Juntar os atores originais da saga "Harry Potter" num novo filme é "impossível".

A razão está relacionada com a própria escritora J.K. Rowling, acusada de transfobia por uns e uma heroína para outros por causa dos seus polémicos comentários sobre pessoas transgénero.

A revelação foi feita por Chris Columbus, que dirigiu os dois primeiros filmes, "Harry Potter e a Pedra Filosofal" (2001) e "Harry Potter e a Câmara dos Segredos" (2002), e produziu "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" (2004), decisivos para lançar a saga liderada por Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson.

De facto, o realizador revelou que desistiu de tentar levar ao cinema uma adaptação de "Harry Potter and the Cursed Child", a popular peça de teatro de 2016 que decorre 19 anos depois do final da saga original de Rowling, em que Harry Potter tem 37 anos e trabalha no Ministério da Magia, Hermione é Ministra da Magia e Ron continua bem humorado.

"Nunca vai acontecer. Tornou-se tão complicado com toda a parte política. Cada um no elenco tem a sua própria opinião, que é diferente da opinião dela, o que torna tudo impossível", disse Columbus em entrevista recente ao jornal britânico The Times.

O realizador acrescentou que não fala com a escritora há pelo menos uma década, "portanto não faço ideia do que se está a passar com ela, mas mantenho um contacto muito próximo com Daniel Radcliffe e falei com ele há poucos dias. Ainda tenho uma ótima relação com todos os miúdos no elenco."

"Harry Potter and the Cursed Child"

J.K. Rowling está envolvida em controvérsias desde 2018, depois de afirmar que os direitos das mulheres podiam estar ameaçados por certas reivindicações das pessoas transgénero.

As frequentes mensagens na sua conta X (antigo Twitter) levaram-na a ser acusada de transfobia e de propagar discurso de ódio, e ao distanciamento público de Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint. Outros defendem-na elogiosamente como uma "feminista radical" na defesa dos direitos das mulheres biológicas.

Alvo de boicote por parte de jovens fãs dos livros, a autora lamentou num texto publicado no jornal The Times em maio de 2024 não ter começado o seu ativismo mais cedo e que acreditava que "o movimento sociopolítico que insistia que 'mulheres trans são mulheres' não era nem bem-intencionado nem tolerante, mas era na verdade profundamente misógino, regressivo, perigoso nos seus objetivos e autoritário nas suas táticas".

Em maio de 2024, nos últimos comentários conhecidos pelo tema, Daniel Radcliffe disse que o "entristece muito" a posição pública de Rowling e acrescentava que não falavam há anos.

"Porque olho para esta pessoa a quem conheci, o tempo que passámos, os livros que escreveu, o mundo que criou, e tudo isso é, para mim, tão profundamente empático", notou.

Em 2020, após a escritora ironizar sobre um artigo que usava a expressão "pessoas com menstruação", a decisão do ator de responder em comunicado tornou-se viral: "mulheres transgénero são mulheres".

Já Rowling, ao responder a um comentário nas redes sociais em abril de 2024, sugeriu que não perdoaria aos três atores caso lhe pedissem desculpa.

"As celebridades que aderiram a um movimento que pretende minar os direitos das mulheres, conquistados com tanto esforço, e que usam as suas plataformas para aplaudir a transição [de género] de menores, podem guardar as suas desculpas para as mulheres traumatizadas e vulneráveis que dependem de espaços unissexo", escreveu.