A
I Mostra Sci Fi de Cinema Fantástico inaugura nesta sexta-feira a sua primeira edição, no Cinema Londres, e apresenta um dos seus grandes trunfos logo na sessão de abertura.

A iniciativa organizada pelo canal Sci Fi chega agora Portugal mas em Espanha terminou há poucos dias a sua sexta edição.

Entre a próxima sexta e domingo, a Mostra propõe ao público lisboeta sete filmes inéditos no circuito comercial nacional. E o que assinala a inauguração do evento (sexta-feira às 21h30),
«Let the Right One In» (Låt den rätte komma in), do sueco Tomas Alfredson, promete ser um dos mais concorridos, ou não fosse um dos mais sérios candidatos a filme de culto do ano passado – e muito elogiado no IndieLisboa, por onde já passou.

Mas há outras propostas para os adeptos da ficção científica durante o fim-de-semana, com
«20th Century Boys», do japonês Yukihiko Tsutsumi (16h30),
«Midnight Meat Train», do também nipónico Ryûhei Kitamura (19h20) e
«Martyrs», do francês Pascal Laugier (21h30), no sábado. Domingo o Cinema Londres exibe
«Sleep Dealer», do norte-americano Alex Rivera (16h30),
«Splinter», de Toby Wilkins (18h30), e
«Mutant Chronicles», do também britânico Simon Hunter (20h30).

O preço dos bilhetes é sempre 3€ por filme. Para os 30 primeiros espectadores que comprem 3 ou mais bilhetes para os outros dois dias da Mostra, a organização oferece a entrada para a ante-estreia na 6ª feira.

«Let the Right One In»: Sangue novo (e sueco)

Estranha surpresa, a segunda longa-metragem do sueco Tomas Alfredson.

Algures entre o drama centrado nos inícios da adolescência e os códigos do filme de terror,
«Let the Right One In» (Låt den rätte komma in) debruça-se sobre a cumplicidade que nasce entre dois vizinhos de doze anos, Oskar e Eli, ele alvo de agressões na escola, ela passando os dias em casa e apenas saindo à noite, para o pátio ao pé do seu prédio. Em comum têm a postura desconfiada e circunspecta, e aos poucos a partilha da solidão origina uma forte amizade que ameaça ficar comprometida por uma repentina vaga de homicídios locais, em que as vítimas ficam sempre ensanguentadas e cujos predadores são procurados pelos habitantes da zona.

Sugerindo uma hipótese de realismo fantástico, que nasce de uma crueza bem nórdica com que são retratados os acontecimentos e da carga simultaneamente poética e inquietante que define atmosferas, «Let the Right One In» é uma bela história sobre o crescimento, a inadaptação e o confronto com a diferença.

Estes temas têm sido trabalhados em muitos filmes independentes, mas aqui ainda mantêm a frescura pois Alfredson cruza-os com um suspense metódico e absorvente, abordando com eficácia o sempre fértil universo da adolescência enquanto revitaliza as histórias de vampiros, propondo uma amálgama original e bem desenvolvida.

Ancorado em boas interpretações, sobretudo do jovem par protagonista, numa narrativa que dá tempo e espaço às personagens e numa realização hipnótica, o filme alia morte e inocência sem cair em maniqueísmos e resulta num atípico conto vincado por um inesperado romantismo.

O arrojo temático é complementado por algumas excelentes ideias visuais, desde o ambiente invernoso que marca todo o espaço exterior, em que a neve potencia imagens impressionantes, até rasgos de maior inspiração como uma das sequências finais, filmada debaixo de água.

A bizarria - e carga gore - de algumas cenas poderá fazer de «Let the Right One In» uma obra difícil de agradar a todos os paladares, mas o talento e singularidade de Alfredson são inegáveis.

Um título a (re)descobrir na sessão de abertura da I Mostra Sci Fi de Cinema Fantástico, sexta-feira às 21h30 no Cinema Londres, em Lisboa.