Se se pensava que o mega-sucesso planetário dos três filmes de
«O Senhor dos Anéis» abriria todas as portas na altura de adaptar ao cinema o livro anterior da
J.R.R.Tolkien,
«O Hobbit», a realidade encarregou-se de dar uma lição a toda a gente: a produção atrasou tanto que obrigou o realizador
Guillermo del Toro a desistir do projeto e forçar o apenas produtor
Peter Jackson a voltar a assumir as rédeas da saga no cinema.

Jackson apresentou «O Hobbit» na Comic-Con, acompanhado de
Martin Freeman (Bilbo Baggins),
Ian McKellen (Gandalf),
Andy Serkis (Gollum),
Richard Armitage (Thorin Oakenshield) e da co-argumentista
Philippa Boyens. Segundo o realizador, «o Guillermo estava a trabalhar neste filme há 18 meses mas ainda não havia orçamento aprovado, o projecto não tinha tido luz verde, a MGM estava com problemas financeiros e o filme estava parado num limbo, que continuou por três ou quatro meses após o Guillermo ter saído, por não conseguir dedicar mais anos de vida ao projeto. Aí, eu senti que se este filme ia acontecer, eu teria a responsabilidade enquanto produtor de intervir e garantir que as coisas correriam de forma mais suave que no início. E quando arranquei a rodagem, diverti-me muito. Muito honestamente, a maior surpresa que tive foi que, apesar de estar a fazê-lo por um sentido de dever, isso evaporou-se imediatamente assim que cheguei ao set».

A ação de «O Hobbit» precede a de «O Senhor dos Anéis», e conta as aventuras de Bilbo Baggins com Gandalf até ele encontrar o anel e o inevitável Gollum. Tolkien escreveu o livro dirigindo-o à infância, ao contrário do que sucedeu com a trilogia seguinte, criada para um público marcadamente adulto. Jackson sublinhou que «o Tolkien escreveu o livro para crianças e publicou-o em 1936. Mais de 15 anos depois, publicou uma sequela, «O Senhor dos Anéis», que era um épico muito mais denso e com um tom muito diferente. Ora eu queria que os filmes tivessem uma sequência, que pudessem ser vistos lado a lado de forma consistente. E uma das vantagens que tivemos foi ter acesso aos apêndices de «O Regresso do Rei», que são 125 paginas de informação que o Tolkien escreveu para desenvolver «O Hobbit». Esse material era mais negro, mais sério e estava muito mais em sintonia com a trilogia. Por isso, eu fiz uma mistura dos dois: peguei no encanto e no humor de «O Hobbit» e misturei-o com o enquadramento dos apêndices».

E se Ian McKellen e Andy Serkis regressam às personagens que os imortalizaram, a grande adição ao elenco é o britânico Martin Freeman como Bilbo Baggins. Jackson explicou que «nós fizemos audições a muita gente, tínhamos uma ideia em mente do que o nosso Bilbo devia ser e da qualidade que ele devia ter, e para ser muito honesto o Martin esteve sempre no topo da nossa lista. Foi devastador durante algum tempo, porque ele estava já comprometido com a rodagem da segunda temporada da série «Sherlock» [em que o ator interpreta o Dr. Watson, e as datas caiam mesmo no meio da nossa rodagem. Estávamos a tentar pensar num Plano B só que não aconteceu, ninguém trazia as qualidade que ele traria ao papel. Entretanto quando estava na cama às cinco da manhã, tinha feito o «download» do segundo episódio da primeira temporada do «Sherlock» no iTunes, estava a vê-lo no meu iPad na cama e a pensar «mas isto é uma loucura, este é o tipo certo para interpretar o Bilbo, só pode ser este». E levantei-me de manhã, telefonei ao agente dele em Inglaterra e perguntei se havia hipótese dele o fazer se nós parassemos a rodagem por aqueles três meses para ele poder ir rodar a série. E foi o que fizemos, ele era tão importante para nós que fizemos essa paragem».

Freeman ficou radiante com a escolha e rapidamente entrou na família alargada do realizador. «É tudo uma questão de confiança», sublinha. «Ao ver a trilogia «O Senhor dos Anéis», percebi que estava seguro nas mãos dele, que ele não me deixaria fazer figuras tristes e que o resultado será sempre magnifico, até porque ele tem o filme todo na cabeça». Richard Armitage, que interpreta Thorin Oakenshield, o líder dos anões, concorda em absoluto com o colega: «a confiança é essencial, e eu confio no Peter, até porque ele já fez isto várias vezes e está em plena forma».

Para Ian McKellen e Andy Serkis, o regresso às personagens de Gandalf e Gollum não se fez sem alguma trepidação. O primeiro assegura que «nos últimos 13 anos encontrei muita gente que conhece o Gandalf, até melhor do que eu, por isso nunca me afastei verdadeiramente da personagem. Havia uma parte de mim que não queria voltar a fazê-lo, eu sentia que era uma personagem que eu já tinha descoberto e desenvolvido e que achava que não havia muito mais a fazer. Mas estou muito contente por ter regressado, nem que seja para impedir o Dumbledore de ocupar o meu lugar no ranking dos feiticeiros». Serkis tem a mesma experiência: «o Gollum nunca esteve muito longe porque eu sou recordado diariamente de que sou o Gollum, sou confrontado por pessoas que querem falar sobre ele e algumas até que fazem a voz dele melhor do que eu. No início, foi bizarro voltar à personagem, porque senti que estava a fazer uma imitação da imitação que milhares de outras pessoas fizeram de mim».

A chegada à Comic-Con foi, naturalmente um triunfo, e McKellen tem uma explicação: «É muito comovente vir cá e ver tantos fãs apaixonados. Eles parecem ser estranhos e fanáticos, mas a verdade é que nós também o somos. Estes filmes estão a ser feitos pelo maior fã de Tolkien que existe. E pelo maior fã de cinema também».

Finalmente, também discutido na Comic-Con, foi a componente mais revolucionária que o filme terá quando estrear: «O Hobbit» vai ser a primeira longa-metragem da história do cinema a ser filmada e projetada a 48 frames por segundo, o dobro das tradicionais 24 imagens por segundo. O resultado é uma sensação amplificada de realismo, que elimina o chamado «motion blur», o varrimento das imagens em rápido movimento. A primeira projeção de uma cena do filme noutra convenção, a CinemaCon, gerou desagrado na audiência, que considerou que o realismo era tão excessivo que eliminava a «suspension of desbelief» necessária ao funcionamento do cinema.

Jackson respondeu a essas críticas e defendeu o novo sistema. «Eu acho que o conceito dos 48 frames por segundo é excelente, que vai mudar a forma como os filmes são feitos. Acho que é um avanço excepcional no sentido de dar às pessoas no cinema uma experiência imersiva que se sente real, que eles não podem ter nos iPad ou na televisão. É muito importante que utilizemos a tecnologia, enquanto cineastas, para colocar as pessoas novamente dentro das salas de cinema. Eu não queria que as pessoas vissem os 10 minutos de filme na CinemaCon porque tive receio que acontecesse o que aconteceu: as pessoas não escreveram sobre o filme mas sobre os 48 frames por segundo [as imagens apresentadas na Comic-Con não foram em 48 frames por segundo nem em 3D]. Na verdade, ninguém sabe se gosta de um filme assim até o ver no seu ambiente, uma sala de cinema. É uma experiência muito diferente, tal como é tudo aquilo a que nos tenhamos de habituar. Na televisão também passamos de 48 linhas no ecrã para o HD. Acho que a tecnologia deve ajudar o cinema».

«O Hobbit» tem estreia mundial agendada para dezembro de 2012.

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