O realizador francês Arnaud Desplechin entrou esta sexta-feira na disputa pela Palma de Ouro em Cannes com "Frère et Soeur", um filme sobre o ódio misterioso entre um irmão e uma irmã.

"Felizmente tenho uma vida mais chata do que as minhas personagens", declarou Desplechin à AFP.

Realizador de filmes sobre a família numa França contemporânea e algo perdida ("Reis e Rainha" de 2004 e "Um Conto de Natal" de 2008), Desplechin tentou imaginar um cenário de pesadelo: um acidente de carro que obriga uma família a reunir-se ao redor dos pais idosos, à beira da morte.

"Dentro de mim, falava: o que aconteceria realmente se tivesse sentimentos de pesadelo com uma das minhas irmãs?" explicou o realizador.

No filme, a irmã mais velha, Alice, uma atriz de sucesso interpretada por Marion Cotillard, começa a odiar com todas as forças um dos irmãos, Louis (Melvil Poupaud), quando este começa a despontar como escritor.

O acidente de carro dos pais força um reencontro, depois de anos a ignorarem-se um ao outro.

Mas o filme mantém o suspense, pois os irmãos evitam ao máximo o contacto, no meio de uma família perdida, que não sabe como lidar com a situação constrangedora.

"Tenho a sorte, na minha idade [61 anos], de ter meus pais ainda vivos. Mas decidi que, com este filme, precisava enfrentar coisas que me aterrorizam", afirmou o realizador.

Cotillard e Poupaud esforçam-se para dar credibilidade, num ambiente muito burguês e intelectual, a duas personagens que gritam e maltratam os outros de forma constante, começando por eles mesmos.

"No final do filme, tive que dizer a Melvil que o amava muito, que a distância e a frieza que consegui [para a atuação] era algo necessário para o filme", reconheceu Cotillard.