A caminho dos
Óscares 2022
Uma noite por ano, Hollywood recebe todo o glamour dos Óscares, mas diariamente pessoas que vivem nas ruas vão dormir ao seu Passeio da Fama.
Estes mundos totalmente contrastantes encontrar-se-ão no próximo mês graças ao desejo dos realizadores de um documentário de 40 minutos sobre a crise dos sem-abrigo, nomeado às estatuetas douradas, de convidar as suas "personagens" para a passadeira vermelha.
“Espero que no dia da cerimónia possamos mostrar um pouco dessa convivência e consciencializar sobre esta humanidade que está ali, literalmente do outro lado da rua, e que ignoramos há muito tempo”, disse o brasileiro Pedro Kos, corealizador da curta-metragem “Onde Eu Moro” ["Levem-me para Casa" na Netflix em Portugal].
"Esperamos poder levar dois ou três deles connosco", acrescentou o seu parceiro na realização do filme, o norte-americano Jon Shenk, em entrevista à France-Presse.
O documentário seguiu durante três anos várias pessoas sem desabrigadas e em situação de vulnerabilidade em Los Angeles, São Francisco e Seattle.
Mostra de forma íntima as suas rotinas e as suas dificuldades nas ruas, assim como as suas esperanças de sair delas.
Entre as pessoas que acompanham está Luis Rivera Miranda, um homem de meia-idade que tem um cachorro e que começa um romance com uma mulher também sem-abrigo; e Ronnie "Astaire do futuro" Willis, que dança na Hollywood Boulevard à frente de turistas como o seu sustento.
"Ele tem uma história extraordinária: alguém com formação clássica em dança que dançou com Janet Jackson, coreografou o sucesso 'Thong Song'”, de Sisqo, e "viveu tempos muito difíceis, infelizmente, por várias razões", explicou Kos.
Segundo os cineastas, parte do problema é que muita gente vê as pessoas que vivem nas ruas de forma desumanizada e se convence de que elas são as responsáveis pela sua tragédia.
Ao abordar as causas que as empurraram para as ruas, o filme elenca vários fatores, como deficiências, rejeição das suas famílias por serem trans e depressão.
"Esperamos que o documentário possa fornecer uma nova perspetiva, que dê um rosto ao que está a acontecer", continuou Shenk. "Eles são americanos, são nossos vizinhos, têm direitos, são pessoas."
Os realizadores abraçaram as suas personagens e ganharam a sua confiança trabalhando com organizações de apoio aos moradores de rua.
Em vez de entrevistá-las diretamente, Shenk colocou a sua câmara em abrigos onde as pessoas desabrigadas participaram de entrevistas de "análise de vulnerabilidade", e saiu da sala para permitir que discutissem mais livremente a sua situação.
Shenk e Kos não propõem uma solução para esse problema, o que cabe às autoridades dos municípios, mas acreditam que simplificar a enorme burocracia dos programas sociais disponíveis para os sem-abrigo poderia ser um começo.
O documentário aponta que a política de não despejo adotada durante a pandemia da COVID-19 irá expirar em breve, possivelmente agravando ainda mais a crise.
"Não temos dúvidas de que estamos a passar por uma gigantesca crise humanitária nos Estados Unidos", ressaltou Shenk, referindo-se às 500 .
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