A organização do Festival de Cannes anunciou a seleção oficial (ainda não completamente fechada) da 71ª edição, que decorrerá entre 8 e 19 de maio, sem a presença de qualquer filme português.

A única ligação nacional surge através de "O Grande Circo Místico", coprodução luso-brasileira e francesa do realizador brasileiro Carlos Diegues, apresentado em sessão especial (fora das secções principais), em que está envolvida a Fado Filmes.

A conferência de imprensa que juntou o presidente Pierre Lescure e o diretor-geral Thierry Frémaux realizou-se esta quinta-feira, com o segundo a destacar uma grande renovação de cineastas, com presenças inesperadas na seleção, principalmente da Ásia, e poucos filmes americanos.

Foram submetidos ao festival 1906 títulos e é provável que ainda se juntem mais alguns às secções nas próximas semanas, bem como o anúncio do filme de encerramento.

Significativamente, perto do fim falou-se de Lars Von Trier: questionado se o mais recente filme do dinamarquês tinha sido excluído por ainda ser "persona non grata" em Cannes pelos comentários controversos que fez há uns anos, Thierry Frémaux sugeriu que lhe voltassem a perguntar "dentro de alguns dias".

Assim, na corrida à Palma de Ouro, que será escolhida por um júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, surgem filmes assinados por Alice Rohrwacher, David Robert Mitchell, Nadine Labaki, Stephane Brizé, Eva Husson, embora existam títulos de realizadores mais mediáticos.

"Todos lo saben", conhecido por "Everybody Knows" a nível internacional, do realizador iraniano Asghar Farhadi e protagonizado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín, já fora antecipado tanto como o filme de abertura do festival como o primeiro na secção competitiva.

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"Le livre d'image", do lendário Jean-Luc Godard, descrito como um filme-ensaio, merece um destaque especial: vale a pena recordar que o cartaz oficial da 71ª edição é de uma icónica fotografia de "Pedro o Louco", do mesmo realizador, de 1965.

Outra presença na competição é "Three Faces", de iraniano Jafar Panahi, que está em prisão domiciliária no seu país. O realizador iraniano dissidente tem filmado de forma praticamente clandestina e em 2015 conseguiu mostrar o filme "Taxi" em Berlim, recebendo o prémio Urso de Ouro.

Thierry Frémaux referiu que será enviada uma carta, também apoiada pelo governo francês, a apelar para que seja autorizada a sua vinda ao festival para a apresentação e o mesmo será feito com o Kirill Serebrennikov, selecionado por "Leto": o diretor artístico do Centro Gogol foi detido em 2017 e mantido em prisão domiciliária, por suspeita do desvio de fundos públicos.

Pela dimensão mediática, o presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou qualquer ação de censura ou pressão sobre o encenador e realizador.

Matteo Garrone, que ganhou o Grande Prémio do Júri em 2008 com "Gomorra", regressa com "Dogman", enquanto Pawel Pawlikowski, que ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro com "Ida" (2013), apresenta "Cold War".

Regressos à seleção principal destacados pela organização após uma longa ausência foram os do norte-americano Spike Lee, com "BlacKKKlansman", 27 anos depois de ter apresentado "Febre da Selva", e Christophe Honoré com "Sorry Angel", 11 anos após "As Canções de Amor", bem como a presença de três mulheres: Eva Husson ("Les filles du soleil"), Nadine Labaki ("Capernaum") e Alice Rohrwacher ("Lazzaro Felice").

Questionado pelos jornalistas sobre a ausência de "O homem que matou D. Quixote", de Terry Gilliam, Thierry Frémaux respondeu, de forma lacónica, que a seleção não está ainda fechada e que há processos judiciais a decorrerem em tribunal.

O festival não inclui títulos Netflix porque a plataforma optou por se retirar completamente por causa das regras que banem filmes da competição principal que não tenham data de estreia garantida nas salas de cinema francesas.

"Han Solo: Uma História de Star Wars" foi também confirmado como uma antestreia mundial fora da competição e Cannes assinalará ainda os 50 anos de "2001: Odisseia no Espaço" e os 90 do nascimento do realizador Stanley Kubrick, com a estreia de uma cópia de 70 mm, numa sessão que será apresentada pelo cineasta Christopher Nolan.

Filme de Abertura

"Everybody Knows", de Asghar Farhadi

Secção Competitiva

"Le Livre D’Image", de Jean-Luc Godard
"Black Klansman", de Spike Lee
"Three Faces", de Jafar Panahi
"Cold War", de Pawel Pawlikowski
"Leto", de Kirill Serebrennikov
"Lazzaro Felice", de Alice Rohrwacher
"Under The Silver Lake", de David Robert Mitchell
"Capernaum", de Nadine Labaki
"En guerre", de Stephane Brizé
"Asako I & II", de Ryusuke Hamaguchi
"Sorry Angel", de Christophe Honoré
"Dogman", de Matteo Garrone
"Girls of the Sun", de Eva Husson
"Yomeddine", de A.B Shawky
"Burning", de Lee-Chang Dong
"Shoplifters", de Kore-Eda Hirokazu
"Ash Is Purest White", de Jia Zhang-Ke

Secção Un Certain Regard

"Long Day’s Journey Into Night", de Bi Gan
"Little Tickles", de Andréa Bescond & Eric Métayer
"Sofia", de Meyem Benm’Barek
"Border", de Ali Abbasi
"Sextape", de Antoine Desrosières
"The Gentle Indifference of the World", de Adilkhan Yerzhanov
"El Angel", de Luis Ortega
"In My Room", de Ulrich Kohler
"The Harvesters", de Etienne Kallos
"My Favorite Fabric", de Gaya Jiji
"Friend", de Wanuri Kahiu
"Euphoria", de Valeria Golino
"Angel Face", de Vanessa Filho
"Girl", de Lukas Dhont
"Manto", de Nandita Das

Sessões especiais

"Dead Souls", de Wang Bing
"10 Years In Thailand", de Aditya Assarat, Wisit Sasanatieng, Chulayarnon Sriphol & Apichatpong Weerasethakul
"Pope Francis – A Man Of His Word", de Wim Wenders
"La Traversée", de Romain Goupil
"To The Four Winds", de Michel Toesca
"O Grande Circo Místico", de Carlos Diegues
"The State Against Mandela And The Others", de Nicolas Champeaux & Gilles Porte

Sessões da meia-noite

"Arctic", de Joe Penna
"The Spy Gone North", de Yoon Jong-Bing

Fora da Competição

"Le Grand Bain", de Gilles Lellouche
"Han Solo: Uma História de Star Wars", de Ron Howard