Depois de "Buzz Lightyear" ter explorado o espaço até ao infinito e mais além no ano passado, o novo filme de animação original da casa do rato Mickey opta por uma espécie de viagem ao centro da Terra. A influência do clássico de Júlio Verne é assumida e um dos pontos de partida para uma saga familiar que cruza épocas, gerações e realidades numa aventura à qual não falta o deslumbre visual associado aos estúdios Disney.
Realizado por Don Hall e tendo Qui Nguyen como correalizador e argumentista - dupla que volta a colaborar depois de "Raya e o Último Dragão" (2021) -, "Estranho Mundo" junta à galeria de personagens da Disney um novo clã, os Clades, determinantes para que a humanidade tenha conseguido prosperar em Avalonia a partir das propriedades de uma planta, utilizadas como fonte energética.
Mas a estabilidade acaba por ser ameaçada com a descoberta de uma terra desconhecida, que traz em paralelo um reencontro inesperado com o passado. E leva a uma reunião familiar, não sem alguns conflitos, entrecruzada com a adaptação a uma nova realidade, criaturas e ameaças.
Contando com as vozes de Jake Gyllenhaal, Dennis Quaid, Jaboukie Young-White, Gabrielle Union e Lucy Liu no elenco principal, "Estranho Mundo" junta à ação e aventura uma proposta de reflexão ecológica, sintonizada com as inquietações das alterações climáticas fora dos ecrãs, e expande o abraço da diversidade das produções Disney dos últimos anos - da maior preponderância de personagens não caucasianas à forma como apresenta um adolescente que assume a sua homossexualidade sem dramas (e de forma surpreendentemente aberta, tendo em conta as abordagens habitualmente tímidas dos estúdios a questões LGBTQIA+).
Numa entrevista por Zoom, os realizadores e o produtor Roy Conli ("Big Hero 6 - Os Novos Heróis", "Entrelaçados") recordaram ao SAPO Mag alguns passos da sua aventura criativa:
SAPO Mag - "Estranho Mundo" é o 61.º filme de animação da Disney. Depois de 60 filmes e universos, que mundo novo (e estranho) podemos explorar aqui?
Don Hall - É um grande filme de ação e aventura como "King Kong" ou "Os Salteadores da Arca Perdida", mas também tem muito coração e humor. Espero que possamos inspirar algumas discussões sobre a forma como estamos a tratar o nosso planeta, o nosso mundo, e o que estamos a fazer para assegurar que as próximas gerações vivam num mundo habitável.
Roy Conli - Acho que é uma história maravilhosa sobre família, aventura e entusiasmo. Um mundo novo e entusiasmante que nunca ninguém viu. Gosto especialmente que seja um mundo que só possamos visitar através da animação. Nunca conseguiríamos fazer justiça a este universo num filme de imagem real.
Essa consciência ambientalista estava presente desde que o filme começou a ser planeado? Como a desenvolveram?
Don Hall - Para mim, foi essa a grande força motriz do filme: falar do ambiente. Pensei nos meus filhos, no mundo que vão herdar e há notícias sombrias acerca das mudanças climáticas, de ameaças ambientais, e quis fazer um filme que abordasse isso. Mas feito de modo alegórico, e com muita ação e aventura.
Qui Nguyen - Sem dúvida. Queremos criar mundos loucos e fantásticos, mas que de alguma forma também reflitam o mundo em que vivemos. Mas embora falemos do ambiente enquanto tema central, também queremos abrir outras janelas para o nosso mundo através de personagens muito diversas, tal como as pessoas que habitam o nosso mundo.
O retrato da diversidade - cultural, étnico ou de orientação sexual - também foi uma força motriz logo à partida?
Roy Conli - Logo desde o início. Queríamos fazer um filme que refletisse o mundo em que vivemos, do estúdio em que trabalhamos e da rua em que vivemos. Fazemos filmes para toda a gente e isso reflete-se aqui.
Qui Nguyen - Trabalhamos num estúdio com alguns dos melhores profissionais de animação do mundo e queríamos ter personagens com as quais todos se identificassem. Consideramos que toda a gente merece ter os seus heróis e estamos muito felizes por poder acrescentar alguns ao panteão da Disney.
A diversidade também se reflete no elenco. Algum ator acabou por influenciar a construção da sua personagem de alguma forma, além de lhe dar voz?
Roy Conli - Os nossos atores são colaboradores na forma como contamos as histórias. Não animamos até termos as vozes. O Jake Gyllenhaal fez questão, quando se juntou a nós, de não ser uma voz passiva. Quis ser parte da criação da sua personagem, como qualquer grande ator. Foi um colaborador incrível e todos os outros também. Queremos que se sintam à vontade para improvisar e trazer ideias, é isso que nos entusiasma. Quanto mais pessoas colaboram, maior é o reflexo do mundo no ecrã.
Don, mencionou "King Kong" ou "Os Salteadores da Arca Perdida" como filmes comparáveis a "Estranho Mundo". Que outras histórias clássicas de aventura o inspiraram?
Don Hall - Comecei com o Júlio Verne. Para mim, "Viagem ao Centro da Terra" é a origem das histórias de ação e aventura, pelo menos do tipo que criámos no filme, com um grupo de exploradores num mundo desconhecido no interior do planeta. Essa foi a minha referência principal, ao lado de "O Mundo Perdido", de Arthur Conan Doyle, e "O Sexto Continente", de Edgar Rice Burroughs. Considero esse trio os grandes fundadores do género na literatura. No cinema, "King Kong" foi pioneiro. Espero que consigamos honrar a tradição do género... acho que conseguimos. Adoro o género, está-me no sangue, e julgo que o filme pode estar lado a lado com essas sagas. E tentámos juntar maior profundidade temática, ao falar de como nós, enquanto seres humanos, estamos a viver no nosso planeta e o que temos de fazer para garantir um futuro para os nossos filhos.
Que elementos não podem faltar num filme da Disney e que também encontramos em "Estranho Mundo"?
Roy Conli - Entreter é sempre a nossa prioridade. Humor e coração também. Uma das coisas que o Walt Disney disse foi que por cada gargalhada, deveríamos ter uma lágrima. E acho que este filme tem um grande coração, já o vi centenas de vezes e fico sempre muito emocionado.
TRAILER DE "ESTRANHO MUNDO":
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