Dr. King Schulz é um dentista alemão que trabalha nos EUA como caçador de recompensas. Estamos em 1858 e no novo filme de
Quentin Tarantino,
«Django Libertado», com
Christoph Waltz a voltar a dominar todas as cenas no papel de uma personagem germânica, à imagem do que já acontecera em
«Sacanas sem Lei», que lhe valeu o óscar de Melhor Ator Secundário. O intérprete está nomeado para o mesmo troféu pelo seu novo papel, mas não deixa de sublinhar que para ele o trabalho é a única coisa que interessa.
Trabalhar com Tarantino
«Eu sabia do papel do King Schultz desde o início do projecto, mas o Quentin não mo descreveu. Ele não descreve nada, ele só escreve. Ele foi-me mantendo sempre informado à medida que a coisa ia evoluindo. E literalmente, porque eu ia lendo as páginas à medida que ele as ia escrevendo. E essa é a melhor maneira, porque claro que a escrita dele é perfeita mas não podemos desligar a nossa imaginação. Depois claro que trabalhei com ele mais tarde, durante a rodagem, mas o que eu precisava de saber já ali estava. Há muitos realizadores que são excepcionais a venderem-nos um papel, que conseguem sempre transformá-lo em qualquer coisa de sensacional. Eu não gosto disso, eu gosto de ver aquilo que o argumentista escreveu na página e decidir por aí».
Relação com o «western»
«Bom, eu não sou particularmente um fã de «westerns». Aliás, durante algum tempo eu tinha um problema com os «westerns», eu não gostava mesmo de «westerns» clássicos e preferia os «westerns-spaghetti», porque há todo um outro lado muito diferente no género quando ele foi feito em Itália, ou no resto da Europa. Por exemplo, também houve «westerns» na Alemanha nos anos 60 e 70, imensos «westerns», só que não eram grande coisa, eram filmes para crianças».
O estilo Tarantino
«Uma das marcas distintivas do Quentin Tarantino é que ele tem uma história para contar e depois escolhe um género e utiliza todos os elementos desse género para a contar. E eleva esses elementos a um patamar de qualidade diferente, quer seja um «western», um «southern» ou um «eastern». É a historia que está por trás que interessa».
Disparar uma arma
«Fazer um «western» é divertido principalmente porque podemos montar a cavalo, e eu adoro cavalos. Também podemos disparar armas, mas isso aborrece-me mais. Eu nunca tinha disparado uma arma e por isso contratei um especialista para praticar e poder interpretar alguém muito familiarizado com armas. Mas os revólveres são chatos de disparar. As espingardas têm mais graça porque aí pode-se dar um uso maior à pontaria. De qualquer forma, tudo só funciona se estiver bem integrado numa boa história, o que é o caso».
Uma figura sisuda
«Os «sets» dos filmes do Quentin Tarantino são sempre muito divertidos, e ele gosta de manter fora do set essa mesma diversão, entusiasmo e felicidade. Eu não me importo com o bom humor mas sou mais reservado, gosto de ficar no meu canto, tenho uma forma um pouco sisuda de definir diversão. Divirto-me mais quando me concentro e me foco intensamente naquilo que estou a fazer. O que me interessa é perceber se o que estou a fazer é útil à historia ou é apenas decoração. E eu não gosto de decoração».
Rodar em New Orleans
«Claro que New Orleans é uma cidade divertida, só que isso não encaixa muito bem quando se está a rodar um filme. Uma rodagem em New Orleans não é sinónimo de diversão porque se me vão buscar às seis da manhã e levar de volta ao hotel às sete da tarde, a diversão bem pode continuar mas eu não serei necessariamente o participante mais ativo nela».
Relação com o racismo
«Ninguém é ingénuo sobre o que se passou nos EUA há 150 anos, e às vezes, com toda a honestidade e sem desrespeito, parece que na Europa sabemos muito mais do que lá se passava porque damos uma grande importância à História. Mas o racismo não está na minha fibra cultural, a escravatura e a relação entre brancos e negros como conflito social é algo que é me é estranho. Talvez se eu fosse francês ou inglês tivesse mais essa noção, mas como austríaco não tenho. E no plano pessoal é algo que me é completamente indiferente. Não que não esteja consciente disso, mas escolho o caminho de não ligar. O Jamie Foxx ficou a olhar para mim quando eu lhe disse que «eu vejo que tu és negro e eu sou branco. Eu gosto da diferença e gosto que haja uma diferença. Aquilo onde eu posso ser diferente da percepção habitual na América sobre isso é que eu não atribuo qualquer valor a essa diferença, nem positivo nem negativo». Eu faço as minhas escolhas morais, não faria sentido ser de outra maneira».
Trabalhar sem parar
«Eu só trabalho. A sério, é mesmo só isso que eu faço. Porque não só sou pago para o fazer como gosto muito de me concentrar no trabalho. Não tenho «hobbies» que necessitem de atenção, não levo o carro à oficina, gosto de me manter focado com o que estou a fazer. Gosto muito do meu trabalho por isso não preciso de me distrair dele».
O talento de Leonardo DiCaprio
«Algumas pessoas ficarão surpeendidas com o papel do Leonardo DiCaprio no «Django Libertado», mas outras já estariam à espera. E eu faço parte destes últimos. Há muito tempo que espero que ele faça um papel assim, tão duro e tão exigente, e desprovido de qualquer espécie de ego. E só posso dizer que é uma alegria trasbalhar com ele. Ele chegou mais tarde à rodagem e vinha completamente preparado, como se lá tivesse estado desde o início. O papel é excelente e acho que ele vai ter alguma dificuldade em encontrar melhor a seguir».
Heróis ou vilões?
«A personagem ser boa ou má está nos olhos de quem a vê. Eu não interpreto heróis ou vilões, só interpeto pessoas. E tento encontrar aquele traço da pessoa que funciona e que faz avançar a história. E o meu desafio principal é perceber em absoluto porque é que aquela personagem age daquela maneira, para a interpretar da forma mais credível possível».
Veja aqui as entrevistas
a Jamie Foxx e
a Quentin Tarantino.
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