Uma retrospetiva do trabalho de Agnès Varda, na área da cinematografia e das artes visuais, é um dos destaques da programação da temporada Portugal-França 2022, apresentada hoje publicamente e que envolveu um investimento global de 5,4 milhões de euros.

A apresentação da programação, que terá lugar entre fevereiro e outubro deste ano, decorreu hoje numa sessão em ‘streaming’ a partir do Palácio da Ajuda, em Lisboa, e da Torre Eiffel, em Paris.

Contando com um total de mais de 200 projetos e cerca de 480 eventos, a realizar em 84 cidades francesas e 55 cidades e vilas portuguesas, a programação abrange áreas como os oceanos, a igualdade de género e a juventude, exploradas através de espetáculos, exposições, concertos, conferências, gastronomia e festivais.

O orçamento para esta temporada estimou-se em 3,4 milhões de euros investidos por França e dois milhões de euros pela parte portuguesa, metade dos quais a cargo do Estado e a outra metade de privados, designadamente da Fundação Calouste Gulbenkian.

Um dos destaques desta programação, no âmbito das artes visuais, é a “Retrospetiva Agnès Varda”, que estará patente na Fundação de Serralves - Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, entre 01 de abril de 31 de outubro, apresentando uma mostra alargada do trabalho da artista, não só da sua obra cinematográfica, mas também a sua produção nas artes visuais (fotografia, colagem, videoarte e instalação).

“Viver a sua vida, Georges Dambier e a Moda”, que estará entre 03 de maio e 30 de outubro no Museu Nacional do Traje, em Lisboa, é outra das iniciativas em destaque nesta programação.

Considerando a moda e a fotografia como meio privilegiado de reflexão sobre o tempo e a memória, a exposição apresenta uma seleção de quarenta fotografias que revelam a visão singular do fotógrafo Georges Dambier no contexto da alta costura parisiense dos anos 1950, período conhecido como a “Idade de Ouro”.

As Galerias Municipais de Lisboa – Torreão Nascente da Cordoaria Nacional vão expor o trabalho “Sarah Maldoror: Cinema Tricontinental”, de 08 de setembro a 13 de novembro, a primeira exposição retrospetiva dedicada à obra cinematográfica, teatral, poética e política desta artista, que morreu no ano passado.

Na área do património, o Mosteiro da Batalha e o agrupamento de escolas da Batalha organizam “Arras e Batalha – Um património da humanidade, uma memória comum”, patente de março a dezembro.

Este projeto cruzado apresenta três exposições: “Arras na Grande Guerra e a presença das tropas portuguesas em Artois”; “Louis Lantoine e a sua obra para a memória dos portugueses na Grande Guerra em Artois” e “O Mosteiro da Batalha, o Cristo das Trincheiras e a memória do envolvimento de Portugal na Grande Guerra”.

O Mosteiro de Alcobaça terá patente, entre abril e agosto, a exposição “Entre Claraval e Alcobaça: Os Ciestercienses e a Inovação na Arquitetura Religiosa Europeias dos Séculos XII e XIII”.

Esta mostra pretende evidenciar a relação histórica existente entre Alcobaça e a sua casa-mãe, a Abadia de Claraval (França), em particular ao nível da Arquitetura, com a importação de um modelo tipológico para Portugal, igualmente disseminado por toda a Europa cisterciense.

No campo das artes performativas, a temporada conta com uma “enorme programação”, de acordo com a comissária portuguesa, Manuela Júdice, que destacou iniciativas previstas essencialmente para o Teatro Nacional D. Maria II (TNDM) e Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, e o Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto.

O TNDM apresenta “Saigão”, de Caroline Guiela NGuyen, entre 22 e 24 de abril, e “Ça Ira (1) Fin de Louis”, de Joel Pommerat, de 28 a 30 de outubro, ao passo que o São Luiz levará à cena “Fraternité, Conte Fantastique”, de Caroline Guiela Nguyen, de 26 a 27 de abril.

Quanto ao TNSJ, terá em palco, nos dias 29 e 30 de abril, o espetáculo “Os irmãos Karamázov”, de Sylvain Creuzevault, baseado no romance do russo Dostoievski, das páginas do qual a encenadora retira elementos de uma leitura inspirada em Heiner Müller e Jean Genet, segundo os quais esta obra é acima de tudo “uma farsa, uma bufaria enorme e mesquinha”.

O mesmo teatro apresenta ainda a peça “Ils nous ont oubliés”, de Séverine Chavrier, uma proposta de regresso à obra “La Plâtrière”, do escritor austríaco Thomas Bernhard, em cena nos dias 08 e 09 de julho, e “Oresteia”, de Ésquilo, com encenação de Nuno Cardoso e Catherine Marnas (do Théâtre National de Bordeaux en Aquitaine), uma coprodução bilingue, que estará em cena de 20 de outubro a 06 de novembro.

A abertura oficial da Temporada Cruzada Portugal-França 2022 terá lugar no dia 12 de fevereiro, com um concerto intitulado “La Mer”, na Filarmónica de Paris, a cargo da pianista Maria João Pires, acompanhada pela Orquestra Gulbenkian.

Segundo Manuela Júdice, a abertura da temporada terá ainda “dois momentos” importantes: a exposição “Gérard Fromanger. O Esplendor” no Museu Coleção Berardo, em Lisboa, com curadoria de Éric Corne, e que será inaugurada no dia 16 de fevereiro, ficando aberta ao público até 29 de maio; e a apresentação de Phia Ménard no Teatro Rivoli e no Campo Alegre, no Porto, de 18 a 26 de fevereiro, com uma alargada programação que cruza dança, artes visuais, teatro e circo contemporâneo.

Durante a apresentação da programação, a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, destacou que esta programação, desenhada em contexto pandémico, pretende aproximar reciprocamente os dois países e reforçar os laços de cooperação, lembrando que Portugal e França trabalharam de “forma muito próxima com o objetivo de centrar e reforçar o papel que a cultura tem para o desenvolvimento da economia e da sociedade”.

“Hoje, mais do que antes, a cultura, particularmente atingida pelo contexto pandémico, tende a ocupar o papel principal no quadro de relançamento das nossas economias. A Europa vive um momento de retoma decisiva para o futuro coletivo, sustentado pelo maior pacote de apoio financeiro para o setor cultural e criativo jamais aprovado no quadro europeu”, sublinhou.

No que respeita à programação, Graça Fonseca deu ênfase ao concerto de Maria João Pires com a Orquestra Gulbenkian e à exposição “Tudo o que eu quero – Artistas portuguesas 1900-2020”.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lembrou, por seu lado, os laços já existentes entre Portugal e França, nomeadamente nas áreas da defesa dos oceanos, da ação climática ou da relação entre Portugal e África, destacando sobretudo os laços “económicos, culturais e populacionais”.

“A França é o segundo cliente e o terceiro fornecedor de bens para Portugal. Há mais de um milhão de portugueses e lusodescendentes que vivem em França, a França é um dos países do mundo em que mais se fala a língua portuguesa e mais se ensina e estuda a língua portuguesa”, afirmou.

Para o ministro, esta organização conjunta da Temporada Cruzada é a “melhor forma que há” de, através da cultura e da criação, desenvolver os laços já existentes e “reforçar esta proximidade cada vez maior” entre os dois países.

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