A caminho dos
Óscares 2024
De segunda à sexta-feira, Scott George oferece estadia a preços acessíveis às famílias indígenas de Oklahoma. Durante os fins de semana, canta em danças tradicionais da Nação Osage.
Mas terá que interromper a sua rotina no mês que vem para viajar a Hollywood para a entrega dos Óscares, onde a canção que escreveu para Martin Scorsese competirá com as de Billie Eilish, Mark Ronson e Jon Batiste por um prémio da Academia.
"Acredito que poderia usar a palavra surreal", disse George à France-Presse.
"Mas já não sei o que significa comparado com isso", notou.
"Embora me levante com ela todos os dias, a música é algo apenas dos fins de semana", acrescentou.
George é membro da Nação Osage, cuja trágica história é a história central de "Assassinos da Lua das Flores", dirigida por Scorsese.
O filme, que competirá por dez estatuetas na cerimónia de 10 de março em Los Angeles, conta a história de como os Osage enriqueceram com o petróleo no começo do século passado para depois serem explorados e assassinados por seus vizinhos brancos.
A produção contou com a estreita colaboração dos Osage e foi filmada no coração da sua terra.
A banda sonora foi composta pelo falecido Robbie Robertson, de raízes indígenas, e a sua atriz principal, Lily Gladstone tem antepassados da Confederação Blackfoot e dos Nez Perce.
Mas Scorsese estava decidido a contar com uma canção osage autêntica para concluir o seu drama.
George recorda que um dos seus colegas viu o cineasta numa dança cerimonial, durante um descanso entre tomadas durante a rodagem.
"Foi como 'Caramba, [ele] está a ver-nos'", disse George. "Por isso, quando nos perguntou sobre a canção, ou sobre acrescentar uma canção, sabíamos o que queria".
Mesmo assim, a resposta inicial foi negativa. Muitas canções osage contêm os nomes de antigos guerreiros de há dois ou três séculos.
"São nossos. Isso pertence-nos. E dissemos 'Bem, não podemos dar-lhe isso. Podemos fazer algo próximo, mas não isso'", explicou George.
"Foi assim que isso começou. Começámos a compor a nossa canção para ele", recordou.
O resultado foi "Wahzhazhe (A Song of My People)", um poderoso hino de seis minutos e meio com percussão dramática e letra que encoraja os Osage a erguerem-se orgulhosamente depois de terem sobrevivido a tantas dificuldades.
O filme e a canção chegaram num bom momento para os anciãos que estavam numa campanha para educar os mais jovens sobre a sua história, e para lhes recordar a sua existência.
"Ainda estamos aqui, não somos relíquias", disse Geoffrey Standing Bear, chefe da Nação Osage.
"Não confiamos nos forasteiros por causa da nossa história. Mas Scorsese e a sua equipa mostraram-nos que confiam em nós, e nós neles", disse.
"Por isso, quando vê as nossas cerimónias e outras atividades e escuta a música, é osage (...) Essas canções são poemas".
Apesar de ter entrado nas 15 pré-nomeações aos Óscares da categoria em dezembro, a canção não era considerada favorita. Por isso, a nomeação a 23 de janeiro foi recebida com euforia.
"Não é genial? Para mim, ser nomeada por interpretar uma personagem osage é tão importante como se uma pessoa osage também fosse nomeada", disse à AFP Gladstone, que concorre ao Óscar de Melhor Atriz.
Mas para George, ser nomeado para os Óscares não é como se fosse um "feito", porque "não era algo a que aspirava".
"Sinto-me satisfeito dando a minha música ao meu povo", afirmou. "Fora disso, é um pouco delicado".
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