O festival suíço começa na quarta-feira e Pedro Cabeleira, 25 anos, vai lá estar para mostrar "Verão Danado" na competição "Cineastas do presente", dedicada a primeiras obras. O prémio máximo, para melhor realizador, tem um valor monetário de 35 mil euros.

Em entrevista à agência Lusa, Pedro Cabeleira mostrou-se entusiasmado com a seleção para Locarno - "é do caraças estar lá!" -, mas para ele o mais importante foi ter conseguido fazer o filme, ao longo de três anos, quase sem dinheiro e com a carolice de atores e técnicos.

"O filme foi feito com pessoal da nossa idade, que tinha acabado a escola. Houve essa energia que foi contagiante entre uns e outros, principalmente entre os atores. Faziam 20 papéis no filme. Houve esta luta que não foi só minha. Foi uma luta de muita gente para que isto acontecesse", contou.

O fio condutor é a personagem Chico (o ator Pedro Marujo), um jovem licenciado em Filosofia que parte para Lisboa à procura de trabalho e divaga com amigos e desconhecidos, entre excessos de festas e drogas.

Sobre a personagem e sobre o espírito do filme, Pedro Cabeleira fala em intensidade, espontaneidade e sinceridade em retratar um tempo e rejeita qualquer pretensão de traçar "um retrato geracional".

"O meu objetivo acima de tudo era, pessoalmente, tentar encontrar uma espécie de reconciliação com o pessoal da minha idade, que se reconciliassem com o cinema português. Até pessoal que não seja cinéfilo e vá de repente descobrir um filme de um puto novo, que é da idade deles, e que está a fazer uma coisa sobre eles, de certa maneira", resumiu.

O facto de ter o filme em Locarno dá-lhe outra visibilidade. "Verão Danado" tem assegurada distribuição internacional pela Slingshot Films e portuguesa pela plataforma digital Filmin, possivelmente a partir de outubro em cine-teatros e auditórios, mais próximo dos espectadores.

Pedro Cabeleira é agora realizador por culpa dos pais, mas na verdade o grande sonho chegou a ser o futebol, quando era guarda-redes no Clube Amador de Desportos do Entroncamento, cidade onde nasceu.

"Cinema sempre foi uma coisa que adorei, mas estava em segundo plano. Eu não sabia muito de cinema, eu gostava de ver filmes", recordou, agradecendo aos pais a sugestão da Escola Superior de Teatro e Cinema e que o levou a mudar-se para Lisboa. "Eu nunca viria por iniciativa própria".

Durante um ano, Pedro Cabeleira disse que "engoliu tudo o que havia para engolir sobre cinema" e conseguiu entrar na escola. Ficam as referências a Stanley Kubrick e a Paul Thomas Anderson ou aos escritores David Foster Wallace e Thomas Pynchon e pelo menos uma lição: "Houve muita coisa que vi que me obriguei a gostar, mas nunca mais volto a fazer, porque nos torna um bocado pretensiosos".

E é com muita relutância que fala do cinema português, dizendo que falta ainda um "meio-termo": "Eu acho que não consegui chegar [aí], ainda não sou isso, que é ser uma coisa honesta. Quero que venham ver o meu filme e gostem disto, não é pelos cinco euros ou sete euros. Podem não gostar, mas pronto".

Com "Verão Danado" a chegar ao grande ecrã, Pedro Cabeleira, que cofundou em Lisboa a produtora Videolotion, quer fazer um filme sobre o Entroncamento.

"Pode não acontecer, mas o que tenho vontade é de ir filmar lá para a minha terra. Porque afastei-me quando vim para Lisboa, e de repente quando acabei o filme andava muito deslumbrado com Lisboa e agora estou numa fase em que voltei a retomar a ideia da origem, e a pensar porque é que sou assim", contou.

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