Após 23 anos de existência no mercado e nas mais variadas formas, o fenómeno global originário do Japão que conquistou Mundo (e ainda conquista) tem, por fim, a sua adaptação cinematográfica à moda de Hollywood: descrito como uma alternativa mais bem-comportada de Deadpool, "Pokémon Detetive Pikachu" surge como uma promessa de um novo franchise.

Sabemos perfeitamente que a interação de atores com criaturas "fofas" em CGI nunca deixou boas memórias e o rato amarelo elétrico com a voz de Ryan Reynolds (o nosso Deadpool) não vem fazer diferença, nem sequer quebrar essa "maldição". Mas, verdade seja dita, faz melhor uso da sua matéria-prima do que muito dos enésimos produtos do género que empestam as grelhas televisivas de domingo à tarde.

Não que isso seja caso para ficarmos maravilhados: "Pokémon Detetive Pikachu" é um efeito genérico no mercado cinematográfico, um filme que cumpre os requisitos mínimos (mas nunca vergonhosos) para atrair as multidões cativas deste universo.

Sob a ilusão de um "thriller" para toda a família, onde o "whoddunit" [quem é o culpado] é avistado a quilómetros, tudo decorre como planeado em redor das estrelas tecnológicas que minam tanto a narrativa como o cenário. Evidentemente é isto, uma produção que elabora os seus elipses em prol do “fan service”, dos "easter eggs" e toda uma intenção de expandir um mundo em pré-construção.

Porque o objetivo é criar uma nova saga cinematográfica, capaz de rivalizar com uma indústria tão homogénea com a ditada pela Disney com a Marvel e "Star Wars". Não é criatividade, mas uma proposta mais "diversa" daquela que realmente temos.

Porém, "Pokémon Detetive Pikachu" tem um universo que explicita um cuidado no seu arranque ou não fosse Reynolds (hoje virado estrela inconfundível), a encarnar o favorito dos fãs e monopolizar os gags em prol da sua figura.

Aqui, o ator insere-se como o motor desta máquina (demasiado) oleada para disfarçar um argumento às três pancadas, acompanhado por efeitos visuais que divergem do seu rigor (nota-se a fragilidade de concepção em algumas das criaturas mais elaboradas) e as morais facilmente identificáveis de qualquer protótipo “disnesco”.

Por outras palavras, nada aqui ofende profundamente, nem que se converta num achado do verbo “entreter”. É cinema pastilha-elástica, para mastigar e cuspir de seguida, como muito da indústria que vemos por aí...

"Pokémon Detetive Pikachu": nos cinemas a 9 de maio.

Crítica: Hugo Gomes

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