A 72ª edição da Mostra de Cinema de Veneza, o festival mais antigo do mundo, abre em 3D esta quarta-feira com "Evereste", de Baltasar Kormarkur, baseado na história verídica da morte de oito alpinistas, em 1996, numa edição também marcada pelo retorno ao Lido do cinema latino-americano.
A trágica história real de um grupo de montanhistas que desafiou o pico mais alto do mundo abre o desfile de estrelas pelo Lido de Veneza com Jake Gyllenhaal, Keira Knightley e Josh Brolin, protagonistas da superprodução americana.
Esta será a quarta edição dirigida pelo crítico de cinema Alberto Barbera, que contará com a presença na mostra oficial, pela primeira vez em vários anos, de dois filmes da América Latina, uma cinematografia que está a atravessar um de seus melhores momentos.
Muitas expectativas são geradas pelo novo filme do cineasta argentino Pablo Trapero, "El Clan", o seu nono longa-metragem, que chega a Veneza precedido pelo êxito surpreendente obtido no seu país.
A história da família Puccio, que cometia assassinatos e extorsões na década de 80, em plenos anos da ditadura, forma parte do leque de filmes sobre violência baseados em factos reais que neste ano serão apresentados no festival.
Também a disputar o cobiçado Leão de Ouro está o estreante venezuelano Lorenzo Vigas, com "Desde allá", sobre um homem de 50 anos que procura jovens em Caracas para passar a noite, protagonizado pelo chileno Alfredo Castro.
Violentos e impiedosos, muitos dos filmes selecionados concentram-se em histórias de ontem e de hoje, em crónicas de vingança, relatos de mafiosos e corruptos, que "superam a imaginação de qualquer roteirista", disse Barbera.
No total, 21 filmes foram selecionados para o concurso oficial, entre eles quatro produções de Estados Unidos, num festival em que um mestre do cinema latino-americano, o mexicano naturalizado espanhol Arturo Ripstein, será homenageado pelos seus 50 anos de carreira, enquanto o Leão de Ouro pela Carreira será recebido por outro veterano, o francês Bertrand Tavernier.
Violência presente
Durante dez dias, até 12 de setembro, Veneza projetará muitas histórias de violência, sobre a guerra, nazis e gangsters.
Entre elas a biografia do famoso gangster psicopático de Boston que inspirou a personagem de Jack Nicholson em "The Departed", conhecido como Whitey Bulger, interpretado por Johnny Deep, que desfilará na sexta-feira pela passadeira vermelha para apresentar "Black Mass - Jogo Sujo", fora de concurso.
O assassinato em 1995 por parte de um extremista judeu do ex-primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, recriado pelo cineasta veterano Amos Gitai em "Rabin, the Last Day" [Rabin, o Último Dia], também aborda um tema atual.
O nazismo e a sua relação com a arte inspiraram o mestre russo Alexander Sokurov, já vencedor de um Leão de Ouro com a sua versão de "Fausto", que explora com "Francofonia", rodado completamente no Louvre, a vida sob a ocupação do famoso museu parisiense.
Filmes de Marco Bellocchio, Laurie Anderson, Tom Hooper ou Charlie Kaufman também estão na corrida ao Leão de Ouro, que será decidido por um júri presidido pelo mexicano Alfonso Cuarón, autor do premiado "Gravidade".
Presença portuguesa
O Festival de Cinema de Veneza será o local para a antestreia mundial de "Montanha", a primeira longa-metragem do realizador João Salaviza, integrada na Semana da Crítica, onde volta a abordar a adolescência, tema que tem marcado presença nos filmes anteriores.
Protagonizado pelo jovem ator David Mourato, "Montanha" é descrito pela organização como "uma joia fascinante e poética, na linha da tradição do mais bem-sucedido cinema português contemporâneo".
Entre as curtas-metragens já assinadas por Salaviza, contam-se "Arena" (2009), distinguido com a Palma de Ouro em Cannes, e "Rafa" (2012), que lhe valeu o Urso de Ouro em Berlim.
Depois de Veneza, "Montanha" será exibido no festival de San Sebastian, em Espanha, e estreia-se nos cinemas portugueses a 12 de novembro.
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