O cinema do realizador António de Macedo estará em retrospetiva no Sitges – Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, em outubro em Espanha, que exibirá também o documentário "Nos Interstícios da Realidade", sobre o cineasta português.

A organização do festival fez um anúncio parcial do programa da 50.ª edição, que começa a 5 de outubro, e entre as novidades está a preparação de uma retrospetiva da obra de António de Macedo, 86 anos, integrante do movimento do Cinema Novo português e um dos raros cineastas portugueses com trabalho consistente na área do fantástico.

Em Sitges será mostrado ainda o documentário "Nos Interstícios da Realidade", do realizador João Monteiro e que traça o percurso de António de Macedo, desde a década de 1960 até uma homenagem que a Cinemateca lhe prestou em 2012.

No ano passado, o filme de João Monteiro teve estreia internacional no encerramento do festival DocLisboa.

Com formação em arquitetura, António de Macedo foi cineclubista, filmou entre as décadas de 1960 e 1990, esteve na origem da primeira cooperativa de cinema e deixou cerca de uma dezena de longas-metragens e quase meia centena de curtas-metragens, com um pendor experimental e contracorrente com o que vigorava no cinema.

Da filmografia do realizador fazem parte, por exemplo, "Domingo à Tarde" (1965, foto), a primeira longa-metragem e considerada uma das fundadora do Cinema Novo, "As Horas de Maria" (1979), filme com o qual foi considerado blasfemo e chegou a receber ameaças de morte.

Ainda na década de 1970, realizou "Nojo aos Cães", filme que veio a ser censurado pelo regime, mas com acolhimento no estrangeiro, tendo sido exibido em Bérgamo e em Benalmadena e distinguido com o prémio da Federação Internacional dos Cineclubes.

Em 1973, "A Promessa" tornou-se no primeiro filme português a ser selecionado oficialmente para o Festival de Cannes.

António de Macedo terminou a carreira nos anos 1990, ao fim de várias décadas de polémicas, incompreensão e falta de apoios financeiros.

Mais recentemente, vários festivais nacionais têm procurado recuperar o cinema do realizador português, desde o Fantasporto ao DocLisboa.

Em 2013, o Fantasporto homenageou António de Macedo, atribuindo-lhe o prémio Carreira, enquanto o MOTELx estreou, no ano passado, "O Segredo das Pedras", versão cinematográfica da minissérie “O Altar dos Holocaustos” (1992).

No documentário "Nos Interstícios da Realidade", de João Monteiro, que conta com depoimentos de várias personalidades do cinema, António de Macedo afirma: "Procurei sempre tentar inovar, fazer qualquer coisa que movimentasse, que agitasse este país em termos cinematográficos, e nunca tive resposta positiva".

O festival de Sitges, "com as mais variadas visões do fantástico", está marcado de 5 a 15 de outubro e contará com uma programação especial por se celebrar a 50.ª edição, apadrinhada pelo realizador e produtor Guillermo del Toro.

Serão atribuídos prémios de honra à atriz Susan Sarandon e ao realizador William Friedkin e será mostrado cinema de Yorgos Lanthimos, Jaume Balagueró ou Santiago Segura, e, em parceria com a plataforma Netflix, a nova temporada da série "Stranger Things", dos irmãos Duffer, e o filme sul-coreano "Okja", de Bong Joon-ho.