Morreu Louise Fletcher, que ganhou o Óscar de Melhor Atriz e entrou instantaneamente para a história do cinema com uma das suas vilãs mais sádicas e odiadas de sempre: a enfermeira Ratched de "Voando Sobre um Ninho de Cucos".

A morte aos 88 anos durante o sono na casa que construiu de uma quinta com 300 anos em Montdurausse, no sul de França, foi confirmada pela sua família ao Deadline.

Nascida a 22 de julho de 1934 no estado do Alabama, Estelle Louise Fletcher era a segunda dos quatro filhos de um ministro da Igreja Episcopal. Tanto o seu pai como a sua mãe eram surdos e trabalhavam com pessoas com esta deficiência.

A carreira começou no final dos anos 1950 como atriz convidada em episódios em séries como "Maverick", "Os Intocáveis" e "Perry Mason".

Louise Fletcher em janeiro de 2012

Louise Fletcher já tinha 41 anos quando surgiu o papel mais importante da sua carreira, o da burocrática, imperturbável e gélida enfermeira Mildred Ratched, que zelava pela autoridade no hospital psiquiátrico e se revelou tão essencial para o sucesso e impacto duradoiro de "Voando Sobre um Ninho de Cucos" como o do rebelde carismático Patrick McMurphy interpretado por Jack Nicholson.

O papel tinha sido recusado por Jane Fonda, Anne Bancroft, Ellen Burstyn, Colleen Dewhurst e Geraldine Page.

O filme de Milos Forman foi apenas o segundo da história do cinema após "Uma Noite Aconteceu" (1934) a conquistar os cinco Óscares principais: Melhor Filme, Realização, Ator, Atriz e Argumento Adaptado.

Ultrapassando na categoria Isabelle Adjani, Glenda Jackson, Carol Kane e Ann-Margret, Louise Fletcher também criou um dos momentos mais memoráveis de sempre da cerimónia ao fazer o discurso em linguagem gestual para homenagear os seus pais. Pelo mesmo filme, tornou-se apenas a terceira atriz a ganhar o Óscar, o BAFTA da Academia Britânica de Cinema e o Globo de Ouro.

Numa entrevista de 1995 ao jornal The New York Times, refletindo sobre o seu prémio, aconselhou os vencedores daquele ano a "aproveitarem [o momento], vai fazer-vos maravilhosamente felizes por uma noite. Mas não esperem que vá fazer alguma coisa pelas vossas carreiras.

"Ganhei o Óscar quando tinha 41 anos. Se tivesse 23 teria sido difícil lidar com isso. Mesmo na minha idade, foi difícil de lidar. Foi como se tivessem atirado um explosivo", acrescentava.

A atriz também recordou uma frase profética nas bastidores da cerimónia pelo realizador chego Milos Forman: "'Agora vamos todos fazer fracassos'. Foi verdade. Eu fiz 'Exorcista II - O Herético' e foi um fracasso gigantesco. O Milos fez 'Ragtime'. E o Jack fez 'Duelo no Missouri'. Isso é profecia checa".

De facto, Louise Fletcher nunca voltou a ter um sucesso semelhante no cinema com outros filmes, nomeadamente "Seis Mulheres Para um Detetive" (1978), "Na Selva de Chicago", "Brainstorm" (1983), "Os Invasores de Marte" (1986), "Nas Asas da Imaginação" (1986), "O Amor Não Acaba" (1986), "Herdeiros do Ódio" (1987), "Corpos Escaldantes" (1988), "Aço Azul" (1990) e "Estranhas Ligações" (1999), a maioria de ficção científica, terror e suspense.

Alguns sucessos surgiram com a televisão, nomeadamente com outro papel no mesmo registo de Ratched no telefilme "The Karen Carpenter Story" (1989). Mais impacto veio com o papel da líder religiosa Kai Winn Adami na série "Star Trek: Deep Space Nine" (1993) e outra personagem gélida, como a mãe da presidente da Câmara interpretada por Marlee Matlin na série "Farda e Coração" (1996), valeu-lhe a nomeação para um prémio Emmy, que repetiu com outra participação como uma professora de música em "Joan of Arcadia" (2004).

Outras séries em que foi convidada foram "Contos de Arrepiar" (1991), "Sétimo Céu" (2005), "Serviço de Urgência" (2005) e "Shameless - No Limite (2011), voltando nest última a chamar a atenção como a mãe presidiária que cozinhava metanfetamina de Frank Gallagher (William H. Macy).

O seu último trabalho foi em dois episódios da série de comédia da Netflix "Girlboss", de 2017.