No dia 21 chegará aos cinemas a longa-metragem "Km 224", protagonizada por Ana Varela e José Fidalgo, nos papéis de um casal que disputa a tutela legal dos dois filhos, no meio de um processo de divórcio e de decisões profissionais determinantes para ambos.
António-Pedro Vasconcelos explicou que escreveu o argumento a partir de uma ideia da escritora Filipa Pais. Mais do que filmar o desgaste de um casal a separar-se, quis focar-se nos filhos, interpretados por Gonçalo Menino e Sebastião Matias.
"Para mim, o que era importante era não tomar partido por nenhum deles, mas pelos filhos, que são sempre os inocentes", disse.
A razão de ser do título do filme só se revela quase ao fim de duas horas de história, na resolução simbólica da trama, entre Lisboa e Sevilha.
Depois de ter feito cinco longas-metragens com o produtor Tino Navarro, de "Call Girl" (2007) a "Parque Mayer" (2018), António-Pedro Vasconcelos voltou a trabalhar com Paulo Branco, retomando uma colaboração que estava interrompida há mais de trinta anos, por causa de uma separação "um bocado traumática".
"Eu conheci o Paulo Branco há 50 anos. Somos amigos há 50 anos", relembra António-Pedro Vasconcelos.
Paulo Branco foi assistente em "Perdido por cem..." (1973), a primeira longa-metragem de ficção de António-Pedro Vasconcelos, e produziu o filme seguinte, "Oxalá" (1981), sendo uma das suas primeiras produções de cinema.
A rutura deu-se ao terceiro filme, "O lugar do morto" (1984), mas sobre ela o realizador não dá detalhes: "Desentendemo-nos e foi uma coisa um bocado traumática para os dois. Separámo-nos e deixámos de nos dar e eu acabei por produzir o meu filme. Durante anos ele fez a sua vida e eu fiz minha".
Há dez anos houve “uma reaproximação”. "Ele viu a obra que fiz entretanto e eu reconheci que ele fez a sua vida sozinho; é um produtor irregular, no sentido que nem todos os filmes são obras-primas", afirmou.
Enquanto "Km 224" chega aos cinemas, António-Pedro Vasconcelos e Paulo Branco têm um projeto de adaptação de "Lavagante", uma obra inacabada do escritor José Cardoso Pires, editada a título póstumo em 2008.
"É um filme que me interessa, porque tem um grande conflito e ajuda os mais jovens a perceberem o que foi o fascismo. É um filme de certa maneira mais duro sobre o que foi a ditadura. Peguei no conto, a família do Cardoso Pires aceitou que fizesse a adaptação", explicou António-Pedro Vasconcelos, que assina o argumento adaptado.
O realizador revela que o projeto será apresentado a concurso no Instituto do Cinema e Audiovisual, mas mantém, ainda assim, a posição de total discordância pela forma como os apoios financeiros são atribuídos, por escolha de júris.
"O sistema em Portugal é completamente absurdo. [...] Não faz sentido que sejam cinco cabeças que escolhem que filmes é que os portugueses merecem ver, e que decidem a carreira dos realizadores. Não pode ser. Não estou a dizer que os jurados não sejam competentes. Não é possível deixar que a decisão sobre uma arte fique entregue a cinco pessoas que decidem", lamentou.
António-Pedro Vasconcelos, que está prestes a cumprir meio século desde a estreia da primeira longa-metragem, "Perdido por cem..." (1973), contará com uma versão longa de "Km 224", em formato minissérie televisiva.
Reconhece que atualmente a criatividade na escrita de argumentos está nas séries para televisão, mas considera-se, sobretudo, um realizador de longas-metragens, para serem vistas no grande ecrã.
"Eu gosto de fazer filmes para as salas, tenho a noção de que a prazo não direi que está condenado, mas é uma coisa que vai representar muito pouco na economia do cinema. Enquanto eu puder fazer filmes, e enquanto houver salas, vou fazendo, mas deixou de ser a minha prioridade. A coisa que eu mais gosto na vida é filmar com atores, mas se não filmar, farei outra coisa. Gosto muito de escrever e tenho projetos de livros para escrever", disse.
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