O filme "O homem que matou D. Quixote", de Terry Gilliam, obteve uma autorização de exploração, que lhe permite fazer a estreia comercial em França, revelou esta quinta-feira o Centro Nacional de Cinema e Imagem em Movimento (CNC).

Em comunicado, o organismo francês explica que atribuiu o "visto de exploração", que permite a exibição comercial da longa-metragem em salas de cinema, com a classificação "para todo o público".

"Este visto deve ser solicitado pelo produtor do filme, ou seja, aquele que tem a responsabilidade pelo financiamento e execução da obra", lê-se no comunicado do CNC, nomeando a produtora Kinology, com coprodutores espanhóis, belgas e portugueses (aqui a Ukbar Filmes).

A decisão é anunciada um dia depois de o Tribunal de Paris ter decidido que o filme de Terry Gilliam pode ser exibido no encerramento do Festival de Cinema de Cannes, no dia 19, dia em que estava também marcada a estreia comercial em dezenas de salas em França.

"O homem que matou D. Quixote", um projeto antigo do realizador norte-americano Terry Gilliam, está no centro de uma disputa legal que envolve o produtor português Paulo Branco, porque este chegou a assinar contrato para produzir o filme, em 2016, mas o processo saiu gorado.

Terry Gilliam pediu a anulação do contrato de produção com a produtora Alfama Films, de Paulo Branco, mas em 2017 o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele continua válido.

Por causa deste processo sobre os direitos do filme, Paulo Branco interpos uma ação judicial contra o festival de Cannes, para impedir a sua exibição, mas o tribunal autorizou o evento a estrear a obra.

"O juiz teve uma decisão de uma grande sabedoria, porque deu a possibilidade de o festival passar o filme, se pagarem e comunicarem publicamente que os direitos continuam da Alfama e do Paulo Branco. O juiz confirmou que qualquer interpretação outra que não seja que os direitos nos pertencem é falaciosa e errada", explicou o produtor na quarta-feira à agência Lusa.

Hoje, o CNC recorda que o litígio que opõe o produtor e o realizador diz respeito às condições em que terminou a colaboração entre ambos e aos direitos que ainda pertencem a Paulo Branco "ao abrigo do acordo celebrado".

O instituto francês considera que a decisão judicial de quarta-feira confirma que a interdição do filme em Cannes seria "desproporcionada".

"O homem que matou D. Quixote" é uma adaptação livre do romance de Miguel Cervantes, foi rodado em Portugal e em Espanha e conta no elenco com, entre outros, Jonathan Pryce, Adam Driver e a atriz portuguesa Joana Ribeiro.

Na quarta-feira, o produtor Paulo Branco revelou à Lusa que vai processar o Festival de Cinema de Cannes por eventuais danos causados pela projeção do filme no evento.

A Amazon Studios, que chegou a financiar o filme, recuou na intenção de fazer a estreia comercial nos Estados Unidos, uma decisão que deverá estar relacionada com a disputa judicial em torno do filme.

Em Portugal, onde a estreia deverá ser assegurada pela NOS, não há ainda data oficial anunciada.