As autoridades chinesas proibiram as notícias sobre "Mulan", que também está a ter menos impacto nas salas de cinema do que indicavam as previsões.

Segundo o The Hollywood Reporter (THR), as receitas até ao início da noite desta sexta-feira (fuso horário de Pequim) eram o equivalente a quase seis milhões de dólares, abaixo do que arrecadou na semana passada "Tenet", de Christopher Nolan.

A manter-se este ritmo, a nova versão de "Mulan" ficará ao nível mais baixo na previsão dos analistas locais e exibidores locais para os primeiros três dias, entre os 30 e 40 milhões de dólares, um mau sinal para um mercado onde se esperava que a história da guerreira chinesa fosse um sucesso de bilheteira garantido.

Também esta sexta-feira, a Reuters, citada pelo THR, diz que os grandes meios de comunicação social do país receberam ordens para não fazer qualquer tipo de divulgação à grande produção da Disney, que custou mais de 200 milhões de dólares.

Não foi dada qualquer justificação, mas fontes da agência dizem suspeitar ser uma reação ao impacto internacional negativo das últimas notícias, que relacionam o filme com escândalos de direitos humanos.

Lançado na plataforma de streaming Disney+ na sexta-feira (4) em vários países por causa da pandemia (em Portugal, fica disponível a 4 de dezembro), o estúdio foi bastante criticado por ter filmado na região de Xinjiang e incluir nos créditos um "agradecimento especial" às autoridades de oito departamentos, incluindo o de segurança.

As autoridades são acusadas de violação dos direitos humanos contra a minoria étnica muçulmana Uigur. Calcula-se que terão sido detidos mais de um milhão de pessoas em "campos de reeducação" desde 2017.

"Mulan": Disney criticada por agradecer às autoridades de Xinjiang, acusadas de violar direitos humanos
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"Isto é verdadeiramente ultrajante: a nova versão em imagem real de 'Mulan' AGRADECE ao Departamento de Segurança Pública de Turpan (no sul de Xinjiang) nos créditos. Este departamento de segurança pública específico esteve profundamente envolvido nos campos de concentração de Xinjiang", escreveu Bethany Allen-Ebrahimian, a principal jornalista da Axios para a China.

A China desmente os abusos: na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, defendeu numa conferência de imprensa, em Berlim, que os campos de reeducação são  programas que visam combater a radicalização dos uigures e prepará-los para o mercado de trabalho, através de treino vocacional.

A Disney manteve o silêncio oficial, mas durante uma conferência do Banco da América na quinta-feira (10), a sua diretora financeira, Christine McCarthy, reconheceu que filmar partes de "Mulan" em Xinjiang "gerou muitos problemas para nós".

McCarthy disse que é "habitual" agradecer nos créditos às autoridades nacionais e locais que permitem as filmagens, mas num reconhecimento implícito da controvérsia que isso gerou, acrescentou que "gerou muito publicidade, vamos deixar isso por aí".

Não é o primeiro problema a rodear "Mulan": em agosto do ano passado, a protagonista Liu Yifei, nascida na China e naturalizada cidadã americana, apoiou publicamente a polícia de Hong Kong, acusada de violência contra os ativistas pró-democracia.

Os apelos ao boicote que surgiram naquela altura reemergiram com a estreia do filme, com o movimento #boycottMulan nas redes sociais a ganhar grande visibilidade em Hong Kong, Taiwan e Tailândia.

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