O novo filme de Jude Law no Festival de Cinema de Veneza, uma história verídica de supremacistas brancos a planear uma guerra racial, é algo que “precisava ser feito agora”, disse a sua estrela no sábado.

"The Order" ("A Ordem", em tradução literal), dirigido pelo realizador australiano Justin Kurzel, coloca o ator britânico como protagonista, no papel de um rude agente do FBI no noroeste do Pacífico, confrontado com um grupo dissidente das Nações Arianas que está a construir uma milícia para travar uma guerra contra o governo norte-americano.

“Infelizmente, acho que a relevância fala por si”, disse Law aos jornalistas antes da antestreia mundial do filme no sábado, onde recebeu quase dez minutos de aplausos.

“Também parecia um trabalho que precisava ser feito agora. É sempre interessante olhar para trás, mas também é interessante encontrar uma peça do passado que tem alguma relação com os dias atuais”, acrescentou.

"The Order"

O filme - um dos 21 concorrentes ao prémio Leão de Ouro no prestigiado festival - é baseado no grupo real do mesmo nome que operou em Washington e Idaho entre 1983 e 1984 sob o comando do seu líder Robert Mathews.

“O que me surpreendeu foi que era uma história da qual nunca tinha ouvido falar antes”, confessou Law, nomeado duas vezes para os Óscares e conhecido por filmes como "Gattaca" (1997), "O Talentoso Mr Ripley" (1999), "A.I. Inteligência Artificial" (2001), "Cold Mountain" (2003), "Alfie e as Mulheres" (2004), "Perto Demais" (2004), "Assalto e Intromissão" (2006) ou "O Amor não Tira Férias" (2006) e as séries "The Young Pope" (2016) e "The New Pope" (2019).

A ameaça de grupos violentos e extremistas de extrema-direita está na vanguarda este ano, depois de um verão de violência e tumultos anti-imigrantes na Grã-Bretanha, os piores desde 2011.

Há também preocupações quanto a uma repetição do ataque de 6 de Janeiro de 2021 ao Capitólio – cujos desordeiros incluíam nacionalistas brancos e outros grupos extremistas – se o antigo Presidente dos EUA, Donald Trump, perder as eleições em Novembro.

A história verídica de 40 anos proporcionou aos cineastas uma forma de “ter um debate com a política de hoje”, já que o filme é sobre “uma ideologia que é incrivelmente perigosa e como ela pode rapidamente gerar sementes”, disse o realizador.

O argumentista Zach Baylin, os atores Phillip Lewitski, Tye Sheridan e Jude Law, o realizador Justin Kurzel e os atores Jurnee Smollett, Nicholas Hoult e Matias Lucas

Kurzel, conhecido por "Macbeth", "Assassin's Creed" e "O Bando de Ned Kelly", cujo mais recente "Nitram" valeu o prémio de Melhor Ator em Cannes em 2021 a Caleb Landry Jones, chamou o seu novo filme de "uma caçada humana às profundezas desse ódio, um prenúncio de uma América dividida, um alerta do que tem sido e do que pode vir."

Este ódio é visto imediatamente no início do filme, quando um apresentador de um programa de rádio de Denver repreende um interlocutor que o provoca por ser judeu.

“És demasiado inepto para sobreviver no mundo, portanto tentas restringir o prazer dos outros”, diz o apresentador Alan Berg, que mais tarde se tornará vítima da organização "A Ordem" na sua busca pela pureza racial.

Entretanto, o grupo tem andado a assaltar bancos e a imprimir dinheiro falso para construir o seu exército contra o Estado.

O agente do FBI Terry Husk (Law) faz uma ligação entre os panfletos do "White Power" ("Poder Branco") que circulam pela cidade e os roubos e assaltos a carros blindados, percebendo que está a enfrentar um perigoso grupo dissidente com Butler como o seu jovem e carismático líder, interpretado por Nicholas Hoult.

Com um jovem xerife Jamie Bowen (Tye Sheridan) ao seu lado, Husk começa a rastrear o esquivo líder, que tem em vista crimes muito mais graves, desde ataques a instituições governamentais até assassinatos.

Em Veneza, Hoult contou à imprensa como ele e Law não se falaram ou interagiram durante as primeiras quatro semanas de rodagem para criar distanciamento entre eles. Ele também foi incumbido pelo realizador de seguir Law durante um dia sem que o colega soubesse.

“O que foi chocante para mim e acho que para todos nós aqui foi que houve tantas comparações e acho que tantas coisas dentro do filme foram a semente e a germinação de hoje e muitos dos desafios que enfrentamos”, disse Kurzel.

“Acho que vivemos agora numa época que se refletiu no filme, onde há divisão e há muito debate sobre o futuro e as ideologias”, acrescentou.

O líder da organização, que morreu num incêndio durante um confronto com as autoridades em Dezembro de 1984, tinha uma capacidade especial para "falar com os excluídos, aqueles que se sentem invisíveis, que não são ouvidos", explicou.

"Aquela voz... pode começar a explorar essa vulnerabilidade de forma muito perigosa. Acho que isso é algo atemporal", notou.

"The Order" será lançado nos cinemas dos EUA em dezembro, em plena temporada de prémios, com a distribuição em vários noutros mercados internacionais a cargo da Amazon Prime Video.