A versão em imagem real de "Mulan" estreia finalmente esta sexta-feira (4), não nos cinemas, mas sim na plataforma de streaming da Disney, numa aposta que os analistas acreditam que pode mudar Hollywood para sempre.

Embora a plataforma fique disponível a partir de dia 15, apenas será possível ver o filme em Portugal a partir de 4 de dezembro, sem qualquer pagamento adicional, ao contrário do que acontecerá com o seu lançamento inicial. Foi confirmado oficialmente que não estreará nas salas de cinema.

O filme com um orçamento de 200 milhões de dólares sobre a lendária guerreira chinesa estava programado para chegar ao grande ecrã em março, mas foi uma das primeiras vítimas da pandemia, forçando vários atrasos que acabaram por levar à exclusão de um lançamento nos cinemas.

No mês passado, ainda sem saber quando seria seguro voltar aos cinemas, a Disney sacudiu a indústria - e o próprio elenco do filme - ao anunciar que "Mulan" iria estrear nos ecrãs... das casas dos espectadores.

"A decisão de fazê-lo estrear no Disney + foi um choque para muitos de nós", disse o ator Jason Scott Lee, que interpreta o principal vilão do filme, acrescentando que a produção foi "feita para ser vista" nos cinemas.

"No início foi devastador", reconhece Tzi Ma, que interpreta o pai de Mulan, à agência AFP.

"Mas depois de um dia ou mais, pensei no lado bom... com a COVID-19, as nossas responsabilidades aumentam. Queremos manter todos seguros", acrescentou.

Além das preocupações com a saúde pública, a Disney está a conduzir uma experiência na exibição Video-on-Demand que pode alterar drasticamente a maneira como as pessoas assistem aos filmes.

"Mulan" sai no mesmo fim de semana em que a Warner Bros estreia o seu filme de ficção científica "Tenet" nos cinemas americanos, que reabriam a 70% com capacidade reduzida.

Mas ao contrário do estúdio rival, que terá que dividir a receita de bilheteira com os cinemas, o estúdio do Mickey ficará com 100% da receita de "Mulan", que custará d30 dólares a quem já assina o Disney+.

Embora a Disney tenha produzido vários filmes para consumo doméstico, nunca o fez com uma produção desta dimensão e Hollywood está nervosamente a assistir.

"O que acontecerá neste fim de semana pode ser lembrado para sempre, pode ser um ponto de viragem para Hollywood à medida que avançamos para o futuro", aponta o analista Jeff Bock da Exhibitor Relations, que acompanha as receitas do setor.

"É sobre como o público vai digerir o entretenimento dos sucessos de bilheteira daqui para frente", reforça.

"Ponto de referência"

Pesou na decisão o facto de que na China, onde o Disney+ não está disponível, muitos cinemas terem reaberto, o que possibilita o lançamento do filme na próxima semana, uma aposta de sempre do estúdio quando decidiu avançar com o projeto..

Baseado numa balada chinesa de 1.500 anos sobre uma jovem que toma o lugar do seu pai doente no exército imperial, "Mulan" pode ser um dos maiores filmes da Disney lançados no mercado chinês.

"Mulan" é inovador noutros aspectos.

Todo o elenco é asiático ou asiático-americano, um grupo demográfico sub-representado em Hollywood, especialmente em megaproduções de grande orçamento.

"É extremamente importante que um grande estúdio tenha a confiança de que um elenco asiático e americano lhes dê força e suporte financeiro. Deverá tornar-se uma referência. Ser algo que o mundo saiba que é viável", disse Ma.

O sábio dragão Mushu, retratado por Eddie Murphy na animação de 1998, não aparece nesta versão.

Também não existem números musicais e enredos românticos.

A realizadora neozelandesa Niki Caro (que se tornou notada em Hollywood com " A Domadora de Baleias", de 2002) escolheu um tom mais maduro, com cenas de luta belíssimamente coreografadas e paisagens que recordam "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee (2000).

O tema do poder feminino também é visível, tanto na capacidade física da estrela Yifei Liu, como na introdução de uma misteriosa nova vilã feminina (Gong Li).

"Não acredito que Niki quisesse fazer uma nova versão", disse Ma.

"Não era isso que estávamos a tentar fazer. Queríamos conectar com a balada original. Adoro as músicas... mas não era nosso objetivo aqui", salientou.

As críticas iniciais foram cautelosamente positivas: muitos elogiando os visuais impressionantes do filme e a disposição de se desviar da animação, mas alguns criticando a falta de emoção ou humor no argumento.

Para o elenco, depois de meses no limbo, o tão esperado lançamento de "Mulan" é motivo de comemoração.

"Há tanto tempo que sinto que o filme estava 'enjaulado' e precisava ser lançado. Ele precisava ganhar asas... e permitir que as pessoas vissem em qualquer formato", diz Lee.