Já ganhou o Óscar por
«Ray», cantou em
«Dreamgirls» e foi polícia em
«Miami Vice», mas nada o preparou para o papel que pode ser o mais emblemático da sua carreira: o pistoleiro Django novo filme de
Quentin Tarantino,
«Django Libertado».
Jamie Foxx tem o papel é o de um escravo que, no Sul dos EUA no ano 1858, é liberto do seu cativeiro por um caçador de recompensas (
Christoph Waltz) e parte com ele em busca da mulher (
Kerry Washington), aprisionada numa plantação gerida pelo pérfido Calvin Candie (
Leonardo DiCaprio).

A escolha para «Django Libertado»

«Soube do projeto pela internet, quando li uma notícia que dizia que o
Will Smith ia fazer um «western» com o Quentin Tarantino chamado «Django Libertado». E fiquei espantado, o filme prometia ser espetacular. Depois, quando o Will não pôde fazer o filme, eu falei com o Quentin para tentar conseguir o papel. O meu encontro inicial com ele foi muito interessante, falámos de muitas coisas, nomeadamente das minhas primeiras experiências de vida. Eu cresci no sul dos EUA, no Texas, onde era tudo muito carregado racialmente. Lembro-me de tocar piano numa festa de Natal no meio daquela grande vizinhança branca e sentir que eu era quase uma mobília, com as pessoas a fazerem piadas sobre raça como se eu não estivesse lá. Eu dei-lhe um esquema do que foi a minha vida e ele percebeu não só que eu compreendia aquela personagem como também que, mais à frente, eu seria capaz de articular os temas de um filme que certamente iria gerar muitas perguntas sensíveis».

A importância de Will Smith

«O Will Smith não pôde fazer o filme por questões de agenda, creio eu. Ele é um enorme fã do Quentin Tarantino, mas muitas vezes as coisas funcionam assim. É esse o processo de fazer filmes em Hollywood, as agendas andam sempre a mudar e tudo tem de se encaixar de forma perfeita, o que quer dizer que muitas vezes é impossível fazermos os filmes que queremos. Mas eu falei com o Will e agredeci-lhe por isto. Porque devo dizer que é a ele que eu devo o facto de ter uma carreira no cinema. Quando ele estava a fazer o
«Ali», ele fartou-se de dizer ao realizador Michael Mann: «Nós temos que ter o Jamie Foxx no filme». O
Michael Mann dizia «mas eu não o conheço de lado nenhum», e o Will insistiu até ele aceitar. E foi esse o meu primeiro papel a sério no cinema. A personagem do Django é outra prenda que ele me dá, por isso devo-lhe quase tudo».

Um ícone para a comunidade negra

«Não há outro herói como o Django na comunidade afro-americana. Na maioria dos filmes sobre escravatura, mesmo quando o escravo se revolta e se atira ao seu captor, ele acaba por dizer «eu devia matar-te, mas não mato». Neste filme, eu digo mesmo «mas é claro que te mato».

Um escravo que vende escravos

«A dada altura do filme eu tenho de fingir que, apesar de ser negro, eu também comercializo escravos. E isso foi terrível, mas eu aprendi como fazê-lo com um sargento afro-americano dos «marines», que era extraordinariamente duro. E que acabava por ser mais duro com os negros que com os brancos para não ser acusado de os favorecer. Às tantas perguntaram-me se eu não estaria a ser demasiado duro, mas se não fosse assim as outras personagens perceberiam que eu estava a fingir».

Um elenco genial

«É incrível o elenco que o filme tem. Eu dei o meu melhor e até perguntei ao
Al Pacino como é que ele se preparou para fazer
«O Padrinho», que também tinha atores espantosos. E ele disse-me que estava sempre a ouvir música com uns grandes auscultadores para não sair da personagem ao longo do dia de rodagens. Eu também fiz um pouco isso. É que quando trabalhamos com o Leonardo DiCaprio, o Samuel L. Jackson, o Christoph Waltz e o Quentin Tarantino, não se pode facilitar porque eles chegam super-bem preparados todos os dias. O Leonardo então é incrível, a minha irmã ficava maravilhada a olhar para ele. Quem ache que ele passa a vida nas capas de revistas não faz ideia, ele chega ao «set» com tudo na cabeça, não falha nada».

Coisas sérias sempre a rir

«O «Django Libertado» é um filme surpreendente, como todos os filmes do Quentin Tarantino. Os espectadores vão rir ao longo de todo o filme mas ao mesmo tempo vão ser confrontados com temas muito sérios, como a escravatura. Essa é uma das especialidades do Quentin, tratar temas sérios de uma forma divertida».

O mistério do fato azul

«É verdade que a dada altura do filme eu uso um fato azul que é ridículo, mas é genuíno da época. Aliás, no argumento original era a personagem do Christoph Waltz que me dizia para usar o fato azul, e eu é que disse que isso não fazia sentido, que devia ser ao exatamente contrário: eu é que devia escolher o fato azul. Ou seja, ele apresentava-me os fatos para eu escolher e eu, enquanto escravo, dizia-lhe que nunca tinha usado um fato. E como os negros gostam de cores, eu escolhia o azul».

Paixão por cavalos

«Os treinadores de cavalos são surpreendentes, eles compraram um cavalo selvagem no México antes de começarmos a filmar e durante a rodagem já o tinham especializado num truque em que ele caía para o chão. Eu usei uma égua que é mesmo minha, a Cheeta, porque os cavalos são muito sensíveis. Eu vivo em Los Angeles numa vizinhança em que toda gente tem ranchos e cavalos, mas sou o tipo mais pobre que lá está. Eles têm tanto dinheiro que um tipo noutro dia estava a escavar um trilho da casa dele até à praia, eu perguntei-lhe se ele tinha dinheiro para fazer aquilo e ele respondeu-me: «o dinheiro nunca é um problema».

Não perca amanhã a entrevista a Quentin Tarantino

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