Em toda a história do cinema, não haverá atriz que tenha personificado um mito tão duradouro de sensualidade, «glamour», alegria e tragédia como
Marilyn Monroe, que, 50 anos após a morte prematura, continua a ser o maior «sex-symbol» não só da história do cinema como também do próprio século XX. Hoje em dia, tudo nela é mito: desde os filmes que fez ao misto de inocência e sexualidade que personificou, passando pelas várias tragédias da vida real, como a infância traumática, os casamentos falhados, a insegurança e depressão crónicas, e, principalmente, a morte não esclarecida aos 36 anos. Se estivesse viva, Marilyn teria hoje 86 anos: o seu falecimento prematuro foi uma tragédia mas fez dela uma lenda, já que despareceu no auge da beleza e ninguém a viu envelhecer.
A história de Marilyn é sobejamente conhecida: nascida Norma Jeane Mortenson em 1926, passou a infância em orfanatos e casas de acolhimento até casar aos 16 anos com um oficial da polícia, de quem se divorciaria quatro anos depois. A ascensão ao estrelato foi longa e fez o percurso habitual de modelo fotográfico, mudança de imagem (na origem, Marilyn era morena: o louro platinado veio depois...) e papéis de figuração sem quaisquer deixas em filmes menores.
Foi em «Ladies of the Chorus», em 1948, que teve o primeiro pequeno papel de algum relevo, a que se seguiram outros sem particular significado, até dois papéis secundários em 1950 que a colocaram de forma mais forte no radar:
«Quando a Cidade Dorme», de
John Huston, e
«Eva», de
Joseph L. Mankiewicz, que ganharia o Óscar de Melhor Filme.
Os papéis secundários presseguriam com aumento progressivo de relevância, até ao primeiro papel protagonista, em 1952, no «thriller»
«Os Meus Lábios Queimam». A explosão, porém, só se deu em 1953, inicialmente com
«Niagara», em que Marilyn fez disparar o seu «sex-appeal» com um cartaz em que as águas contornavam as curvas do seu corpo, e depois com
«Os Homens Preferem as Louras», de
Howard Hawks, um imenso sucesso que lhe estabeleceu a imagem de bomba sexual ingénua, e que deixou para a posteridade o número «Diamonds are a Girl's Best Friend». Ainda no mesmo, o número 1 da «Playboy» publicou uma mítica foto nua da atriz, tirada em 1949.
A partir daí, o mito não parou de crescer, mas apesar da sucessão de comédias, Marilyn tentou sempre furar a imagem de loura burra que se lhe colara à pele. O drama
«Rio sem Regresso», de
Otto Preminger, logo em 1954, foi uma tentativa bem sucedida nesse sentido, embora a força dos filmes que mais lhe alimentaram a lenda fosse superior a tudo: as geniais comédias de
Billy Wilder
«O Pecado Mora ao Lado» (1955), em que nem nome precisava de ter, e
«Quanto Mais Quente Melhor» (1959).
O estudo de artes dramáticas, que Monroe já tinha tido em diversas circunstâncias, acentuou-se a meados dos anos 50, quando a atriz estudou no prestigiado Actor's Studio tendo até ao fim Paula Starsberg como tutora pessoal e confidente. Os primeiros resultados fizeram-se logo notar no drama
«Paragem de Autocarro», de
Joshua Logan, em 1956, e, além das comédias que fez a seguir, teve os seus frutos mais extraordinários no filme crespucular que é
«Os Inadaptados» (1961), de John Huston, o último que completou antes de falecer.
Entretanto, Monroe nunca saiu das capas dos jornais, não só pelos filmes mas também pelos seus casamentos (e divórcios) muito mediatizados com John DiMaggio, a mais célebre estrela do basebol da época, e
Arthur Miller, o mais importante dramaturgo norte-americanos da altura. Isto para já não falar dos romances com os irmãos John e Robert F.Kennedy, os atrasos cada vez mais frequentes durante as rodagens e, claro, a morte súbita, de aparente ingestão de barbitúricos, mas cuja verdadeira causa nunca foi cabalmente esclarecida, com a hipótese de assassínio a não ser colocada de parte.
De lá a cá, ao contrário de outras celebridades da época, o mito de Marilyn não parou de aumentar, estando presente nas mais diversas áreas da cultura popular, desde a presença de
Madonna aos quadros de Andy Warhol, passando pela canção «Candle in the Wind», de
Elton John, ou vindo até à atualidade, com a série televisiva «Smash», produzida por
Steven Spielberg, a girar em redor da montagem de um espetáculo sobre a vida da atriz.
As fundações do mito já deram livros, filmes, poemas e até óperas, e 50 anos após a morte, Marilyn Monroe continua a ser uma das presenças mais magnéticas da história das imagens do século XX. Se também o teria sido caso tivesse falecido de morte natural várias décadas depois, é algo em que poucos acreditam. Mas no cinema, o mito conta mais que a vida real, e por isso, entre a realidade e a ficção, a vida de Marilyn continua a ser das mais fascinantes e enigmáticas do último século.
Comentários