Apesar de ter sido realizado por George Clooney e protagonizado por Tye Sheridan, "The Tender Bar" arrisca-se a ser mais falado pela interpretação de Ben Affleck. É isso, aliás, que já está a acontecer, com a nomeação do norte-americano para Melhor Ator Secundário na mais recente edição dos Globos de Ouro a sugerir que será esse o maior trunfo deste drama modesto e caloroso na temporada de prémios (leia a crítica do SAPO Mag).
Affleck encarna o tio do jovem protagonista num relato inspirado no livro homónimo e autobiográfico de J. R. Moehringer, editado em 2005. "The Tender Bar" acompanha os primeiros anos do escritor e jornalista, da infância à entrada na idade adulta, com a revelação Daniel Ranieri a vestir a pele da personagem nas cenas em que esta ainda era criança e Ron Livingston enquanto narrador.
Maioritariamente ambientada nos subúrbios de Long Island durante os anos 1970 e concentrando-se em especial na esfera familiar do protagonista, a nova obra do realizador de "Boa Noite, e Boa Sorte" (2005) ou "Nos Idos de Março" (2011) é uma crónica afetuosa que não se desvia muito de matrizes clássicas de histórias coming of age.
Lily Rabe, o veterano Christopher Lloyd ou a estreante Briana Middleton são outros nomes do elenco e Affleck realça a direção de atores de Clooney. "Uma das suas muitas qualidades é a forma como compreende profundamente os atores e os ajuda a dar o seu melhor. Tem uma tremenda afinidade e paixão pelos atores, e isso nota-se. (...) A minha interpretação beneficiou muito da sua experiência, sabedoria e talento".
Tye Sheridan também destaca o papel do realizador como guia para a construção da sua personagem, partilhada com Daniel Ranieri. "Estávamos a filmar ao mesmo tempo, foi como se estivéssemos ambos a construir uma personagem em simultâneo e o George estivesse ao leme, a dirigir-nos e a garantir que estávamos a seguir na mesma direção", explica.
"Se fosse uma adaptação fiel do livro, o filme teria uma criança, um adolescente e um jovem adulto", conta o argumentista William Monahan ("The Departed: Entre Inimigos"). "Mas um deles tinha de ficar de fora, e teve de ser o adolescente. Tentei fazer com que funcionasse só com a criança e com o estudante de faculdade", assinala, uma vez que o guião foi substancialmente mais curto do que o romance. "Pegas num livro de 400 ou 500 páginas e tens de o reduzir a 115 ou 120 páginas", acrescenta.
Tudo em família
Depois de uma interpretação surpreendente em "O Último Duelo", filme medieval de Ridley Scott estreado no ano passado, Ben Affleck dá aqui provas de uma versatilidade que talvez muitos não esperassem há algumas décadas, na fase inicial da sua carreira. Charlie Moehringer, tio sempre disposto a ouvir e aconselhar o sobrinho, muitas vezes no balcão do bar do qual é dono (daí o título do livro e do filme), acaba por ser o pilar emocional do protagonista - além de o iniciar na descoberta da noite ou da literatura. E a sua postura descontraída, atenta e aberta não é estranha a uma das principais referências pessoais do ator.
"O meu pai também era auto-didata, não foi para a universidade mas interessava-se muito pela linguagem, pela escrita, pela forma de contar uma história, e passou-me esse gosto. E mostrou-me que não era preciso ser-se uma pessoa chique, ou rica, ou ter estudado numa boa escola, para utilizar bem a linguagem e para a compreender. O poder de contar uma história está disponível para todos, de uma forma incrível e democrática", aponta.
"Há muitas alturas em que nos sentimos estagnados na vida, numa encruzilhada, com uma necessidade desesperada de aconselhamento, ou de alguém que nos desperte. E acho que o tio Charlie faz isso a vários níveis neste filme", salienta Tye Sheridan, que diz ainda que essa personagem mostra como "as referências são importantes nas nossas vidas, como nos podem guiar ou magoar".
Lily Rabe também destaca uma referência familiar decisiva para a construção da sua personagem, Dorothy Moehringer, a mãe do protagonista. "Estas fases da vida que atravessamos, nas quais parece que estamos à espera que coisas boas aconteçam, de perceber quem somos, de perceber o que amamos, de perceber o que vamos fazer a seguir, entre separações ou entre empregos, ou na idade que o J.R. tem no filme... a minha mãe foi brilhante em fazer-me compreender que há muita vida nesses momentos de transição, há muitas oportunidades para nos sentirmos felizes nesses momentos de espera quando somos novos e ao longo das nossas vidas", lembra. "A minha mãe era muito diferente da Dorothy. (...) Mas essa foi uma qualidade notável dela que espero ter incorporado na minha interpretação".
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