ator Denzel Washington, que tentou acalmar, lembrando-lhe que, "no momento mais alto, é quando o diabo nos tenta".

No meio do discurso e sem referir diretamente o momento com Chris Rock, Will Smith acabou por pedir desculpa: "Quero pedir desculpa à Academia e aos meus colegas nomeados. O amor faz-nos fazer coisas loucas". E terminou dizendo "espero que a Academia volte a convidar-me".