Os atentados terroristas aos EUA a 11 de setembro de 2001, que tiveram o seu momento mais emblemático na destruição das torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque, traumatizaram o planeta. O cinema, naturalmente, não foi indiferente ao evento, e abordou-o diretamente com graus diferenciados de sensibilidade.
Os dois filmes mais célebres e importantes relacionados com o 11 de Setembro estrearam ambos em 2006, já cinco anos depois da tragédia:
«Voo 93», escrito e produzido pelo britânico
Paul Greengrass, e
«World Trade Center», dirigido por
Oliver Stone.
O arrepiante
«Voo 93» coloca o espetador dentro do avião da United Airlines raptado por membros da al-Qaeda para atingir um alvo em Washington (provavelmente a Casa Branca ou o Capitólio), destino evitado pela intervenção dos passageiros, que não conseguiram impedir que o avião se despenhasse sem qualquer sobrevivente. O filme acompanha a tragédia em tempo real e com atores desconhecidos e em registo semi-documental, o que torna o seu visionamento uma experiência quase insuportável.
Já
«World Trade Center» aborda a tragédia de um ponto de vista mais humanista, com Oliver Stone a fugir às suas habituais teorias da conspiração para centrar-se na história verídica de dois polícias (interpretados por
Nicolas Cage e
Michael Peña) que ficaram soterrados nos destroços do edifício e conseguiram sobreviver, numa história intensa de heroísmo face à tragédia.
A primeira película a abordar o evento surgiu logo em 2002,
«11'09'01 - 11 Perspectivas», e reuniu num mesmo filme 11 cineastas de países diferentes que deram cada um a sua visão dos acontecimentos em precisamente 11 minutos, nove segundos e um «frame»: a iraniana
Samira Makhmalbaf, o francês
Claude Lelouch, o egípcio
Youssef Chahine, o bósnio
Danis Tanović, o burquinense
Idrissa Ouedraogo, o britânico
Ken Loach, o mexicano
Alejandro González Iñárritu, o israelita
Amos Gitaï, a indiana
Mira Nair, o norte-americano
Sean Penn e o japonês
Shōhei Imamura.
Entretanto, o cinema independente foi fazendo o seu caminho, em pequenos dramas que tiveram pouco impacto à escala internacional, como
«Bandhak», dirigido em 2003 por Hyder Bilgrami, sobre o racismo contra os sul-asiáticos nos EUA do pós-11 de Setembro;
«WTC View», de 2005, de Brian Sloan e baseado numa peça de sua autoria; ou
«AmericanEast», de 2007, sobre a comunidade islâmica que vive em Los Angeles.
Hollywood voltou à carga em 2007 mas com muito menos impacto, no drama
«Em Nome da Amizade», sobre os traumas do 11 de Setembro, com
Don Cheadle e
Adam Sandler, e que em Portugal foi diretamente para DVD. Já em 2010, o tema serviu de pano de fundo a dois romances,
«Lembra-te de Mim», com
Robert Pattinson e
Emilie de Ravin, e
«Juntos ao Luar», com
Channing Tatum e
Amanda Seyfried.
A Europa também abordou a tragédia em fitas como
«Alguns Dias em Setembro», realizada em 2006 por
Santiago Amigorena, co-produzida por Paulo Branco, que decorre nos dias que antecedem os ataques;
«Brick Lane», de 2007, sobre uma indiana em Londres no período de tensão que se seguiu ao 11 de Setembro; e, embora de forma lateral,
«A Caminho de Guantánamo» (2006), de
Michael Winterbottom, em toada semi-documental, sobre três muçulmanos ingleses presos durante dois anos por suspeição de envolvimento nos ataques terroristas.
A Índia não deixou de tratar o fenómeno em algumas obras, onde se destaca, pela imensa repercussão além-fronteiras, o filme
«My Name is Khan», que em 2010 se tornou o maior êxito internacional do cinema de Bollywood, e se foca num jovem com a síndrome de Asperger, cuja postura socialmente errática leva a que seja detido no aeroporto de Los Angeles por comportamento suspeito.
Mas se a ficção cinematográfica tem tido punhos de renda a tratar o 11 de Setembro, o documentarismo feito para o grande ecrã nem sempre tem tido os mesmos cuidados. O caso mais célebre é o de
«Fahrenheit 9/11», que valeu em 2004 a Palma de Ouro de Cannes a
Michael Moore, e que é um ataque violentíssimo à administração Bush e à responsabilidade dos EUA nos ataques terroristas. Também
Morgan Spurlock, o autor de
«Super Size Me - 30 Dias de Fast-Food», optou pela via mais espetacular em
«Where in the World Is Osama Bin Laden?», de 2008, onde parte em busca do líder da al-Qaeda.
Porém, fora os dois casos acima, a maioria dos documentários para cinema, contrariamente ao que sucede nos muito mais numerosos filmes documentais feitos para a televisão ou para a internet sobre o 11 de Setembro, têm tratado o fenómeno de forma mais lateral, focando-se em casos concretos que servem de espelho a uma reflexão maior. Entre os títulos mais emblemáticos, destaque para
«Being Osama» (2004), sobre seis canadianos de origem árabe que se chamam Osama;
«The Tillman Story» (2010), sobre a tentativa de descoberta do que está por trás da morte do ranger Pat Tillman no conflito no Afeganistão; ou mesmo «
Dixie Chicks: Shut Up and Sing» (2006), que documenta durante três anos os efeitos na banda de uma crítica aberta a George W. Bush feito pela vocalista do grupo.
Finalmente, já em 2011, estreou em algumas salas americanas no final de agosto (e será exibido precisamente a 11 de setembro no canal Showtime) o filme
«Rebirth», um documentário muito elogiado de Jim Whitaker, que acompanha ao longo dos vários anos cinco pessoas profundamente afetadas pelos ataques ao World Trade Center: um adolescente que perdeu a mãe, um bombeiro que perdeu colegas, uma mulher que perdeu o noivo, outra mulher que já sofreu mais de 40 cirurgias, e um operário que está a ajudar na construção do local.
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