"A Forma da Água" lidera nomeações aos Óscares: conheça as principais surpresas e confirmações

L.S.

Nuno Antunes

23 jan 2018 13:22

Atualidade

Este artigo tem mais de 6 anos

A caminho dos

Óscares 2018

Acabaram as incertezas e previsões na corrida: chegaram as nomeações para a 90ª cerimónia dos Óscares. "A Forma da Água" foi o título mais ouvido durante o anúncio das nomeações em Los Angeles. Em destaque estão ainda outros favoritos da temporada como "Três Cartazes à Beira da Estrada" e "Dunkirk".

Já são conhecidos os nomeados: VEJA AQUI A LISTA COMPLETA

Após quase quatro meses de escândalos sexuais, listas de melhores filmes e atores do ano e várias cerimónias de prémios, a corrida aos Óscares vai começar a sério.

"A Forma da Água", descrita no Festival de Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro, como "uma fábula magistral e delicada sobre o amor" e o melhor trabalho do realizador mexicano Guillermo del Toro desde "O Labirinto do Fauno" (2006), surge com umas impressionantes 13 nomeações (o recorde permanece nas 14 de "Eva" (1950), "Titanic" (1997) e "La La Land" (2017).

A história de amor entre uma funcionária muda de um laboratório secreto do governo dos Estados Unidos e uma criatura anfíbia presa num tanque de água, está nomeada para Melhor Filme, Realização, Atriz (Sally Hawkins), Ator Secundário (Richard Jenkins), Atriz Secundária (Octavia Spencer), Argumento Original, Direção Artística, Fotografia, Montagem, Guarda-Roupa (da responsabilidade de Luís Sequeira, filho de portugueses que emigraram para o Canadá), Banda Sonora, Mistura de Som e Efeitos Sonoros.

As nomeações em 24 categorias para a 90ª cerimónia arrancaram às 5h22 da manhã em Los Angeles, 13h22 em Portugal Continental, transmitidas em direto do Samuel Goldwyn Theater, com o diretor de fotografia John Bailey, eleito presidente da Academia em agosto de 2017, a introduzir os atores Andy Serkis e Tiffany Haddish, que fizeram as apresentações ao vivo (com a segunda a "assassinar" os nomes de vários dos nomeados), divididas em duas partes, com introduções pré-gravadas das categorias feitas por vários atores.

Após semanas em que o favoritismo e outros prémios têm sido divididos entre "A Forma da Água" e "Três Cartazes à Beira da Estrada", a lista é o sinal mais claro das preferências do interior de Hollywood.

Com oito nomeações e em segundo lugar ficou "Dunkirk", o filme de Christopher Nolan que retrata um dos momentos mais importantes da Segunda Guerra Mundial — a evacuação de mais de 330 mil soldados ingleses e franceses derrotados pelos alemães encurralados na cidade no norte da França, em Nord-Pas-de-Calais. Tal com se esperava, o domínio é nas categorias técnicas, sem conseguir colocar qualquer ator na corrida.

"Três Cartazes à Beira da Estrada", a história de uma mulher que depois de meses sem ser encontrado o culpado do homicídio da sua filha, faz uma jogada ousada ao alugar três cartazes com uma mensagem polémica dirigida às autoridades, surpreendentemente falhou a realização de Martin McDonagh mas domina as categorias principais com sete nomeações: Melhor Filme, Atriz (Frances McDormand), Atores Secundários (Sam Rockwell e Woody Harrelson), Argumento Original, Montagem e Banda Sonora.

Na corrida à estatueta principal surgem ainda "A Hora Mais Negra" e "Linha Fantasma" (seis nomeações), "Lady Bird" (cinco), "Chama-me Pelo Teu Nome" e "Foge" (quatro) e "The Post" (apenas duas).

De fora do grupo principal ficaram "Amor de Improviso", "Eu, Tonya", "Jogo da Alta-Roda", "The Florida Project" e "Mudbound".

As estrelas na corrida

A lista divulgada evita o ressurgimento da polémica #oscarsnotsowhite e até coloca Greta Gerwig como a quinta mulher a ser nomeada para o Óscar de Melhor Realização em 90 anos de Óscares (Kathryn Bigelow foi a única vencedora, por "Estado de Guerra"). A nomeação é por "Lady Bird", sobre uma adolescente a tentar descobrir o que quer ser na vida adulta.

A ela juntam-se na categoria del Toro, Christopher Nolan, Jordan Peele ("Foge") e, numa surpresa, Paul Thomas Anderson ("Linha Fantasma"). Além da ausência de Martin McDonagh, também não se ouviram aqui os nomes de Luca Guadagnino ("Chama-me Pelo Teu Nome") ou Steven Spielberg ("The Post").

Timothée Chalamet ("Chama-me Pelo Teu Nome"), tornou-se, aos 22 anos e 27 dias, o terceiro mais novo de sempre na corrida a Melhor Ator (o recordista, difícil de bater, é Jackie Cooper, que tinha nove anos e 20 dias quando foi nomeado em 1931). A ele juntam-se Gary Oldman ("A Hora Mais Negra"), Daniel Day-Lewis ("Linha Fantasma", a sua anunciada despedida como ator), Daniel Kaluuya ("Foge") e Denzel Washington ("Roman J. Israel, Esq."), com o último a conseguir a oitava nomeação como ator (igualando Al Pacino, Marlon Brando, Jack Lemmon e Peter O'Toole). Os grandes ausentes são James Franco ("Um Desastre de Artista") e Tom Hanks ("The Post").

Com "The Post", Meryl Streep conseguiu a 21ª nomeação da sua carreira e reforçou o seu recorde nas categorias de interpretação. Para Melhor Atriz estão ainda Frances McDormand ("Três Cartazes à Beira da Estrada"), Saoirse Ronan ("Lady Bird"), Sally Hawkins ("A Forma da Água") e Margot Robbie ("Eu, Tonya"). Ficaram de fora por exemplo Jessica Chastain ("Jogo da Alta-Roda"), Michelle Williams ("Todo o Dinheiro do Mundo") ou Judi Dench ("Vitória & Abdul").

Christopher Plummer, designado à estatueta de Melhor Ator Secundário, deverá certamente bater o recorde do profissional contratado a menor distância da respetiva nomeação: ele foi confirmado no filme “Todo o Dinheiro do Mundo” a 8 de novembro de 2017 (em substituição de Kevin Spacey, caído em desgraça pelas acusações de assédio sexual), rodou as suas cenas entre 20 e 29 do mesmo mês, a fita estreou a 25 de dezembro, e a nomeação surge agora, cerca de dois meses e meio após a entrada no projecto. Também nomeados na categoria surgem os já referidos Sam Rockwell, Woody Harrelson e Richard Jenkins, bem como Willem Dafoe. A grande derrota é do filme "Chama-me Pelo Teu Nome", que não conseguiu nomeações para Armie Hammer ou Michael Stuhlbarg.

Entre as atrizes secundárias concorrem Mary J. Blige ("Mudbound"), ainda nomeada pela canção "Mighty River", e Allison Janney ("Eu, Tonya), Laurie Metcalf ("Lady Bird"), Otavia Spencer ("A Forma da Água"), Mary J. Blige ("Mudbound") e, numa surpresa, Lesley Manville ("A Forma da Água"). As ausências notadas são as de Holly Hunter ("Amor de Improviso") e Hong Chau ("Pequena Grande Vida").

Recordes nas categorias técnicas

Durante o anúncio desta terça-feira, o primeiro bloco da apresentação foi mais técnico, com as categorias de fotografia, guarda-roupa, montagem, caracterização, banda sonora, direção artística, curtas (animação e imagem real), mistura de som, efeitos sonoros e efeitos visuais. Após um intervalo, chegaram as nomeações de canção, documentário (longa-metragem e curta), filme de animação e estrangeiro, atores (principais e secundários), argumentos (adaptados e originais), realização e Filme.

"Logan" tornou-se o primeiro filme baseado num "comic book" de super-heróis a ter um argumento nomeado para os Óscares, mas é nas categorias técnicas que surgem números impressionantes: a 51ª nomeação do compositor John Williams ("Star Wars: Os Últimos Jedi), que já tem cinco estatuetas, e a 14.ª de Roger Deakins como diretor de fotografia ("Blade Runner 2049"), que nunca ganhou. E principalmente a presença de Rachel Morrison como a primeira nomeada de sempre pela fotografia, por "Mudbound: As Lamas do Mississípi".

Animação dominada pelos grandes estúdios

Na categoria de Longa-Metragem de Animação, o alargamento do leque de votantes a todos os membros da Academia (antes, a nomeação nesta categoria era exclusiva dos membros do ramo da Animação) levou a uma predominância das produções dos grandes estúdios, num ano em que, paradoxalmente, houve poucos elogios às produções animadas norte-americanas: a excepção é “Coco”, da Pixar, que tem ganho praticamente em todas as cerimónias a que tem concorrido, mas tanto a DreamWorks como a Sony não tiveram grande consenso crítico com “Boss Baby “ e “Ferdinando” mas conseguiram colocar os seus filmes na corrida à estatueta dourada.

Após “O Segredo dos Kells” e “A Canção do Mar”, o estúdio irlandês Cartoon Salon conseguiu a terceira nomeação nesta categoria para “The Breadwinner”, empurrado pela promoção que tem sido feita por Angelina Jolie, como co-produtora. A muito impressionante co-produção europeia “A Paixão de Van Gogh”, totalmente pintada imagem a imagem, foi a quinta nomeada.

Na categoria das Curtas-Metragens de Animação, a Pixar assegurou ainda a nomeação de “Lou”, que antecedeu “Carros 3” nos cinemas.

Melhor Filme Estrangeiro recheado de... favoritos

Na categoria de Melhor Filme Estrangeiro (ou em Língua Não Inglesa), a maior surpresa terá sido a nomeação do libanês “The Insult”, que já tinha brilhado no Festival de Veneza, e a ausência de “Uma Mulher Não Chora”, de Fatih Akin, que acabara de ganhar o Globo de Ouro.

Os restantes quatro nomeados têm sido todos presenças regulares nesta temporada prémios: “Uma Mulher Fantástica”, de Sebastián Lelio, nomeado pelo Chile; “Corpo e Alma”, de Ildikó Enyedi, a representar a Hungria e que conquistou o Urso de Ouro no Festival de Berlim; “Loveless – Sem Amor”, de Andrey Zvyagintsev, designado pela Rússia, que conquistou o Prémio do Júri em Cannes (e que estreia em Portugal a 1 de fevereiro; e “O Quadrado”, de Ruben Ostlund, nomeado pela Suécia, que já ganhou a Palma de Ouro de Cannes e os principais troféus dos Prémios do Cinema Europeu, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Realizador.

And the Oscar Goes To...

Nas próximas semanas, todas as atenções vão estar à volta dos nomeados e de como, após a manifestação dos vestidos de preto nos Globos de Ouro, a cerimónia de 4 de março, a segunda consecutiva com Jimmy Kimmel no papel de anfitrião, vai apresentar a posição da indústria após os escândalos sexuais que a atingiram nos últimos meses e os movimentos Time's Up e #MeToo que surgiram contra os abusos.